6 de novembro de 2025
Politica

Derrotar o crime exige derrubar o muro das ideologias

Se você der um Google nos meus artigos e entrevistas, vai perceber que esse é um tema que venho alertando há anos: a deterioração da política — e, principalmente, do discurso político — causada pela polarização.

Assim como os especialistas em clima, que alertaram por décadas sobre o aquecimento global até que a conta chegou na forma de desastres naturais cada vez piores, eu já falava sobre o enlouquecimento da política muito antes de o Brasil se tornar esse campo de batalha ideológica que ameaça nossa liberdade e ceifa vidas todos os dias.

Mas o objetivo aqui não é dizer “eu avisei”. Há muita gente boa, com quem cruzo dentro e fora dos corredores da OAB, empenhada em desatar esse nó. Eu ainda tenho esperança — e acredito que há caminho. Antes, porém, precisamos dissecar um pouco o cenário atual.

O fato mais recente a incendiar corações e mentes é a megaoperação policial no Rio de Janeiro.

De um lado, o governador do Estado — aplaudido pela maioria da população, inclusive por moradores das comunidades —, mas envolto em controvérsias, questionamentos no TSE e acusações de ter promovido uma chacina.

Do outro, o governo federal, personificado pelo presidente da República, cuja imagem vem sendo associada à leniência com o crime. Frases como “o traficante é vítima do usuário” viraram memes diários e empobreceram o debate público.

Até aqui, nada fora do esperado em uma democracia: opiniões divergentes fazem parte do jogo. O problema começa quando a discussão desce ao nível das ruas sem estar acompanhada de discernimento sobre os fatos — e os marqueteiros entram em campo. Aí o diálogo se perde num terreno escuro, perfumado pelo velho maniqueísmo à brasileira.

Quem é de esquerda, ou quem é de direita, tem se comportado ou se sente obrigado a pensar como o grupo — um comportamento típico de manada, não importa o lado. Assim, tudo o que vem da polícia ou do governo estadual é automaticamente condenado ou qualquer ação da Polícia Federal ou do Judiciário é vista como tentativa de “passar pano para bandido”.

Quando me perguntam se sou de esquerda ou de direita, sempre respondo o mesmo: nem eu, nem você, somos nada disso. Somos pessoas livres, e temos o dever de pensar por conta própria.

Na prática, isso significa que você pode defender políticas liberais na economia, valorizar causas de igualdade racial e de gênero, apoiar as operações policiais no Rio e, ao mesmo tempo, concordar com o governo federal em estratégias colaborativas contra o crime organizado.

E está tudo bem. Porque a maioria absoluta das pessoas pensa assim — de forma mais complexa e menos previsível do que os rótulos admitem.

Toda vez que você terceiriza seu pensamento crítico e adota bandeiras que mal entende apenas para pertencer a um grupo político, enfraquece um pouco mais a cidade, o estado e o país.

Isso porque, em resposta, os políticos também se radicalizam — para agradar ao paladar do eleitorado e garantir votos. O resultado é um círculo vicioso: a população se divide, o discurso se empobrece, e a ação pública perde eficiência.

Mas, segurança pública — no Rio e no Brasil — não se resolve com extremos. A luta contra o crime organizado e pela libertação das comunidades dominadas por milícias e traficantes depende de união, consenso e diálogo. De pontes entre cérebros pensantes, e não de muros ideológicos.

Aos jovens, especialmente: estamos chegando ao fim do ano e, em breve, ao Carnaval.

Se for para se amarrar a um bloco, que seja fantasiado e guiado pela alegria — não pela preguiça de pensar nem pela covardia de destoar.

 

 

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