CPI do Crime Organizado será mais uma batalha por holofotes na antessala do ano eleitoral
A CPI do Crime Organizado, instalada nesta terça-feira,4, no Senado, é mais uma dessas comissões na qual governo e oposição vão travar um cabo de guerra diante das câmeras, com bate-boca e ranger de dentes, para mostrar que estão fazendo alguma coisa pela população. Na prática, porém, nada se pode esperar de concreto dali.
Às vésperas de um ano eleitoral, e com pesquisas indicando amplo apoio à operação policial contra o Comando Vermelho no Rio, o Congresso se viu na obrigação de jogar para a plateia. Assim também fez o Senado quando barrou a PEC da Blindagem – antes aprovada na Câmara –, que restringia investigações criminais contra parlamentares e presidentes de partidos.
Depois de ter dormido no ponto e conseguido perder o comando da CPI do INSS, desta vez o Palácio do Planalto pôs uma tropa de choque na sessão. Por um voto de diferença, o governo venceu o primeiro round da disputa e emplacou o senador Fabiano Contarato (PT-ES) para presidir a CPI do Crime Organizado.

O desenho da comissão, por sinal, ficou bastante curioso: a vice-presidência acabou entregue ao general Hamilton Mourão. Senador pelo Republicanos, Mourão foi vice de Jair Bolsonaro (PL), mas terminou o mandato isolado dentro do governo. Tanto é assim que seu nome não aparece na ação penal do 8 de Janeiro.
A relatoria da CPI está nas mãos de Alessandro Vieira (MDB-SE), que, a exemplo de Contarato, exerceu o cargo de delegado. É de Vieira o requerimento de criação da CPI, que, antes do massacre no Rio, havia ficado meses na gaveta.
Enquanto o Senado instalava a comissão, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), fazia uma peregrinação em Brasília. Castro pediu que presidentes e líderes de partidos do Centrão o ajudem a derrotar a PEC da Segurança enviada pelo governo Lula.
O dia foi agitado: ainda nesta terça-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes se reuniu a portas fechadas com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Moraes está preocupado com a escalada de violência e o clima de tensão no País justamente no momento em que Bolsonaro (PL) está prestes a ser preso.
Apesar de ter reclamado da falta de apoio do Executivo federal no combate ao crime organizado no Rio, dizendo-se “sozinho”, Castro não quer saber da PEC, sob o argumento de que a proposta fere a autonomia dos Estados.
O governador do Rio é visto em Brasília como um político à beira da cassação. Pré-candidato ao Senado, Castro começará a ser julgado na noite desta terça-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acusado de abuso do poder político e econômico. De qualquer forma, sempre haverá algum ministro que pode pedir vista – mais tempo para análise –, empurrando o desfecho do caso para o ano que vem.
Nos bastidores do Planalto, o pedido de Castro para que o Ministério da Defesa fornecesse blindados da Marinha a operações em áreas sob domínio do Comando Vermelho é tratado com ironia.
“Blindados não são Uber para ir e voltar assim”, disse à Coluna, sob reserva, um auxiliar do presidente Lula. Para que os blindados fossem cedidos, o titular do Rio precisaria solicitar ao presidente a edição de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), mas ele não o fez.
Agora, o PL de Bolsonaro e uma ala do Centrão querem formar uma espécie de bancada da lei e da ordem no Congresso para derrotar o governo na CPI do Crime Organizado, na PEC da Segurança e no projeto de lei antifacção.
Como se vê, a matança no Rio parece ter se transformado apenas em tema de campanha eleitoral.
