Prefeito de Sorocaba usou empresa da primeira-dama e igreja dos cunhados para lavar propinas, diz PF
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Apontado como líder de organização criminosa que teria se instalado na prefeitura de Sorocaba, no interior de São Paulo, o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) – afastado do cargo por suspeita de corrupção -, teria usado uma empresa de publicidade aberta em nome da mulher, a primeira-dama Sirlange Rodrigues Frate Maganhato, e uma igreja ligada à irmã e ao cunhado dela para lavar dinheiro de propinas, segundo a Polícia Federal.
As suspeitas levaram o Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF3) a ordenar o afastamento do prefeito para impedir a “reiteração” de desvios na administração municipal.
O desembargador André Nekatschalow aponta que a Manga é atribuída a “possível liderança do grupo criminoso e principal beneficiário das supostas práticas criminosas”.
Nesta quinta, 6, a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Copia e Cola, que mira o prefeito e aliados. Na representação que deu origem à operação, a PF aponta “elevado número de delitos descobertos em razão das provas produzidas”.
Manga nega irregularidades. Em nota, a defesa afirmou que o prefeito é vítima de “perseguição política” e que o afastamento foi baseado em “ilações“.
“A investigação conduzida pela Polícia Federal de Sorocaba é completamente nula, porque foi iniciada de forma ilegal e conduzida por autoridade manifestamente incompetente. Além disso, é fruto de perseguição política, não havendo nada de concreto a relacionar o prefeito nesse inquérito policial”, sustentam os advogados (leia abaixo a íntegra da manifestação).

Em 2021, a empresa de publicidade da primeira-dama, Sirlange Rodrigues Frate – ME, que atualmente se chama 2M Comunicação e Assessoria, fechou um contrato com a Igreja Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus para a prestação de serviços de marketing.
Os pagamentos alcançaram R$ 780 mil, entre fevereiro de 2021 e junho de 2023, segundo a investigação. Ocorre que, no mesmo período, uma outra empresa de comunicação atendia a igreja.
A Polícia Federal afirma que os serviços nunca foram efetivamente prestados e que o contrato de gaveta foi assinado apenas para justificar, no papel, a transferência do dinheiro que teria sido desviado de contratos municipais.
O cunhado da primeira-dama, bispo Josivaldo Batista, e a irmã dela, Simone Rodrigues Frate de Souza, a pastora Simone, estão à frente da Igreja Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus. Em abril, a Polícia Federal apreendeu R$ 903 mil em dinheiro vivo com o casal durante as buscas da Operação Copia e Cola.
A partir da quebra do sigilo bancário da entidade religiosa, a PF identificou 958 depósitos em espécie no valor global de R$ 1,7 milhão. Pelas contas pessoais do bispo passaram R$ 2,6 milhões em 2.221 depósitos em dinheiro vivo no período investigado.
O Estadão pediu manifestação da igreja e dos pastores.

O contrato com a igreja não é o único que a Polícia Federal põe sob suspeita. A empresa da primeira-dama também foi contratada por um estacionamento, o Mosteiro Park, do empresário Marco Silva Mott, amigo do prefeito, para prestar serviços de publicidade.
Sirlange recebeu R$ 448 mil entre 2021 e 2025. Assim como no caso da igreja, uma outra empresa de comunicação prestou serviços ao estacionamento no período.
A PF fez buscas na casa de Marco Mott na primeira fase da Operação Copia e Cola e apreendeu R$ 643 mil em espécie. Ele movimentou R$ 6,5 milhões nas contas pessoais e de sua empresa no período sob investigação.
Simone, Josivaldo e Marco Silva Mott foram presos preventivamente nesta quinta-feira, 6, na segunda fase ostensiva da investigação.
O empresário é apontado no inquérito como “uma espécie de representante do prefeito municipal, com influência sobre a cúpula administrativa municipal“.
Mensagens encontradas no celular de Mott apontam que ele agendou e intermediou ”inúmeras reuniões” na prefeitura, “em seu interesse e de terceiros”, incluindo diversos secretários municipais e servidores públicos.
Uma conversa que a Polícia Federal destaca, de janeiro de 2021, envolve o então secretário de administração municipal, Fausto Bossolo, e menciona “um super negócio para todos”.
Além dos contratos, a PF descobriu a compra, pelo prefeito, de uma casa em um condomínio fechado no bairro Boa Vista, em 2021, por R$ 1,5 milhão. Parte do valor dado de entrada na compra do imóvel foi paga com dinheiro vivo – R$ 182 mil. Os investigadores verificaram, com a quebra do sigilo bancário, que o dinheiro não saiu das contas dele e da primeira-dama. Não houve saques correspondentes no período do pagamento.
O desembargador André Nekatschalow, do TR3, decidiu afastar o prefeito para preservar a investigação.
“Mostra-se necessária, outrossim, a suspensão cautelar do exercício do cargo de prefeito do Município de Sorocaba, exercido pelo investigado Rodrigo Maganhato, ao qual é atribuída a possível liderança do grupo criminoso e principal beneficiário das supostas práticas criminosas, para a garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal, bem como que seja impedido de se aproximar da sede da Prefeitura Municipal de Sorocaba, e de manter contato com servidores públicos municipais e demais investigados”, diz a decisão.
A defesa do prefeito informou que vai recorrer para que ele retome o mandato.
COM A PALAVRA, A DEFESA DO PREFEITO
O prefeito Rodrigo Maganhato, por intermédio dos seus advogados, esclarece que a investigação conduzida pela Polícia Federal de Sorocaba é completamente nula, porque foi iniciada de forma ilegal e conduzida por autoridade manifestamente incompetente. Além disso, é fruto de perseguição política, não havendo nada de concreto a relacionar o prefeito nesse inquérito policial.
Ademais, indiscutivelmente temerário o afastamento do prefeito baseado em ilações sobre supostas irregularidades investigadas.
Os supostos fatos remontam ao ano de 2021, o que demonstra a ausência de qualquer contemporaneidade capaz de colocar em risco a continuidade do exercício do legítimo mandato do chefe do Executivo Municipal. Mandato este, inclusive, conquistado nas urnas, de forma legítima e maciça.
A defesa reafirma sua confiança no pleno restabelecimento da verdade, reiterando que todas as medidas jurídicas cabíveis estão sendo adotadas para corrigir e reformar essa ilegalidade.
A defesa aguarda o fornecimento de cópias para entrar com recurso no Tribunal Regional Federal e uma medida no Superior Tribunal de Justiça para reverter esta decisão.
Daniel Bialski, Bruno Borragine, André Bialski, Flávia Ebaid, Júlia Zonzini, Victória Lee
COM A PALAVRA, A PREFEITURA DE SOROCABA
Em conformidade com a legislação vigente e o princípio da continuidade administrativa, o vice-prefeito Fernando Martins da Costa Neto assumiu, nesta quinta-feira (6), o cargo de prefeito de Sorocaba, até que os fatos sejam esclarecidos, garantindo a plena continuidade dos serviços públicos e o funcionamento regular da Administração Municipal.
A Prefeitura de Sorocaba reforça seu compromisso com a transparência e o respeito às decisões judiciais.
COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS
A reportagem pediu manifestação de Simone e Josivaldo por meio dos canais de atendimento da igreja e busca contato com a defesa de Marco Mott. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).
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