27 de outubro de 2025
Politica

‘O governo Lula, hoje, é a noiva bonita e todo mundo quer estar ao lado dela’, diz Celso Sabino

BRASÍLIA — Decidido a ficar no governo mesmo sob risco de expulsão de seu partido, o União Brasil, o ministro do Turismo, Celso Sabino, admite que a retomada da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva facilita a adesão ao projeto do PT porque muda totalmente o cenário político. No seu diagnóstico, apesar de enfrentar ameaças de divórcio, Lula conta com a retomada da popularidade como trunfo para atrair aliados, até mesmo do Centrão, nas eleições de 2026.

“O governo Lula, hoje, é a noiva bonita e todo mundo quer estar ao lado dela”, diz Sabino nesta entrevista ao Estadão. O ministro enfrenta processo no Conselho de Ética do União Brasil por ter descumprido o ultimato de entregar o cargo, após o partido anunciar o rompimento com o Palácio do Planalto, mas afirma que não poderia sair assim.

Celso Sabino diz que a popularidade de Lula está agora em outro patamar e ajuda a atrair integrantes do Centrão para a campanha de 2026
Celso Sabino diz que a popularidade de Lula está agora em outro patamar e ajuda a atrair integrantes do Centrão para a campanha de 2026

“Quando você fala do primeiro escalão, de um ministério, você não está falando da administração de uma quitanda da esquina. Nada contra as quitandas da esquina, mas a gente tem projetos que estão em andamento”, afirma.

Pré-candidato ao Senado pelo Pará, Sabino diz que “não seria corajoso nem responsável” abandonar o barco de Lula nesse momento, faz mistério sobre a provável mudança de partido e conta que está tentando atrair pedaços do Centrão para a campanha do presidente .

Para o ministro, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, vai acabar saindo do União Brasil porque não será escolhido candidato a presidente. “Ele já bateu 1,5% nas pesquisas?”, ironiza. Sabino também desdenha a possibilidade de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), entrar no páreo. ”Por onde eu ando, nem escuto falar o nome dele”, alfineta.

Filiado ao União Brasil, que desembarcou da base do governo federal, ministro do Turismo escolheu ficar ao lado de Lula após partido dar ultimato para demissão
Filiado ao União Brasil, que desembarcou da base do governo federal, ministro do Turismo escolheu ficar ao lado de Lula após partido dar ultimato para demissão

O senhor decidiu ficar no governo mesmo com a ameaça de expulsão no seu partido e depois de já ter anunciado a saída do Ministério do Turismo. Por que mudou de posição?

Quando você fala do primeiro escalão, de um ministério, você não está falando da administração de uma quitanda da esquina. Nada contra as quitandas da esquina, mas a gente tem projetos que estão em andamento. Fizemos um plano de desenvolvimento do turismo com metas, avaliação de desempenho e resultados semestrais. Não seria corajoso nem responsável abandonar o barco nesse momento crucial. E isso independe de questões partidárias, ideológicas e eleitorais para o ano de 2026.

A sua decisão de ficar no governo é oposta àquela do deputado Pedro Lucas, que, em abril, recusou convite para comandar Comunicações. A cadeira de ministro voltou a ser vantajosa com a recuperação da popularidade do presidente Lula?

Hoje (a cadeira de ministro ficou) mais (vantajosa) porque a popularidade do presidente aumentou. O Brasil nunca viveu um momento como está vivendo hoje no turismo. A gente tem hoje o maior número de brasileiros viajando dentro do Brasil, a maior movimentação da história nas rodovias federais, nos terminais rodoviários, nos portos, nos aeroportos. O Brasil nunca tinha alcançado a marca nem de 6,8 milhões de turistas estrangeiros em um ano. E nós batemos, em meados de setembro, 7 milhões. A nossa perspectiva é encerrar o ano com mais de 10 milhões.

Mas o senhor não teme que, com tantos problemas de hospedagem e infraestrutura, a COP-30, em Belém, seja um fiasco?

Colocou-se que as obras não ficariam prontas, e as obras já estão quase todas entregues. Colocou-se que não iria ter infraestrutura em Belém, e nós já estamos vendo a cidade totalmente transformada. Depois levantou-se a questão de que não haveria meios de hospedagem suficientes, e estão aí os meios de hospedagem disponíveis. Depois, que os preços estariam absurdos, e aí já estão os preços todos sendo adequados pelo próprio mercado, sem ter sido necessária intervenção mais forte do governo. As instalações da Green e da Blue Zone estão melhores do que as de Baku e de Dubai. Nós já estamos com mais de uma centena de delegações confirmadas. É uma grande oportunidade para divulgar a nossa Amazônia e mostrar que essa região, além de atraente, também é muito propícia para a realização do ecoturismo sustentável.

A sua expulsão do União Brasil é dada como praticamente certa. O senhor acha que ainda pode reverter essa situação?

Eu não dou como certo porque não é coerente que, para uma pessoa que nunca infringiu nenhuma norma do partido, seja aplicada a pena mais gravosa na sua primeira suposta infração. Sou um dos fundadores do União Brasil. Criei o partido no Pará, meu Estado. Essa é a primeira acusação feita a mim em relação a uma possível infidelidade partidária. No estatuto do nosso partido, nós temos várias possibilidades de punições: suspensão, afastamento, advertência. A pior é a exclusão dos quadros do partido.

Mas o senhor quer ser candidato ao Senado em 2026 e já tem conversado com outros partidos. Pode ir para o PT ou para o PSB?

