CPI do Crime Organizado demonstrará coragem, coerência e humanidade
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado nasce com a firme convicção de que o combate à criminalidade é uma das maiores prioridades do Estado brasileiro. Não apenas porque ameaça a paz e o sossego de cada trabalhador e trabalhadora, mas porque corrói as estruturas da nossa democracia, compromete a confiança da população nas instituições e alimenta um ciclo de medo, desigualdade e impunidade.
Esta CPI tem um compromisso inegociável: investigar com independência, transparência e coragem. Não será uma comissão para fazer espetáculo ou palanque, muito menos para repetir erros do passado. Será uma comissão para ir até o topo da cadeia criminosa, para identificar e responsabilizar não apenas os executores, mas também os líderes, financiadores e cúmplices que lucram com a violência e a corrupção.
Assumo a Presidência com o mesmo senso de dever que sempre guiou minha trajetória pública. Não o faço por vaidade, nem por ambição, mas por responsabilidade: com as famílias que perderam filhos para o tráfico; com os policiais que arriscam a vida diariamente; com os jovens abandonados pelo Estado; e, sobretudo, com o povo brasileiro, que há tanto tempo vive refém do medo.
A segurança pública não pode ser tratada como pauta exclusiva da direita, nem como bandeira de um único campo ideológico. Ela é dever de todos os que acreditam na vida, na justiça e na dignidade humana.
Defendi, por exemplo, o fim das chamadas “saidinhas”, porque considero injustificável a quantidade de benefícios concedidos a quem já foi condenado. Essa posição não é punitivismo, é coerência: justiça sem consequência não é justiça, é descaso. Da mesma forma, apresentei projeto para ampliar o tempo de internação de adolescentes infratores, não por acreditar em punição cega, mas porque progressismo, para mim, não é permissividade. É enfrentar a realidade de frente, com coragem e empatia.
Agora, à frente dos trabalhos da CPI, tenho o dever de conduzi-los com serenidade, firmeza e transparência. Não aceitarei espetáculos, distorções ou populismos. O enfrentamento ao crime organizado exige inteligência, planejamento e seriedade, não pirotecnia.
A recente operação no Rio de Janeiro, a mais letal da história recente, deixou 121 mortos, entre eles quatro policiais. Uma tragédia que não pode ser normalizada. Essas operações revelam a complexidade do enfrentamento a facções que controlam territórios inteiros, ditam regras, cobram pedágios de moradores e impõem o medo como forma de governo paralelo.
Por mais necessárias que sejam as ações policiais, falo com a experiência de 27 anos como delegado que não há o que celebrar na morte de qualquer pessoa. Toda morte, inclusive de criminosos, é evidência de um fracasso do Estado, que falhou antes, durante ou depois da ação. O artigo 144 da Constituição é claro: segurança pública é dever do Estado e direito de todos. Quando o cidadão vive refém do tráfico ou da milícia, é porque o Estado se ausentou.
Quem vive nessas comunidades sabe o que é lutar diariamente para sobreviver. Por isso, muitas vezes, apoia as ações da polícia. Mas é papel do Estado garantir que a presença das forças de segurança venha acompanhada de políticas públicas duradouras. Combater o crime não é apenas prender. É reconstruir cidadania.
O enfrentamento eficaz ao crime organizado precisa ser contínuo e articulado. O poder público deve agir de forma integrada – União, estados e municípios – , com um planejamento que combine repressão qualificada e investimento social. Segurança começa com desenvolvimento, educação, saneamento e oportunidades.
Não acredito em políticas de extermínio. Acredito em políticas de Estado. É preciso fortalecer as instituições, valorizar as polícias, aprimorar a inteligência e unir esforços entre os entes federativos. O crime é organizado, e o Estado não pode continuar desorganizado.
Faço um apelo às lideranças progressistas: é hora de ocuparmos esse debate com coragem, técnica e humanidade. Enquanto o Estado recua, o tráfico avança. Enquanto a política se divide, vidas se perdem.
O Parlamento tem poder para transformar realidades. Que esta CPI não seja palco de disputas vazias, mas um instrumento de reconstrução da presença do Estado onde ele falhou: nas periferias, nas escolas, nas fronteiras, nas famílias que vivem a dor de uma guerra que nunca escolheram travar.
Venho da polícia, mas também venho da fé. E a fé que me move é pela justiça e pela humanidade. Não acredito em pena de morte, mas acredito no cumprimento das penas. Não acredito no ódio, mas acredito na autoridade moral. E, acima de tudo, acredito na coerência como virtude essencial da vida pública.
Segurança pública é um direito do povo e um dever do Estado. Enquanto eu estiver na Presidência desta CPI, o medo não pautará o debate sobre o crime. A verdade será a protagonista.
