14 de novembro de 2025
Politica

Haja otimismo

Gostaria de que fosse verdade indiscutível a conclusão do estudo Brazil Net-Zero by 2040, coordenado pelo Instituto Amazônia 4.0 e elaborado por pesquisadores de diversas instituições. Dentre elas, a maior e melhor Universidade Brasileira, a nossa gloriosa USP, a UNB – Universidade de Brasília e a UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Para esse grupo de cientistas, o Brasil poderia zerar suas emissões líquidas de gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global, uma década antes de 2050, a meta oficial.

Para isso, colaborariam dois cenários: Afolu-2040, calcado em agricultura, florestas e uso da terra e Energy 2040, que se ancora na transição energética. Tudo depende de algo que o Brasil não costuma praticar: coordenação intersetorial e parcerias público-privadas, com equitativa distribuição de custos e benefícios. Tudo precisa focar em inclusão social e Justiça Climática.

Quando se fala em clima, pensa-se nas pessoas. É por elas que a ecologia se torna tema relevante, pois a natureza – da qual fazem parte todos os seres vivos – precisa ser preservada, para garantir qualidade existencial para todos. E Justiça Climática vai ser a cada momento mais protagonista, diante da multiplicação de lides ambientais.

No momento em que a geopolítica global regride, o negacionismo resiste e não tem vergonha de mostrar sua cara, é o sistema Justiça que deve dar as respostas que a humanidade merece. Levar aos tribunais governos e empresas omissos ou perversos em relação aos recursos naturais. Sancionando-os para que sintam a responsabilidade que recai sobre todos os viventes, para assegurar a continuidade da experiência humana neste sofrido planeta.

Os cientistas alertaram a sociedade durante décadas. Não se prestou a devida atenção. Agora é a natureza que está com a palavra. E a pesquisa publicada pela Academia Brasileira de Ciências acredita ser possível acelerar a neutralidade climática do Brasil.

As entidades subnacionais assumem protagonismo pioneiro. A maior cidade brasileira está fazendo sua parte, combatendo os três vilões responsáveis pela emissão dos gases venenosos do efeito estufa: transporte, energia estacionária e resíduos sólidos. Se São Paulo consegue, as demais cidades também. Aliás, quanto menor o município, mais fácil adaptá-lo para que os fenômenos extremos não continuem a causar mortes e prejuízo. Prevenir é melhor do que remediar. Na verdade, prevenir é muito mais barato do que remediar.

Louvável o entusiasmo e otimismo do maior climatologista do Brasil e quiçá do planeta, o Professor Carlos Nobre, que preside a Cátedra Clima e Sustentabilidade do IEA – Instituto de Estudos Avançados da USP. Ele tem se portado como verdadeiro evangelizador das transformações do clima, a insistir na conscientização de todos os atores capazes de reagir ao cataclismo.

Baseando-se no Brazilian Land Use and Energy System Model (Blues), o estudo simulou cenários de mitigação entre 2020 e 2040. Para o sucesso da empreitada, é necessário um empenho patriótico de muitos agentes. A iniciativa privada precisa ser convencida de que a ambição climática é compatível com o crescimento econômico e o avanço nos lucros.

Para isso, faz-se imprescindível reduzir o desmatamento. Não se justifica procrastinar para 2030 a devastação zero. Mais do que isso, é mais do que urgente reflorestar as vastas áreas degradadas que aumentam de forma terrível. Não é impossível adotar soluções baseadas na natureza, como reflorestamento, restauração de ecossistemas e implantação de sistemas agroflorestais. Isso representaria sequestro de quase 90% de carbono até 2040.

Incrivelmente, o setor agropecuário ficou fora da normatividade que procura minimizar os efeitos das mudanças climáticas. Ele precisa se converter em sumidouro líquido de carbono, mediante adoção de sistemas produtivos integrados. Mostra-se necessário priorizar os biocombustíveis convencionais, banindo-se a cultura petrolífera, que continua a cooptar inclusive o Terceiro Setor, sequestrando a participação da sociedade civil em eventos como as COPs.

O petróleo já deu o que tinha para dar. A matriz energética precisa se adequar à sua gradual redução, até total vedação. A indústria da construção civil, poderosa e predominante, precisa deixar de se servir de insumos cuja fabricação é poluente, como o caso do cimento e do aço. Com tanta madeira nacional disponível, a sua utilização melhoraria substancialmente a qualidade de vida das conurbações.

O segredo é uma governança ética e responsável. Será que isso é possível, com um Parlamento que aprova a Lei da Devastação e mira outras iniciativas legislativas contra a natureza? As eleições de 2026 poderiam renovar o Congresso e prestigiar os verdadeiros amigos da natureza e da humanidade. Depende exclusivamente de nós.

 

 

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