Direita quer ‘consórcio da paz’ e transformar crime organizado em terrorismo. Isso resolve o quê?
Assim como a família Bolsonaro deu de presente a bandeira da soberania nacional para o presidente Lula, o governador Cláudio Castro deu a matança do Rio para a direita, e de mão beijada – ou melhor, suja de sangue. O passo seguinte foi criar um “consórcio de paz” com governadores aliados e lutar para classificar o crime organizado como “terrorismo”. Castro, porém, pode ter repetido o erro bolsonarista: exagerar na dose.
A questão da segurança é a maior preocupação do brasileiro e estará no centro das eleições de 2026, a direita defendendo o “prende e arrebenta”, ou o “bandido bom é bandido morto”, e a esquerda sendo acusada de ser “conivente com o crime” e “vir com essa história de direitos humanos para defender bandidos”.

Com a sociedade exausta e irritada, a matança no Rio pode até ser aplaudida no eleitorado. Mas 121 mortos, inclusive quatro policiais em missão? Mais do que no Carandiru? O banho de sangue e os cadáveres enfileirados chocam o mundo (e qualquer pessoa de bem) e não resolvem o problema da (in)segurança. Aliás, como nunca resolveram, inclusive no Rio, onde o crime organizado está cada vez mais audacioso, armado, rico e enraizado nas instituições.
Os mortos, com menor ou maior periculosidade, eram os executores, baratos e descartáveis, que entopem as favelas e servem de escudo para os chefões, que continuam no ar condicionado de suas casas e carros de luxo, confortavelmente infiltrados no setor público e no privado.
É uma guerra. O “bandido” está ganhando e o que deveria ser o “mocinho” está perdendo. Isso, porém, não significa transformar os agentes de Estado em milicianos, levar policiais a agir como criminosos e promover chacinas e execuções a sangue frio, jogando a Constituição, as leis, o devido processo legal e a humanidade para o alto.
O combate ao crime organizado depende de união entre governos federal e estaduais, inteligência, competência, recursos, cooperação internacional, foco no dinheiro e na corrupção, além, sim, de rigor, dureza, ações implacáveis contra os peixes miúdos, médios, grandes e especialmente gigantes. Condescendência, não! Barbárie, jamais!
Lula avalia o tom mais eleitoral, Alexandre de Moraes vai ao Rio e governadores de direita criam o “consórcio da paz”. O País, porém, precisa de um pacto de sobrevivência e responsabilidade baseado na PEC da Segurança, que a oposição ataca com um novo torpedo: o projeto para classificar as organizações criminosas como terroristas. Pode agradar a Donald Trump e Jair Bolsonaro, mas é contra a posição histórica brasileira e mais um tiro n´água no combate real à violência.
 
