22 de outubro de 2025
Politica

O último show de Barroso foi homenagem ao personalismo e expôs o vício do STF

Lula – assim se planta – indicaria Jorge Messias ao Supremo na sexta passada. Não o fez porque informado de que Luís Roberto Barroso, tutor-educador de eleitos, armaria seu show derradeiro. Não deu outra, o pavão, aquele que nos protege de nós mesmos, deixando o seu voto – ato final do artista – no julgamento sobre a descriminalização do aborto até doze semanas de gestação.

A forma importa. Voto publicado à última hora, ao apagar das luzes. Isso depois de reter o processo por dois anos, sua presidência adentro, período no curso do qual, sendo o senhor da pauta, algumas vezes disse que não colocaria a ação para jogo porque o país, tribunal incluído, não estaria preparado.

Barroso pediu sessão virtual só para apresentar seu voto de última hora no processo sobre descriminalização do aborto
Barroso pediu sessão virtual só para apresentar seu voto de última hora no processo sobre descriminalização do aborto

Nada mudou, senão a decisão de Barroso – o único fato novo – por se aposentar, razão suficiente para, em questão tão controversa, ignorar o próprio juízo e esgarçar ainda mais um tecido social já descosturado. Currículo, o que acha que ergueu, em primeiro lugar; depois, bem depois, o tema que fantasia impor ao Congresso reacionário.

Reacionário ou não, o Congresso é o locus, segundo as prerrogativas que a República distribui, para formulação e ajustes das leis. E a omissão parlamentar, uma posição – não raro expressiva das divergências na sociedade.

Tema divisivo, matéria legislativa, que – o STF estabelecido, imposto mesmo, como terceiro Parlamento – a vaidade nem sequer considerou debater no plenário físico, reunido todo o colegiado, expressão máxima do tribunal. Não. Barroso preferiu reforçar a individualidade que produzira o vício monocrático vigente. Preferiu a coreografia de clubinho, submetido assunto tão delicado à escritura da biografia que supõe constituir para si. Quis lacrar. Fazer história, deixar legado, como aquele moleque que solta um pum, fecha a porta e sai correndo.

Tudo combinado, ensaiado, numa homenagem ao personalismo que expõe a Casa e a causa: Barroso solicitou sessão virtual extra aos 45 minutos do segundo tempo, o amigo presidente Fachin lhe deu o presente-palco de despedida, ele votou – e então o decano Gilmar Mendes pediu destaque e interrompeu o julgamento.

Estava óbvio e se podia cantar – como fizemos no Estadão Analisa – que o exibido assim procederia: juiz de Corte constitucional que zela antes e sobretudo pela própria imagem, e cuja guarda da Carta sempre foi subordinada aos efeitos dos ventos conforme vistos no espelho, é o suprassumo da previsibilidade.

Alguém com esse comportamento não vota, não considera consequências. Atua. Baila. É um balé. Arte de solista, macho egoísta cujo teatro irresponsável – nessa forma fragmentada, com mais um votinho pingado no escuro – só facilita a organização-reação do Congresso que pretendeu vencer. Que pretendeu vencer, depois de lustrar o busto que imagina esculpir para si.

 

 

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