23 de outubro de 2025
Politica

‘É questão constitucional’, diz advogada que propôs ao STF descriminalizar aborto

A advogada Luciana Boiteux, autora da ação que pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a descriminalização do aborto até 12 semanas de gestação, defendeu nesta terça-feira, 21, que a Corte leve a discussão para o plenário físico. “É uma questão constitucional, não da vontade do povo”, disse Boiteux à Coluna do Estadão. Ela avalia haver espaço para convencer os ministros do Supremo a aprovarem a medida.

Na última sexta-feira, 17, o ministro Luís Roberto Barroso votou favoravelmente à ação, em seu último dia no STF. A ministra Rosa Weber usou a mesma estratégia em 2023, quando estava prestes a se aposentar do tribunal. Só há esses dois votos no processo.

O julgamento, em formato virtual, está paralisado, desta vez a pedido do ministro Gilmar Mendes. Não há previsão para que a discussão seja retomada. Hoje, o aborto é crime no Brasil, ressavaldas três exceções: gravidez decorrente de violência sexual; feto anencéfalo; e risco de vida à gestante.

Boiteux foi uma das advogadas do PSOL que protocolaram a ação no STF, em 8 de março de 2017, no Dia Internacional da Mulher. Ex-vereadora carioca, ela é professora de direito penal da Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutora na área pela Universidade de São Paulo.

“Afirmar que a população não tem condições de avaliar, que o Supremo não está maduro… A ação é de 2017. Vamos esperar dez anos? É uma questão constitucional, não é uma questão da vontade do povo. O papel do STF é diferente do Parlamento. O Supremo existe para ser contramajoritário e pautar os direitos fundamentais”, disse a advogada.

Para Boiteux, o julgamento está em aberto. Ela só prevê votos contrários de três ministros: André Mendonça, Nunes Marques e Luiz Fux. “A gente quer disputar as opiniões dos ministros. Nada está definido ainda. O ministro Gilmar tem uma grande possibilidade de dar um voto bom para o direito das mulheres. É um ministro muito corajoso e técnico”, completou.

Advogada Luciana Boiteux, professora da UFRJ
Advogada Luciana Boiteux, professora da UFRJ

‘Se homens engravidassem, aborto não seria tratado como crime’, disse Barroso em voto

Em seu voto na última sexta-feira, 17, Barroso afirmou: “Direitos fundamentais não podem depender da vontade das maiorias políticas. Ninguém duvide: se os homens engravidassem, aborto já não seria tratado como crime há muito tempo”.

Um dos cotados para substituir Barroso é o advogado-geral da União, Jorge Messias, que por ser evangélico poderia votar contra a ampliação das hipóteses para o aborto legal no Brasil. O regimento interno do STF prevê que os votos de ministros aposentados valem mesmo após deixarem o tribunal. Com isso, os sucessores ficam impedidos de votar.

 

 

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