17 de novembro de 2025
Politica

O tapete vermelho na CGU para cúpula de entidade ligada ao PT que tentou receber benefício de mortos

A Controladoria-Geral da União (CGU) recebeu para uma reunião a cúpula da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), investigada por supostas fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O encontro dos principais auxiliares do ministro da CGU, Vinícius Carvalho, com a entidade ligada ao PT aconteceu uma semana após a própria controladoria apontar que a entidade tentou descontar benefícios de 22 mortos. A Contag é investigada pela CGU, pela Polícia Federal e pela CPI do INSS.

A reunião aconteceu em 5 de agosto deste ano na sede da CGU, das 15h às 16h. A Coluna do Estadão apurou que quem conduziu a agenda foi Alfredo Ermirio, chefe de gabinete do ministro da CGU. Também participaram a assessora especial do ministro Maria Victoria Hernandez e o assessor Pablo Souza. Do lado da Contag, estavam a presidente, Vânia Marques; o secretário de Políticas Sociais, Antônio Erinaldo; o assessor jurídico Antônio Farani; e o assessor Evandro Melo.

Procurada pela Coluna do Estadão, a CGU afirmou que a reunião teve caráter de “diálogo institucional” e também tratou de uma auditoria sobre descontos de beneficiários do INSS. O ministério negou conflito de interesses por ter se reunido com a entidade investigada. A Coluna pediu que a CGU enviasse a ata da reunião, o que não aconteceu.

Ao contrário da pasta, a Contag disse que o encontro tratou apenas das reivindicações da entidade para a agricultura familiar. Leia os comunicados ao fim da reportagem.

Contag tentou descontar benefícios de 22 mortos

Em 30 de julho, uma semana antes da reunião, uma nota técnica da CGU concluiu que a Contag tentou descontar benefícios previdenciários de ao menos 22 pessoas que estavam mortas havia mais de três meses. O documento, revelado pelo Estadão, foi enviado à CPI do INSS, e recomendou a abertura de uma investigação na CGU contra a Contag.

A sugestão foi cumprida no início de setembro com a instauração de um processo administrativo de responsabilização (PAR). Esse tipo de apuração investiga condutas de empresas por atos lesivos à administração pública com base na Lei Anticorrupção. A CGU afirmou que o processo segue tramitando e deve ser concluído até junho de 2026.

Os auditores apontaram diversas suspeitas em relação à entidade. Uma delas foi a de apresentar autorizações inaptas “de maneira massiva” para descontos em benefícios. Segundo o relatório, a Contag também produziu documentos falsos para a obtenção de acordos com beneficiários.

Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), entidade investigada por PF, CGU e CPI do INSS
Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), entidade investigada por PF, CGU e CPI do INSS

Entidade movimentou R$ 2 bilhões em um ano, diz Coaf

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) informou à CPI do INSS que a Contag movimentou R$ 2 bilhões em um ano. De acordo com o órgão de combate à lavagem de dinheiro, uma parte das transações foi classificada como “suspeitas de irregularidades, podendo caracterizar desvio com fraudes”.

Os laços da Contag com o PT

A Contag é uma associação politicamente próxima do PT, partido do presidente Lula, com quadros filiados à sigla. O ex-presidente Aristides Veras, por exemplo, é irmão do deputado federal Carlos Veras (PT-PE).

Além de sindicatos de trabalhadores rurais, a associação reúne a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), grupos historicamente apoiadores aos governos petistas.

Como mostrou a Coluna, a Contag se reuniu com o presidente Lula e ao menos seis ministros no último ano, antes de ser alvo da PF. A entidade foi recebida no Palácio do Planalto em abril de 2024 para entregar reivindicações diretamente ao presidente, o que não acontecia havia sete anos.

Leia o comunicado da CGU

“A audiência foi solicitada pela Contag por meio do Ofício nº 1175/2025/PRE-Contag, para tratar de temas relacionados ao Grito da Terra Brasil 2025. A reunião foi realizada em 5 de agosto de 2025, com a participação da chefia de gabinete e assessoria especial da CGU, conforme registro na agenda pública institucional.

O encontro teve caráter de diálogo institucional. A entidade apresentou considerações sobre relatório de auditoria referente a descontos associativos em folha de pagamento do INSS e mencionou impactos decorrentes da suspensão desses descontos. Tais manifestações não interferem nem condicionam a atuação da CGU, que segue os procedimentos de forma independente e conforme os normativos aplicáveis.

A CGU ressalta que não há impedimento ou conflito de interesses na realização de audiências com entidades que sejam objeto de procedimentos preliminares ou de apurações pela CGU. Como ressaltado, a agenda foi devidamente publicada, assegurando transparência à atividade.”

Leia o comunicado da Contag

“A reunião da Contag com a CGU, realizada em 5 de agosto, integrou o processo anual de diálogo institucional do Grito da Terra Brasil, iniciativa promovida pela entidade há mais de 20 anos. O encontro teve como pauta exclusiva as reivindicações da agricultura familiar e dos trabalhadores e trabalhadoras rurais referentes à edição de 2025, entregues ao governo federal em maio, com foco em melhorias de políticas públicas nas áreas de previdência social, saúde do trabalhador, habitação rural, agroecologia e reforma agrária.

Essas temáticas compõem as agendas da Secretaria de Controle Interno, integrada à estrutura da CGU. Por se tratarem de aperfeiçoamentos em programas de governo, cabe à CGU o acompanhamento técnico dessas pautas.

A reunião foi solicitada meses antes da instalação da CPI do INSS e realizada conforme a disponibilidade de agenda da CGU.

Além da CGU, a Contag mantém diálogo permanente com diversos órgãos do governo federal, com o objetivo de negociar e acompanhar as propostas apresentadas no Grito da Terra Brasil.

A Contag reafirma que não é investigada por fraude e reitera sua total confiança nas instituições públicas, permanecendo à disposição para quaisquer esclarecimentos.”

 

 

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