Lula prepara ‘guerra santa’ contra Alcolumbre para emplacar conservador no STF
Após abraçar o patriotismo, no rastro do tarifaço de Trump, Lula avança sobre outra bandeira central da direita, ao iniciar uma cruzada cristã visando um quarto mandato. A escolha de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal segue um cálculo eleitoral meticuloso. É um recado a quem ainda duvidava de que o presidente sacrificaria bandeiras históricas da esquerda em nome do poder.
O Messias de Lula representa o elo que ele precisa para se aproximar do campo evangélico. É um movimento que mistura fé, estratégia e conveniência. O presidente percebeu que o caminho para 2026 passa pelo conservadorismo religioso, hoje dominante no Congresso, nos púlpitos e em parte expressiva do eleitorado. Ao escolher um evangélico de seu círculo mais próximo, Lula tenta furar o bloqueio simbólico que a direita ergueu nos últimos anos e se colocar como interlocutor legítimo do discurso moral.

O ponto fulcral dessa operação ocorreu há cerca de um mês, no Palácio do Planalto, quando o presidente se reuniu com o bispo Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus, uma das figuras mais influentes entre os pentecostais e interlocutor frequente de parlamentares. O grupo que ele lidera reúne milhões de fiéis em todo o País.
A cena foi simbólica. Lula, orando com Messias, líderes religiosos e deputados evangélicos, transformou uma reunião administrativa em ato de consagração política. O gesto enviou um recado direto ao Senado. A futura sabatina deixou de ser apenas técnica. Rejeitar Messias poderá significar desafiar um segmento com peso eleitoral e presença social. O governo trabalha para associar eventual rejeição ao STF a uma rejeição às igrejas. Uma arma contra as articulações de Davi Alcolumbre, que ainda sonha em viabilizar Rodrigo Pacheco para a vaga.
A cruzada cristã de Lula envolve também o Vaticano. O recente encontro do presidente com o papa Leão XIV funcionou como gesto simbólico de proximidade com a Igreja Católica, enquanto a conversa com Samuel Ferreira consolidou uma aliança com o campo evangélico. Juntos, esses movimentos ampliam o espectro religioso que Lula busca atrair.
Só que essa guinada tem custo. Nenhuma mulher, nenhuma pessoa negra, nenhum nome ligado às minorias foi lembrado para o Supremo. O presidente que subiu a rampa cercado de diversidade tem priorizado o pragmatismo eleitoral nas indicações para a mais alta Corte do País. Mas, com a esquerda unida em torno do seu nome, Lula consegue tirar de letra as adversidades entre os progressistas. União que, diga-se de passagem, está ainda longe de acontecer à direita, o que dá ao presidente vantagem competitiva neste momento.
O projeto de Lula 4 é mais conservador nos costumes. A prioridade é a popularidade. E, nesse contexto, um casamento com dogmas cristãos oferece ganhos imediatos, mesmo que não comporte as concessões pedidas pela esquerda.
Mudam os tempos, e Lula muda com eles. O que não muda é o instinto de poder que guia cada movimento e que sustenta sua permanência no centro da política brasileira por tantas décadas.
