Marinha recebe o 3º e submarino convencional, lança o 4º e faz a transição para construir o nuclear
O submarino Almirante Karan, a quarta e última embarcação convencional do Prosub, o programa da Marinha do Brasil de construção de submersíveis, foi lançado ao mar em meio a transformações no Complexo Naval de Itaguaí, no Rio, que se ocupará agora da construção da joia do programa, a unidade com propulsão nuclear, o submarino Álvaro Alberto, o primeiro de país do hemisfério Sul, que deve entrar em operação em 2034.

O almirante Karan (S43) foi batizado em cerimônia que marcou ainda a entrega definitiva à Marinha do seu terceiro submarino convencional, o Tonelero (S42), após a realização da chamada “mostra de armamento” da embarcação. Lançado ao mar em 2024, o Tonelero passou por testes durante esse período e, agora, será transferido para o setor operativo da Força Naval. Assim como o Almirante Karan, ele é um submarino da classe Skorpène, cujo projeto é do francês Naval Group, um dos maiores grupos da área de defesa do mundo.
Com o encerramento da construção dos submarinos convencionais, a estrutura do estaleiro de Itaguaí vai se ocupar do submarino nuclear. A primeira fase da construção do projeto do submarino Álvaro Alberto deve cuidar da popa, a parte traseira da embarcação. “Estamos nessa transição de fase. Envolve a construção do submarino e a sua infraestrutura de apoio no complexo, observando o normativo de licenciamento nuclear”, afirmou o almirante Alexandre Rabello de Faria, diretor de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha.
Atualmente só os cinco países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU têm submarinos movidos a propulsão nuclear. Trata-se de uma arma temível, capaz de dissuadir ameaças extrarregionais. O Álvaro Alberto é considerado pela Marinha e pelo Naval Group como uma embarcação pioneira. Para o Vice-presidente da América Latina e Grécia da gigante francesa, Laurent Mourre, o ideal e o desejo é que ele seja o primeiro de uma frota brasileira de submarinos convencionais com propulsão nuclear.

Só os dois últimos contratos assinados pela Marinha com a Naval Group – a empresa francesa é sócia (41% do capital) da Novonor (59% do negócio) no Complexo de Itaguaí –, publicados em agosto, somam € 526,4 milhões (R$ 3,2 bilhões), E isso só para os sistemas adicionais e os serviços especiais de engenharia, com solução industrial, aquisição e construção para a montagem eletromecânica do Prédio Auxiliar Controlado (PAC) do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (LABGene), onde se constrói o reator brasileiro para a propulsão do submarino.
O evento em Itaguaí é um dos mais importantes para a Marinha e para a Defesa do Brasil deste ano. Não só pelos números envolvidos. Mas pela perspectiva de parceria estratégica do País diante da possibilidade de o complexo servir para construir submarinos para outros países do entorno estratégico do Brasil. Argentina, Chile, Peru, Equador e Colômbia têm de renovar total ou parcialmente sua frota de submarinos – juntos, podem encomendar até 14 submarinos. E o Naval Group está de olho nesse mercado.
Não só em razão do rearmamento europeu, que está causando filas de espera nas fábricas do velho continente, mas também em razão de suas instalações e localização, Itaguaí pode ser uma alternativa para atender encomendas, desde que barreiras de exportação sejam superadas. “Sabemos de planos e intenções, mas, por enquanto, nada de concreto foi fechado”, afirmou Nicolas Viala, diretor Brasil do Naval Group. O sonho da Força Naval é que Itaguaí se transforme em uma espécie de Embraer do mar.

Os submarinos convencionais fabricados em Itaguaí são da classe Skorpène. A versão brasileira (Skorpène-BR) é equipada com os torpedos F-21 e é maior e mais moderna do que outras embarcações dessa classe vendidas para o Chile. Eles são maiores — 71,62 metros ante 66,4 metros da versão anterior — e sua tonelagem é de 1.870 toneladas – 1.717 toneladas na versão chilena. O primeiro deles a ser integrado à Marinha foi o Riachuelo (S40), em setembro de 2022. Logo em seguida, veio o Humaitá (S41), em janeiro de 2024.
Tudo isso por meio da Itaguaí Construções Navais, uma empresa criada a partir da cooperação estratégica entre Brasil e França. Seu objetivo era capacitar o País na construção de submarinos, o que fez da empresa a primeira fábrica de submarinos da América do Sul. Foi Itaguaí que ergueu a Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas e, em seguida, o estaleiro de construção na Ilha da Madeira, possibilitando, segundo o Naval Group, “a montagem e testes de cascos e sistemas complexos”.
Entre 2009 e 2014, houve a “imersão tecnológica e o início da formação de mão de obra especializada no País”. Entre 2015 e 2017 ocorreu a fase de transferência e absorção de tecnologia, com o corte da chapa do quarto submarino convencional, o Almirante Karan. “Esse marco confirmou que o Brasil passou a dominar os processos de engenharia e fabricação necessários para projetos navais avançados”, informou o Naval Group.

A parceria da Marinha com a França não se resumiu à construção dos submarinos. A força expedicionária do Corpo de Fuzileiros Navais se aproximou de seu homólogo francês. A escolha do Naval Group aconteceu durante a primeira passagem de Luiz Inácio Lula da Silva pela Presidência. De acordo com o Relatório Anual de 2024 do Naval Group, ele registrou receita de € 4,355 bilhões de faturamento e conta com 16.722 funcionários.
Os franceses estão presentes em 17 países – fecharam recentemente contratos com a marinha holandesa. Além do Brasil e França, fornecem submarinos para Índia, Malásia, Indonésia e Chile. Além da classe Skorpène, o grupo é responsável pela classe Barracuda e pela construção dos submarinos nucleares com os mísseis balísticos da force de frappe francesa e pelo porta-aviões Charles de Gaulle, único a propulsão nuclear da Europa.
