10 de novembro de 2025
Politica

Por que a China?

Nunca tinha ido à China. Tive a oportunidade de viajar a convite da PowerChina, que é a responsável pela implementação de UREs – Unidades de Recuperação Energética e, depois de visitar várias delas, voltei encantado com o gigante asiático.

Sempre alimentei em relação à China a mais agradável das sensações, depois da leitura de vários livros de Pearl S. Buck, (1892-1973), escritora americana que se tornou grande amiga daquela nação. Ao nascer, se chamava Pearl Comfort Sydenstricker, e também se tornou conhecida por Sai Zhen Zhu. Além de escritora, foi eficiente sinologista. Divulgou a China em seu país e no mundo inteiro, porque ganhou o Prêmio Pulitzer de Ficção de 1932 e recebeu o Nobel de Literatura de 1938.

É sempre necessário recordar que o confucionismo e o taoísmo são milenares e marcaram o DNA do povo chinês. Isso faz com que o regime ali reinante não interfira na índole nutrida por uma profunda filosofia de respeito à ancianidade e às tradições, de amor ao trabalho e à disciplina, de cultivo do sentido de responsabilidade solidária pelos destinos do país.

Tudo o que, infelizmente, parece faltar a este nosso país.

É impressionante verificar o que a China conseguiu em algumas décadas. Um país que enfrentou miséria e fome, é hoje um exemplo para o mundo. Encarou com seriedade a questão do aquecimento global e, em poucos anos, eletrificou suas frotas, restaurou suas florestas, cuidou como ninguém de seus descartes.

Envergonha o brasileiro, que convive com a imundície em todos os espaços, constatar que não existe lixo nas cidades chinesas. Todas as que visitei são maiores do que São Paulo: Pequim, Xangai, Xenzhei. Procure por um papel nas ruas, por um pedaço de plástico, por uma garrafa pet, por uma bituca de cigarro. Não encontrará.

As UREs parecem moderníssimos estabelecimentos comerciais muito amplos, muito cleans, arquitetonicamente atraentes. Dentro, ambientes agradáveis e esteticamente elegantes. Bibliotecas, brinquedotecas, exposições de arte. Bares e lanchonetes. Tudo parecendo algo que sequer ao longe recorda uma usina de combustão de lixo.

Não se sente um grau centígrado a mais. A temperatura condicionada é a mais acolhedora. Não se ouve um ruído estranho, senão música. E não se sente o mínimo odor de lixo queimado.

É preciso insistir para enxergar o pequeno orifício por onde se pode enxergar o fogo a mil e cinquenta graus.

Com isso, a China resolveu um problema do qual o Brasil parece não querer se desapegar: o destino dos seus resíduos sólidos.

Para exemplificar, a cidade de São Paulo produz, a cada dia, mais de quinze mil toneladas de resíduos por dia. Embora a coleta seletiva esteja a percorrer todos os logradouros públicos do município, apenas três por cento daquilo que se recolhe chega à reciclagem. 97% vão alimentar aterros sanitários. Camadas e camadas de resíduos se amontoam e crescem assustadoramente. Ocupando áreas de preservação ambiental ou de preservação permanente, cada vez mais raras numa civilização que escolheu a impermeabilização e uma espécie de ecocídio programado.

É mais do que urgente adotar a solução chinesa. Mas adotar também a tecnologia chinesa e o pessoal que vier a implementar a solução aqui no Brasil. Outra vergonha é verificar a lentidão com que se executam obras de infraestrutura aqui no Brasil e a rapidez e eficiência com que os chineses constroem megaestruturas em todas as áreas. Por exemplo, uma ponte de vinte e quatro quilômetros de extensão, edificada em dezoito meses. E pensar que o nosso monotrilho era para a COPA de 2014. Onze anos depois, não está ainda em operação.

Em algumas décadas, a China se livrou da miséria extrema, da fome, de ambiente ecologicamente hostil e se tornou um modelo de civilização. Por que não nos aproximar dela e haurir essa experiência? Não se justifique nossa indigência com a “menoridade” do Brasil. Em quinhentos anos, meio milênio, já era para ter aprendido alguma coisa.

Antes tarde do que nunca. Valhamo-nos da geopolítica atual, que impõe restrições por ideologia e não hesita em ratificar o atraso de uma nação que tem potencialidades com as quais não sabe trabalhar e nos aproveitemos da sapiência milenar chinesa, apimentada com um pouco de ordem e disciplina que oferece a segurança pública e pessoal de que os tupiniquins não conseguem usufruir.

 

 

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