Vejo que essa nossa pré-candidatura ao Senado tem boa chance de ser viável. Mas não estou, nesse momento, procurando um partido para me filiar nem pensando nas eleições de 2026. Quem sabe, pós-COP, nós comecemos a avaliar outras agremiações. Vários partidos (me procuraram). Para não dizer todos, quase todos.

As críticas de Lula ao presidente do União Brasil, Antonio Rueda, motivaram a decisão do partido de romper com o governo?

Foi decisão açodada e equivocada. Eu nunca vi um partido, a um ano do período eleitoral, já anunciar em que campo não estará. Eu penso que essa decisão deveria ser emanada de uma convenção nacional. Não tem como chegar e dizer: ‘Daqui a 24 horas (tem que sair)’. Eu também sou presidente da ONU Turismo. É a primeira vez na história que um brasileiro preside a Organização Mundial do Turismo e em novembro sou candidato à reeleição.

Como o senhor avalia as declarações do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, seu correligionário, que o chamou de traidor e quinta coluna?

Ele já bateu 1,5% nas pesquisas? Eu acho que o Ronaldo Caiado nem vai permanecer no União Brasil após a decisão do partido de qual candidato vai apoiar para a Presidência porque o nome dele não deve ser selecionado.

Quem deve ser?

Não sei, mas acredito que não será o Ronaldo Caiado. Mas Caiado está fazendo o papel dele. Quer estar na manchete do jornal, quer dar entrevista para ver se ganha mais popularidade. Eu acho que a eleição do presidente Lula está bem consolidada. Todo dia ele ganha mais adesão, mais aprovação.

O Centrão deve ter um candidato único para enfrentar Lula?

Eu tenho ouvido muito falar em candidato de direita, de esquerda, que deveria se encontrar uma alternativa de centro, do centro democrático, do diálogo. E, entre todos os nomes postos aí, na minha leitura, o nome do centro democrático, do diálogo, é o presidente Lula. Ele tem se mostrado como comandante do que eu entendo ser o melhor projeto para o Brasil.

Muitos no seu partido querem que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, dispute o Palácio do Planalto, em 2026. Como o senhor vê essa possível candidatura?

Por onde eu ando, nem escuto falar o nome do Tarcísio.

Mas o senhor está filiado a um partido que possivelmente estará na coalizão do adversário do PT nas eleições de 2026…

Não é unanimidade no União Brasil o pensamento de que o melhor projeto para o País não é o Lula. E eu, como bom brasileiro e bom paraense, sigo resiliente de que há espaço para buscar a conversa, a convergência. Acho, inclusive, que o União Brasil deve assumir a paternidade de toda essa revolução que está acontecendo no turismo do Brasil.

O senhor tem trabalhado para trazer colegas do partido para o lado do governo Lula?

Nós já temos vários colegas no União Brasil e em outros partidos do chamado Centrão que comungam desse mesmo ideal progressista, pró-desenvolvimento do País. Diariamente as adesões aumentam, o caldo engrossa. Você tem a maioria dos Estados do Nordeste, alguns do Norte, do Centro-Oeste, até do Sudeste. E também, claro, ajuda muito o fato de as intenções de voto e da popularidade do presidente (terem aumentado), com os avanços do governo sendo amplamente divulgados.

Há possibilidade de diretórios regionais serem liberados para que apoiem o candidato que quiserem?

A decisão mais acertada, na minha opinião, seria o partido compor chapa com o presidente Lula. Uma segunda alternativa seria liberar os Estados (a fazer as alianças que desejassem) para que pudessem seguir conforme o pensamento majoritário naquela região.

O governo tem sofrido derrotas importantes. As demissões de apadrinhados por deputados do União Brasil e de outros partidos que votaram contra a Medida Provisória alternativa ao aumento do IOF pode afetar ainda mais a governabilidade?

Eu acho que não. A coleção de vitórias é muito maior do que o número de derrotas. A ministra Gleisi (Hoffmann) tem muita capacidade para administrar a relação do governo com o Congresso. Essa medida que ela está tomando (de demissões) deve dar um freio de arrumação para entendermos quem são os membros do Congresso que não querem estar no ano que vem (ao lado de Lula) nem garantir a governabilidade do País, para que a gente abra espaço. O governo Lula, hoje, é a noiva bonita e todo mundo quer estar ao lado dela.

Por quê?

Quem não quer estar do lado dessa noiva? O filho é lindo, todo mundo quer ser o pai. O governo está com índice de popularidade crescente, entregas extraordinárias em várias áreas, na produção de alimentos, no agronegócio, no turismo, na geração de emprego, no combate à fome e à desigualdade. Hoje, o nível de miséria no nosso País é de 3,5%, o menor número da história.

Mas o Centrão não entregou os cargos espontaneamente. Quem fez as demissões foi o governo.

Se o governo estivesse ruim, talvez poucas pessoas quisessem estar ao lado dessa noiva, ou assumir a paternidade desse filho. Mas o governo está indo muito bem. Agora, fica muito difícil você estar em um governo e declarar desde já que no próximo ano não vai estar no projeto do presidente Lula, que não quer estar ao lado das pautas que garantem a governabilidade e a austeridade fiscal. E a gente não pode deixar de prestigiar aqueles que querem estar. Os cargos públicos – que eu prefiro chamar de espaços para ajudar o governo – são limitados.

 

 

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