Boulos é saudado por militantes como sucessor de Lula, com refrão usado em campanhas do petista
BRASÍLIA – A operação das polícias civis e militares contra o Comando Vermelho, no Rio, marcou a cerimônia de posse de Guilherme Boulos na Secretaria-Geral da Presidência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nada falou para não tirar o protagonismo de Boulos.
O novo ministro, porém, não apenas pediu um minuto de silêncio por “policiais, moradores” e todas as vítimas do confronto, que deixou ao menos 119 mortos, como também disse que “a cabeça do crime organizado está na lavagem de dinheiro na Faria Lima”, e não “em um barraco de favela”.
O discurso de Boulos agradou aos movimentos sociais presentes ao Salão Nobre do Palácio do Planalto, onde ele foi saudado pela plateia, nesta quarta-feira, como sucessor de Lula. A cerimônia contou com gritos de guerra sempre entoados nas campanhas do petista. “Olê, Olê, olê, olá, Boulos, Lula”, cantavam os militantes.

Foi a posse de ministro mais concorrida dos últimos tempos. O Salão Nobre ficou lotado: as cadeiras foram ocupadas não apenas por ministros, governadores, senadores e deputados como por militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que no passado foi coordenado por Boulos.
O padre Júlio Lancellotti, conhecido pelo trabalho para ajudar pessoas em situação de rua, e a ex-ministra Marta Suplicy, que concorreu como vice de Boulos na eleição do ano passado à Prefeitura de São Paulo, também estavam na plateia. Militantes de movimentos sociais vestiam camisetas que traziam a inscrição “Revolução Solidária”.
Sem citar o ex-presidente Jair Bolsonaro – condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe –, Boulos disse que, a partir de agora, vai conversar com muita gente, menos com quem “ataca a democracia e trai o Brasil”. “A eles só temos duas coisas a dizer: ‘O Brasil é dos brasileiros e sem anistia’”, afirmou, em tom de voz mais elevado.
Era a deixa para que a plateia puxasse o coro “Sem anistia, sem anistia”. Entregadores e motoristas de aplicativo aplaudiram Boulos quando ele mencionou a importância de dialogar com esses segmentos e também com pequenos empreendedores.
O novo ministro, que substituiu Márcio Macêdo, mostrou ali como pretende dar uma guinada à esquerda no governo. Chamou a jornada de trabalho 6 por 1 de “vergonhosa” e avisou que nenhum ataque ficará sem resposta.
“Se eles são contra o sistema, por que não apoiam a nossa proposta de taxar bilionários e bets?”, provocou Boulos, numa referência aos aliados de Bolsonaro. “Por que não vêm com a gente contra a escala 6 por 1?”
Os militantes capricharam no novo mote: “Guilherme Boulos, venha pra cá, no ministério você vai arrasar”. O ministro do PSOL não escondeu a satisfação. “Nós já amassamos muito barro, já comemos muito quilo de sal juntos”, contou ele.
