Lula tem dificuldade para montar palanques fortes em São Paulo, Minas e Rio
BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta dificuldades para montar palanques competitivos que sustentem sua candidatura em São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do País, na disputa de 2026. Além disso, não tem garantia de apoio incondicional no Rio de Janeiro. Até agora, o “Triângulo das Bermudas” – como ficou conhecido o eixo formado por São Paulo, Minas e Rio – é uma equação indefinida para Lula.
Em São Paulo, nenhum nome cogitado pelo presidente deseja entrar no páreo. Lula já sondou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para dois cenários: ser candidato ao Senado ou à sucessão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Haddad disse que não quer disputar eleição em 2026. Ex-prefeito, ele foi derrotado por Tarcísio em 2022 e hoje está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para o Senado.

O Palácio do Planalto e a cúpula do PT apostam no titular da Fazenda para vencer a direita – que tem chance de aumentar suas cadeiras na Casa de Salão Azul – e vão pressioná-lo a aceitar a “missão”.
Ministros do PT e dirigentes do partido argumentam que ninguém melhor do que Haddad para divulgar na campanha o carro-chefe da plataforma de Lula: a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Haddad responde que pode fazer isso sem ser candidato.
O campo bolsonarista, por sua vez, virá com propostas para o endurecimento das forças de segurança após a operação policial contra o Comando Vermelho, no Rio, que deixou 121 mortos.
Antes criticado por uma ala do PT, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) é agora visto como um parceiro importante e fiel, que pode ser deslocado para desempenhar outra função. Mas Lula só abriria mão de fazer dobradinha com Alckmin em 2026 se algum partido grande, como o MDB ou o PSD, exigisse a vice para entrar oficialmente na aliança.
Hoje, porém, não é essa a tendência: os dois partidos têm grupos que vão apoiar Lula nos Estados, mas não querem fazer coligação formal com o PT.
De toda forma, mesmo que concorra novamente como vice de Lula – e não ao Senado, como se cogita –, Alckmin terá de deixar no começo de abril o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que comanda desde o início do governo.
O passe do vice-presidente, que já governou São Paulo quatro vezes, foi ainda mais valorizado após seu papel nas negociações para reduzir o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros.
Alckmin não fala sobre seu futuro político. “Eu vou ser candidato a presidente do Santos Futebol Clube”, desconversa ele, sempre que é questionado a respeito das eleições de 2026.
O vice perdeu eleitores conservadores ao apoiar Lula em 2022 e não quer ir para nova corrida ao Palácio dos Bandeirantes. Já no ministério do Desenvolvimento, o secretário-executivo, Márcio Elias Rosa, deve ocupar a vaga de Alckmin.
O jogo em São Paulo tem, ainda, outra personagem: integrante da equipe econômica, a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), disputará o Senado. O PT deseja que Simone seja candidata por São Paulo, mas, para tanto, ela precisará mudar o domicílio eleitoral, hoje no Mato Grosso do Sul, e até mesmo de partido. Motivo: o MDB não pretende se aliar a Lula.
Na dança das cadeiras, o mais cotado para assumir o Planejamento, com a saída de Simone, é o secretário especial da Casa Civil, Bruno Moretti.
Decisão depende do ‘fator Tarcísio’
O cenário no qual Haddad ou até mesmo Alckmin são considerados para a eleição ao Bandeirantes depende do “fator Tarcísio”. Na avaliação do PT, se o governador deixar o cargo para ser o desafiante de Lula pela direita, a briga em São Paulo ficará mais fácil, mesmo se o prefeito Ricardo Nunes (MDB) for ungido por ele para a sucessão no Bandeirantes.
Caso Tarcísio faça campanha por novo mandato, porém, sua recondução ao posto é dada como “bastante provável” por petistas. Nessa hipótese, o PT pode apoiar a candidatura do ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB) – que foi governador de São Paulo por oito meses, entre abril e dezembro de 2018.
Na prática, o peso de São Paulo e Minas na disputa ao Planalto é decisivo para a vitória. Em 2022, por exemplo, Lula venceu o então presidente Jair Bolsonaro (PL) na capital paulista. Condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe, Bolsonaro está prestes a ir para a cadeia.
“A eleição do ano que vem vai ser resolvida pelos números de São Paulo”, disse o cientista político Antônio Lavareda, do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe). “A necessidade de ter um palanque forte no Estado se justifica por isso”, completou.
Lavareda também destacou que, desde a redemocratização, nenhum concorrente foi eleito presidente da República sem ganhar em Minas Gerais. E lá a situação do PT é ainda mais preocupante.

