As esmeraldas gigantes e as provas da PF de lavagem de dinheiro nas bets contra o influencer Buzeira
O pagamento das licenças das bets do influencer Bruno Alexxsander Souza Silva, o Buzeira, foi articulado pelo contador Rodrigo de Paula Morgado, o principal alvo da Operação Narco Bet, deflagrada nesta terça-feira, dia 14, pela Polícia Federal.
De acordo com os federais, Buzeira, que foi preso na operação, é um dos maiores destinatários, segundo a PF, dos recursos “provenientes” do contador Rodrigo de Paula Morgado. Ao todo, ele teria recebido R$ 19.778.343,00.
Na casa de Buzeira, a PF apreendeu duas pedras grandes identificadas por um certificado como esmeraldas milionárias. A polícia vai enviar as rochas para perícia para determinar origem e valor. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos acusados.
Ao analisar o papel de Buzeira no esquema criminosa, a PF começou traçando um perfil do acusado. De acordo com os federais, Buzeira “possui expressiva presença em redes sociais, tendo alcançado repercussão na mídia nacional em razão de um aventado ‘presente’ ao jogador Neymar”. Tratava-se de um cordão de ouro avaliado em R$ 2 milhões.
Para a PF, o investigado “é notabilizado também, por promover rifas de alto valor e por ostentar patrimônio de luxo, incluindo veículos importados e joias, em evidente demonstração de padrão de vida incompatível com atividade lícita declarada”. Em seguida, os policiais listaram os indiciamentos e processos existentes contra Buzeira por jogo ilegal, crime contra o consumidor e a ordem tributária e sobre os desvios ne recursos do Corinthians.
É quando a polícia passa a analisar as movimentações financeiras entre o contador Morgado e Buzeira. Para os federais, o contador funcionava como verdadeiro “banco particular” de outros investigados, transacionando valores vultosos em suas contas pessoais e de empresas sob seu controle, realizando ainda conversões em criptomoedas e promovendo repasses a terceiros, tudo a margem do sistema financeiro nacional.
“Chama a atenção o fato de que Rodrigo de Paula Morgado, na qualidade de prestador de serviços, tenha sido o responsável pela transferência do montante à empresa Buzeira Digital, e não o contrário. Tal dinâmica, aliada à ausência de capacidade financeira compatível da empresa e às margens declaradas perante o fisco, evidencia fortes indícios da prática de lavagem de dinheiro”, afirmou o delegado Raphael Soares Astini.
A investigação descreve como Morgado teria estruturado e coordenado transações milionárias destinadas ao setor de apostas on-line, segundo a PF, “utilizando uma rede de empresas de fachada, intermediadores de pagamento e pessoas interpostas para mascarar a origem ilícita dos recursos”.
Os policiais afirmaram à Justiça que em torno do contador verificou-se a participação de centenas de pessoas físicas e jurídicas, entre elas a Buzeira Digital Ltda que estariam sob controle de Morgado ou influência. São citadas ainda a Evipes Soluções em Pagamento On-Line Ltda, Ngx Holding de Participações Societárias Ltda e a Infinity Serviços Administrativos Ltda, que segundo a PF, a exemplo da Buzeira Digital, “operaram como núcleos de dissimulação de valores”.
O delegado afirmou que o Relatório de Inteligência Financeira (RIF), do Conselho de Controle de Atividades Econômicas (Coaf), afirma que Morgado foi responsável por “articular o fluxo financeiro que resultou no pagamento de licenças para casas de apostas”. E cita a Ana Gaming Brasil S.A. (7K.BET) e Multibet, além de movimentações voltadas à “aquisição de imóveis, veículos de luxo e aeronaves, caracterizando nítida fase de integração de ativos ilícitos na economia formal”.
Em um inquérito a parte, os federais fizeram a análise preliminar do material telemático recebido por Morgado. Ali estavam suas conversas com Buzeira. De acordo com esse material, em 04 janeiro 2024, por exemplo, Morgado fez uma transferência milionária para a Integration Empreendimentos Ltda., “referente à compra de imóvel de BUZEIRA, valor que nunca transitou pela conta do influenciador”.
Ainda segundo a PF, há registros de pagamento de R$ 400 mil pela compra de uma lancha, de R$ 210 mil para a empresa Hi Quality Importação e Comércio, e de transferências fracionadas que “somam dezenas de milhões de reais provenientes de remessas em criptomoedas, às margens do sistema financeiro oficial, enviadas por Gustavo Afonso Ribeiro e Lacerda, conhecido como Feio ou Brabo, vinculado à casa de apostas BET7K.
A BET7K seria ligada a Buzeira e estaria em nome de sua mulher. “Constatou-se, ainda, que Morgado orientava e executava manobras para dissimular a origem e titularidade dos valores, que elaborou a nota fiscal de prestação de serviços de R$ 50 milhões emitida pela Buzeira Digital contra a empresa estrangeira SuperBet88 International N.V. — e promovendo a criação de holdings e contratos de ‘sócio oculto’ para blindagem patrimonial”.
Por fim, delegado afirmou que os diálogos indicam para a participação de Morgado na compra de empresas como a RR Participações e Intermediações de Negócios S/A, adquirida por R$ 5 milhões com o objetivo de obter licença de operação para as plataformas BRX.BET e RICO.BET, pertencentes de fato a Buzeira.
“Também foi identificado o envolvimento de ambos na constituição de novas empresas, como BRX Gaming, Bilibank, Vision Farma e Adega Roleta, com estruturação societária possivelmente voltada à ocultação de bens.” Em função disso, a PF pediu e obteve na Justiça o sequestro e o bloqueio de bens dos investigados e das empresas citadas até o valor de R$ 631.810.000,00.