Bispo tinha ‘contabilidade paralela’ de esquema de propinas que afastou prefeito de Sorocaba, diz PF
O bispo Josivaldo Batista, da Igreja Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus, é apontado pela Polícia Federal como operador financeiro do esquema de corrupção atribuído ao prefeito de Sorocaba, no interior de São Paulo, Rodrigo Manga (Republicanos), que foi afastado do cargo por ordem da Justiça Federal.
O Estadão pediu manifestação da defesa do bispo. Ele foi preso preventivamente nesta quinta-feira, 6, na segunda fase da Operação Copia e Cola, que investiga o prefeito e aliados em um suposto esquema de desvios de verbas da Saúde.
Rodrigo Manga nega irregularidades. Em nota, a defesa afirmou que o prefeito é vítima de “perseguição política” e que o afastamento foi baseado em “ilações“.
“A investigação conduzida pela Polícia Federal de Sorocaba é completamente nula, porque foi iniciada de forma ilegal e conduzida por autoridade manifestamente incompetente. Além disso, é fruto de perseguição política, não havendo nada de concreto a relacionar o prefeito nesse inquérito policial”, sustentam os advogados (leia abaixo a íntegra da manifestação).
Josivaldo Batista é casado com a cunhada do prefeito, a pastora Simone Rodrigues Frate de Souza, que também foi presa.

Em abril, a Polícia Federal apreendeu R$ 903 mil em dinheiro vivo com o casal durante as buscas da primeira fase da Operação Copia e Cola. Parte do dinheiro estava em um envelope com a inscrição “Prett”. Segundo a Polícia Federal, trata-se de Fernando Francisco Prette, sócio da empresa Única Sorocaba Vigilância e Segurança Patrimonial, contratada pela prefeitura.
O celular do bispo também foi apreendido pela PF na batida. Os investigadores encontraram no aparelho o que é descrito na investigação como uma espécie de “contabilidade paralela” de propinas supostamente pagas por empresas contratadas pela prefeitura.
A contabilidade estava registrada em um documento de texto no aplicativo de notas do celular de Josivaldo e estruturada segundo “entradas” em “saídas”. O arquivo foi modificado pela última vez horas antes da operação da PF.

As anotações foram feitas em linguagem cifrada e com abreviações. A Polícia Federal acredita que essa tenha sido uma estratégia para ocultar a identidade dos envolvidos no esquema.
“Os lançamentos foram organizados por períodos de tempo variáveis, sem seguir um padrão fixo como semanal ou mensal”, detalha a Polícia Federal.
As “entradas” seriam as propinas. As cifras variam entre R$ 30 mil e R$ 2,8 milhões. E as “saídas” corresponderiam ao dinheiro distribuído a secretários municipais e a aliados do prefeito.
A Polícia Federal afirma que, neste arquivo, não constam repasses ao prefeito. Segundo os investigadores, a contabilidade de Rodrigo Manga era separada para “ocultar, ao máximo“, a participação dele no suposto esquema.
“Os pagamentos que teriam sido feitos para Rodrigo Maganhato não constariam na contabilidade paralela de Josivaldo, mas sim no de sua esposa, Simone Rodrigues Frate de Souza, o que demonstraria uma ação coordenada, para ocultar, ao máximo, a prática delitiva por parte de Rodrigo Maganhato”, diz um trecho da representação que pediu a prisão de Josivaldo e Simone.

A partir da quebra do sigilo bancário da igreja, a PF identificou 958 depósitos em espécie no valor global de R$ 1,7 milhão. Pelas contas pessoais do bispo passaram R$ 2,6 milhões em 2.221 depósitos em dinheiro vivo no período investigado.
Josivaldo e Simone também teriam participação na lavagem das propinas, de acordo com as investigações. Um contrato entre a igreja e uma empresa de publicidade registrada em nome da primeira-dama, Sirlange Rodrigues Frate Maganhato, teria sido usado para justificar, no papel, a movimentação de recursos desviados da prefeitura, segundo a PF.
COM A PALAVRA, A DEFESA DO PREFEITO
O prefeito Rodrigo Maganhato, por intermédio dos seus advogados, esclarece que a investigação conduzida pela Polícia Federal de Sorocaba é completamente nula, porque foi iniciada de forma ilegal e conduzida por autoridade manifestamente incompetente. Além disso, é fruto de perseguição política, não havendo nada de concreto a relacionar o prefeito nesse inquérito policial.
Ademais, indiscutivelmente temerário o afastamento do prefeito baseado em ilações sobre supostas irregularidades investigadas.
Os supostos fatos remontam ao ano de 2021, o que demonstra a ausência de qualquer contemporaneidade capaz de colocar em risco a continuidade do exercício do legítimo mandato do chefe do Executivo Municipal. Mandato este, inclusive, conquistado nas urnas, de forma legítima e maciça.
A defesa reafirma sua confiança no pleno restabelecimento da verdade, reiterando que todas as medidas jurídicas cabíveis estão sendo adotadas para corrigir e reformar essa ilegalidade.
A defesa aguarda o fornecimento de cópias para entrar com recurso no Tribunal Regional Federal e uma medida no Superior Tribunal de Justiça para reverter esta decisão.
Daniel Bialski, Bruno Borragine, André Bialski, Flávia Ebaid, Júlia Zonzini, Victória Lee
COM A PALAVRA, A PREFEITURA DE SOROCABA
Em conformidade com a legislação vigente e o princípio da continuidade administrativa, o vice-prefeito Fernando Martins da Costa Neto assumiu, nesta quinta-feira (6), o cargo de prefeito de Sorocaba, até que os fatos sejam esclarecidos, garantindo a plena continuidade dos serviços públicos e o funcionamento regular da Administração Municipal.
A Prefeitura de Sorocaba reforça seu compromisso com a transparência e o respeito às decisões judiciais.
COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS
A reportagem pediu manifestação de Simone e Josivaldo por meio dos canais de atendimento da igreja. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).
