Lula anuncia Messias no dia errado, na hora errada, e deve colher derrotas e adversários poderosos
Em mais uma semana tensa, com derrotas, oposição alvoroçada e atropelos, inclusive na COP-30, o presidente Lula encomendou mais uma crise com o Congresso e aumentou o mal estar com o Judiciário ao oficializar Jorge Messias para o Supremo. Mesmo o recuo nos 40% de produtos agrícolas, uma vitória, deixa dúvidas. Assim, Lula viaja para o G 20 na África do Sul, no próximo sábado, com o incêndio em Belém controlado, mas o circo pegando fogo.
Lula demorou para anunciar Messias, escolheu o dia errado, irritou seu aliado mais estratégico no Congresso, arriscou-se a uma derrota histórica e a uma sequência de bombas fiscais no Senado, até aqui sua terra firme para escapar do pântano na Câmara.
Como na nomeação de Cristiano Zanin, seu advogado na Lava Jato, a de Messias, advogado-geral da União, era líquida e certa desde sempre, antes mesmo da saída de Luís Roberto Barroso do STF. Lula meteu Messias na cabeça e só foi adiando o anúncio para ganhar, além de tempo, uma votação ou outra no Senado – como a isenção do IR até R$ 5.000,00.
E lá se foi Lula para Malásia, COP-30 e Colômbia, com o nome do novo ministro decidido, mas não anunciado, e atraindo pressões e aumentando as cobranças do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, em Brasília. Um detalhe: apesar de atos e manifestos a favor de uma mulher negra no STF, Lula anunciou Messias justamente no dia da Consciência Negra. Era o que faltava.
Mesmo com o início de estudos para a exploração de petróleo na Margem Equatorial, pelo qual tanto atuou, Alcolumbre não se deu por satisfeito e continuou exigindo o aliado Rodrigo Pacheco no STF. Contrariado, sacou suas armas, direto de Macapá, e duas horas depois da confirmação de Messias, anunciou para a próxima terça-feira a votação da aposentadoria especial para agentes de Saúde e de Combate a Endemias, que vai custar bilhões de reais para União e Municípios.
E como fica o PL AntiFacções? E a própria votação de Messias no Senado? Ele precisa de 41 votos no plenário, só tem 31 e depende, ou dependia, de Alcolumbre para obter mais dez. Sem a força e a boa vontade de Alcolumbre, vai contar com o quê? O PT? Derrota à vista, e uma derrota nada trivial para indicados ao STF.
Lula tem lá suas razões e a principal é que não pode delegar a um Congresso cada vez mais audacioso e guloso a sua prerrogativa de indicar o ministro do STF, sob o risco de ficar refém do outro poder para sempre. Ceder uma vez significaria ceder sempre.
De outro lado, sua indicação teria força e aceitação nos meios jurídicos, políticos e na sociedade, se tivesse recaído sobre um jurista de primeiríssimo time, reconhecido, reverenciado. Apesar do bom currículo e da boa imagem, Messias foi evidentemente escolhido por ser do PT, aliado ao Planalto e fiel a Lula. É pouco para ganhar três décadas no STF.
Lula embola a “crise Messias” com queda nas pesquisas, incertezas para 2026, reposicionamento da direita, sustos de Hugo Motta, derrota do PL Antifacções na Câmara, críticas da ONU e da Alemanha à COP em Belém e, como desgraça pouca é bobagem, o incêndio que interrompeu os trabalhos neste feriado.
Tudo isso poderia ficar em segundo plano com o fim do tarifaço dos EUA para carne, café e frutas, certamente uma vitória de Lula e da diplomacia brasileira, mas especialistas na questão, inclusive do agronegócio, alertam que pode ter sido uma (mais uma) esperteza de Trump.
Trump resolve seu problema interno com a inflação desses produtos agrícolas e tira do Brasil seu grande trunfo nas negociações. A pergunta é: e o tarifaço no setor industrial, em máquinas, equipamentos, têxteis e sapatos? A guerra continua. Ou melhor, as muitas guerras de Lula continuam.