Lula insiste para que o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) seja candidato ao governo de Minas, mas ele resiste por vários motivos. O primeiro deles é que ainda nutre a esperança de ser escolhido ministro do STF, embora o presidente tenha dito a interlocutores que sua preferência para a cadeira vaga com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso recai sobre o advogado-geral da União, Jorge Messias.
Em segundo lugar, o quadro político que se apresenta hoje em Minas mostra uma consolidação das forças de direita. Ex-presidente do Senado, Pacheco ficou isolado em seu próprio partido, uma vez que o PSD filiou o vice-governador Mateus Simões em um acerto para lançá-lo à sucessão de Romeu Zema (Novo).
O governador, por seu turno, tentará ser candidato ao Planalto ou ao Senado. Diante desse imbróglio, Pacheco terá de mudar de legenda, se quiser ter o nome na urna eletrônica.
Plano B mineiro está no radar
O presidente do PT, Edinho Silva, busca outras alternativas e deve se reunir ainda neste mês com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, que se filiou ao PDT para concorrer ao governo de Minas. Em 2022, Kalil perdeu a eleição justamente para Zema.
A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, lembrou que o PT apoiou Kalil naquele pleito e disse que o Planalto está tentando “reconstruir a relação” com o PDT, antigo aliado. “As diferenças vão se dissipando com o tempo”, afirmou Gleisi. No mês passado, ela participou de um jantar, em Brasília, para comemorar a nova filiação de Kalil.
Os petistas estão em busca de um “plano B” para o caso de Pacheco não aceitar entrar no embate mineiro. Uma ala do partido, porém, já condena a aproximação com Kalil – que havia rompido com Lula – e defende a candidatura da prefeita de Contagem, Marília Campos (PT).
“A prioridade sempre será a montagem do palanque para Lula. As divergências locais terão de ser superadas”, observou Edinho. “Não há presidencialismo de coalizão sem força política. É impossível garantir governabilidade se o PT não ampliar sua bancada e não eleger senadores”, emendou o deputado José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara e coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral do PT.
Líder das pesquisas para o governo de Minas, o senador Cleitinho (Republicanos) ainda não confirmou a entrada no páreo, mas é um “player” do lado bolsonarista.
Na outra ponta, o MDB lançou a candidatura do ex-presidente da Câmara de Belo Horizonte Gabriel Azevedo, fechando portas para Pacheco retornar ao partido. Já o deputado Aécio Neves, que foi governador de Minas por dois mandatos, assumirá a presidência do PSDB e avalia a possibilidade de concorrer ao Senado.
Eduardo vai ter que definir em qual lado da história quer ficar. No sábado, fez declaração de amor ao nosso partido. Dois dias depois, postou uma foto ao lado do Lula
Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara
No Rio, o prefeito Eduardo Paes (PSD), favorito na disputa pela cadeira do governador Cláudio Castro (PL), apoia Lula, mas acena para Bolsonaro. Há duas semanas, ele chegou a dizer que estará com o PL “por amor ao Estado”, mesmo sem fazer declarações apaixonadas a “fulano ou beltrano”.
Paes pretende montar uma frente ampla, reunindo apoio de diversos segmentos, incluindo os evangélicos. Até agora, não há espaço para o PT na sua chapa.
“Eduardo vai ter que definir em qual lado da história quer ficar. No sábado, fez declaração de amor ao nosso partido. Dois dias depois, postou uma foto ao lado do Lula”, criticou o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ). “Mas ele sabe que, com a esquerda, não ganha eleição para governador”.

Sóstenes fez questão de assinalar que, em 2018, Paes liderava as pesquisas, mas foi ultrapassado por Wilson Witzel. Eleito com apoio de Bolsonaro, Witzel acabou cassado e hoje é inimigo do ex-presidente.
A aliança com Paes é rejeitada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que integra a CPI do Crime Organizado e faz campanha pela reeleição. O PT do Rio não tem hoje nenhum senador e quer lançar a deputada Benedita da Silva (RJ), embora o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, tente emplacar Neguinho da Beija Flor.
Alvo de julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso do poder político e econômico, Castro acha que a operação policial contra o Comando Vermelho vai salvá-lo da cassação.
Pesquisas mostram que a maioria da população apoiou o massacre nos complexos do Alemão e da Penha e Castro já ensaia o discurso para concorrer ao Senado, em 2026. Com a iminência da prisão de Bolsonaro, a dúvida, agora, é quem será o candidato à Presidência por esse campo.
