Quem perde e quem ganha com a prisão de Bolsonaro decretada por Moraes
A antecipação da prisão de Jair Bolsonaro por suposta tentativa de fuga – a sociedade nunca entrará em consenso sobre isso – traz de imediato uma série de consequências no tabuleiro político atual e com vistas às eleições de 2026. A fumaça ainda não baixou, mas é possível indicar alguns perdedores e vencedores imediatos.
Entre os primeiros derrotados, obviamente, está o movimento bolsonarista. Pegos de surpresa, seus integrantes não conseguiram, por exemplo, nem mesmo organizar uma manifestação pública de solidariedade ao líder, nos moldes que fizeram com Lula em 2018. A ida de Bolsonaro para uma jaula na PF ocorreu sem nenhum clamor popular aparente. Até agora ficou algo como: vida que segue.
Para a família Bolsonaro, haverá um dilema. Ou insistem num movimento solo, com o objetivo de manter a força popular, ou se unem a outras forças políticas de direita. Se correrem sozinhos, dividindo a oposição, o maior beneficiado será o presidente Lula, na corrida para a eleição. Em qualquer hipótese, o caminho a ser escolhido, sem dúvida, é buscar transformar Bolsonaro em mártir e, com isso, tentar agregar milhões ao movimento.

Como não existe vácuo de poder, alguns nomes, mesmo que da boca para fora neguem, entram no páreo para liderar a direita (uma lembrança aqui do filósofo Nietzsche de que a luta por poder é o que move o humano, em qualquer ambiente, mas sobretudo na política). O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, surge como força “natural” – para desgosto do deputado Eduardo Bolsonaro. Além de pontuar bem nas pesquisas, teria o apoio da centro-direita, do mercado financeiro e de parte do setor produtivo. O problema é combinar com os Bolsonaros.
Outro personagem, como o deputado Nikolas Ferreira, mesmo com a força das redes, ainda é jovem e líder político apenas dele mesmo. Os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema, de Goiás, Ronaldo Caiado, e do Paraná, Ratinho Júnior, ficam em compasso de espera. Algum outro nome?
Paradoxalmente, ganham com a prisão de Bolsonaro, num primeiro momento, todos os envolvidos com o caso do rombo no banco Master. Agora o preso celebridade do Brasil não é mais o banqueiro Daniel Vorcaro e nem a turma da série Tremembé. É o próprio Jair. O monumental escândalo financeiro – que chamuscou até mesmo a esposa do ministro Alexandre de Moraes, entre uma enorme lista de gente de todas as ideologias do Executivo, do Legislativo e do Judiciário – agora não está mais no primeiro plano. A depender dos desdobramentos, volta.
Por fim, mas não menos importante, a conjuntura fica um pouco mais difícil para o indicado de Lula ao Supremo, o advogado-geral da União, Jorge Messias. Além da oposição aberta do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, precisará explicar e provar que não será um ministro que ameace o Parlamento ou a classe política – como Moraes ou Flávio Dino apavoram. Com o preterido senador Rodrigo Pacheco numa cadeira do STF, esse risco praticamente não existiria.
