14 de novembro de 2025
Politica

A pressa de Derrite: PL Antifacção vira ‘usina de versões’, com erros e trechos inteiros repetidos

O capitão da PM de São Paulo Guilherme Derrite conquistou pelo voto o posto de deputado federal por duas vezes. Uma em 2018, outra em 2022. Nas duas vezes, seu histórico de policial o levou para fora da Câmara e foi ser secretário de Segurança Pública em SP. De volta ao mundo da política parlamentar, neste mês, Derrite correu o risco de virar um “camisa 9″ do governo Lula.

Na metáfora futebolística que costuma ser usada pelos políticos, o capitão estava para se tornar o centroavante do time do presidente petista. E por quê?

O deputado Guilherme Derrite está no centro das atenções por conta do projeto antifacção
O deputado Guilherme Derrite está no centro das atenções por conta do projeto antifacção

O projeto original antifacção é do governo Lula. Derrite, da oposição, ganhou a relatoria de presente do presidente da Câmara, Hugo Motta. No afã de devolver para os oposicionistas a primazia da bandeira do combate ao crime, foi apressado.

O primeiro texto que produziu veio a público menos de duas horas depois de ser anunciado como relator, no dia 7. Criticado, produziu uma segunda versão, no dia 10.

Novas críticas, novo texto no 11 de novembro. A quarta e última redação é do dia 12. Mas não será a final. O deputado ganhou um fim de semana para novos ajustes com a promessa de o texto ir ao voto na terça-feira, 18.

É consenso que a busca por soluções para a segurança pública com enfrentamento de organizações criminosas não pode esperar muito. Agora, a pressa da usina de versões legislativas produzidas por Derrite parece ter desidratado, até aqui, sua proposta de um redentor marco legal para resolver todos os problemas.

O governo reclama que passou seis meses em discussões internas para produzir um projeto. Derrite levou seis dias para desmontar e remendar criando um novo texto.

A pressa parlamentar está expressa até mesmo nos documentos que o deputado apresentou aos colegas. Na versão 3, por exemplo, há parágrafos inteiros repetidos duas vezes no mesmo texto.

Um leitor mais atento vai ver que na página 3 do projeto há parágrafo que começa assim: “O Brasil enfrenta uma das fases mais graves de sua história recente no ucampo (sic) da segurança pública”.

Trecho da terceira versão do projeto do deputado Guilherme Derrite sobre o projeto antifacção
Trecho da terceira versão do projeto do deputado Guilherme Derrite sobre o projeto antifacção

Vamos para a página 5 do mesmo parecer de Derrite: “O Brasil enfrenta uma das fases mais graves de sua história recente no campo da segurança pública”. A mesma frase de novo. Foram oito parágrafos assim, como quem corre para escrever, não relê o que fez e torna público o documento que quer tratar de um dos dramas mais sérios enfrentados pelo País: o poderio das facções criminosas.

Pode-se argumentar que isso é mero desleixo de edição. Pode ser. Mas Derrite está no centro das atenções e com o mais relevante projeto do momento. Dele se espera o cuidado necessário.

A última semana pode ter sido educativa sobre como proceder ou não proceder em relação à elaboração de uma legislação penal.

Sabe-se, no entanto, que o tema ultrapassa a direita e também a esquerda. É também a bandeira para 2026 que os dois lados querem balançar no palanque. E o timing eleitoral está no calcanhar de todos eles.

 

 

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