10 de outubro de 2025
Politica

O limão e a limonada na criação dos filhos

Existe algo em comum entre todos os pais do mundo, independentemente de classe social, cultura ou credo: todos querem ver seus filhos fortes, realizados e felizes. Porém, isso não significa que não cometam erros. Pelo contrário, no afã de querer o melhor para seus filhos, podem ser tanto rigorosos quanto permissivos em excesso. Encontrar a medida certa é um desafio constante.

A ideia deste texto surgiu quando meu filho caçula mostrou um recente lançamento de bichinhos colecionáveis chamados Fugglers. Trata-se de monstrinhos coloridos e simpáticos que são vendidos no formato conhecido como blind boxes (caixas cegas, numa tradução livre). Elas surgiram no Japão, nos anos 1970, como um fenômeno cultural e, no final dos anos 1990, se espalharam pelo mundo.

O segredo e a surpresa ao abrir as caixinhas encantam as crianças. A indústria logo percebeu o pote de ouro que tinha nas mãos e passou a lançar coleções com personagens raros. Essa estratégia ativa o sistema de busca e recompensa do cérebro, liberando dopamina. O resultado é um vício semelhante ao dos jogos de azar. A criançada, obcecada pela ideia de conseguir o brinquedo super-raro para completar a coleção, segue comprando — ou pressionando os pais — para tentar a sorte. Um paraíso para os fabricantes e um inferno para o bolso das famílias.

Lembro que, há muitos anos, quando morávamos em Nova York, o meu filho mais velho ficou fascinado com a coleção dos famosos Looney Tunes, também em blind boxes. Desesperado com os gastos em função dos bonequinhos repetidos, descobri no YouTube que eles tinham pesos distintos. O Frajola pesava cerca de 20 gramas; o Pernalonga, 17, e assim por diante. Eram poucas gramas de diferença, mas suficientes para identificar os brinquedos. Passamos a ir à loja de balança em punho. Para minha surpresa, os vendedores, compadecidos com a situação, aceitavam de bom grado que pesássemos as caixinhas antes da compra. A pesagem virou uma gostosa brincadeira — e também um santo remédio!

Com tudo isso, as crianças puderam completar a coleção sem gastar uma fortuna; aprenderam que é possível encontrar soluções criativas — e éticas — para resolver os problemas da vida e, de quebra; receberam uma boa lição sobre a importância do dinheiro. O episódio das blind boxes foi, sem dúvidas, um exemplo simples, mas poderoso, de como estabelecer limites e educar, transformando um limão amargo em uma doce limonada.

 

 

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