O tombo do robô
Hoje mesmo, o vídeo de um robô humanoide caindo em uma apresentação na Rússia dominou as redes. Agora, pensando melhor, será que estamos diante de um tombo, ou de um avanço?
Na medida em que a queda só ocorre porque já temos uma máquina dotada de sensores, motores, tomada de decisão e IA suficientes para tentar caminhar no mundo real, um único passo em falso em meio a uma jornada de inovação grita menos sobre falha, do que sussurra sobre evolução.
O pesquisador da Columbia University Hod Lipson costuma descrever seis estágios de desenvolvimento da inteligência artificial, o último deles a autoconsciência — talvez dentro do nosso próprio tempo de vida. Ver um humanoide navegando no mundo físico, tomando decisões em frações de segundo, fala muito sobre a separação fina entre realidade e ficção.
Casualmente, neste momento, estou terminando a leitura de “Eu robô”, de Isaac Asimov, uma obra tão visionária na antecipação de dilemas éticos e paradoxos lógicos que, mesmo escrita ao longo da década de 1940, nos convida a refletir profundamente sobre convivência, autonomia, responsabilidade, limites — tudo o que oitenta anos atrás parecia distante. E que agora é pano de fundo de vídeos virais no Instagram.
Como um apaixonado por tendências e um observador curioso das artes, arrisco um palpite: empresas e líderes estão enfrentando algo parecido. A esteira não desliga: organizações que não leem tendências, não exploram futuros possíveis e não revisam seus modelos a tempo, acabam tropeçando como o robô russo. A diferença é que, no mundo corporativo, há perda de mercado, reputação, cliente e relevância: o reset é mais demorado e caro.
Por isso, planejar deixou de ser exercício de planilhas. É interpretar sinais fracos, somar tecnologia e propósito e transformar tendência em ação. O vídeo do robô viraliza, mas o que ele realmente entrega é o silêncio de um aviso: o futuro também está tropeçando bem diante de nós. A escolha é simples: observar a queda como espectador ou usá-la como protagonista de virada estratégica.
