1 de dezembro de 2025
Politica

Brasil faz primeiro disparo do Meteor, um dos mísseis mais letais do mundo

O vídeo tem 28 segundos e três cenas. Ele mostra o estado da arte da aviação de caça brasileira: o F-39 Gripen disparando seu mais poderoso armamento, o Meteor, um míssil ar-ar do tipo BVR (sigla inglesa para Beyond Visual Range ou Além do Alcance Visual). Tudo se passou na semana passada, na Base Aérea de Natal (RN), quando a Força Aérea Brasileira fez o primeiro disparo real do equipamento com seu mais novo caça, durante a Operação BVR-X.

A Força Aérea classificou o lançamento como “um sucesso” e afirmou que ele “marca a entrada definitiva do Brasil na era dos combates aéreos de longo alcance”. Tem razão. Guiado por radar, o Meteor é uma arma poderosa que pode engajar alvos a até 200 km de distância. Isso significa que ele é um míssil que pode abater aeronave inimiga, drone ou míssil de cruzeiro a uma distância tão grande que o piloto não consegue ver o alvo a olho nu.

E isso tudo mesmo em ambientes com “maciça interferência de contramedidas eletrônicas”. Há três razões para o aumento da letalidade do Meteor em comparação com os mísseis convencionais. O primeiro é seu motor “ramjet”, que é capaz de modular a velocidade e consumo de combustível durante o voo. Isso permite que o armamento acelere na parte final do ataque, quando, segundo a FAB, o “alvo se encontra sem a possibilidade de escapar (no escape zone)“.

Lançamento do míssil Meteor pelo caça F-39 Gripen: armamento pode atingir alvos além do alcance visual e coloca país em seleto grupo de países a contar com esse tipo de míssil ar-ar
Lançamento do míssil Meteor pelo caça F-39 Gripen: armamento pode atingir alvos além do alcance visual e coloca país em seleto grupo de países a contar com esse tipo de míssil ar-ar

A segunda razão é o fato de o Meteor ser equipado com um link de dados bidirecional. É ele que permite ao F-39 fornecer atualizações de destino no meio do curso ou redirecionamento e, caso seja necessário, incluir dados de outras aeronaves, mudando o alvo. Por fim, o míssil pode ser lançado “sem emitir sinais de seu radar até chegar mais próximo do alvo, dificultando sobremaneira a detecção e aplicação de contramedidas por aeronaves adversárias”.

Durante os testes em Natal, o F-39 foi configurado com os Meteors e com o míssil alemão Iris-T, o míssil ar-ar- de curto alcance (até 25 km, guiado por infravermelho) que serão os armamentos da aviação de caça brasileira. Cada unidade de Meteor tem custo de cerca de € 2 milhões. A FAB ainda deve testar o canhão 27 mm do F-39 para que o caça possa estar pronto para ações de combate no próximo ano.

Até então, o Meteor, fabricado pela MBDA System, um consórcio que reuniu fabricantes anglo-franco-italianos, já havia sido testado em 2022, em disparos com o Gripen, feitos pela Saab, na Suécia. Em Natal, os alvos contra o qual o Meteor foi disparado foram os drones Mirach 100/5, fabricado pela italiana Leonardo. Segundo a FAB, “os alvos simularam perfis de voo de caças em alta velocidade e altitude, garantindo um cenário desafiador para avaliar a precisão do míssil”.

FAB executou o primeiro lançamento do míssil Meteor, disparado pelo F-39 Gripen: é o mais moderno e potente em uso na América do Sul
FAB executou o primeiro lançamento do míssil Meteor, disparado pelo F-39 Gripen: é o mais moderno e potente em uso na América do Sul

“A preparação dos pilotos do 1ª GDA (1.ª Grupo de Defesa Aérea, com base em Anápolis , Goiás) para a campanha de lançamento real do míssil do exercício técnico BVR-X já iniciou com um treinamento fornecido pela empresa SAAB, fabricante dos caças. A partir disso, tivemos diversos treinamentos operacionais e de emprego do míssil Meteor e, com a proximidade da BVR-X, realizamos uma preparação específica, utilizando a principal ferramenta de simulação do Gripen, o mission trainer, que temos em Anápolis, para treinarmos nos cenários propostos para o exercício”, disse o major-aviador Gregor Gaspar, do 1º GDA, ao site da FAB.

Um dos mais letais mísseis da atualidade e o mais avançado no cenário da América do Sul, o Meteor equipa atualmente as forças aéreas da França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia e Índia. Para a FAB, “o sucesso do EXTEC confirmou que o binômio F-39 Gripen e Meteor é o pilar fundamental para que a FAB cumpra sua missão de defesa da pátria”.

Hipersônico

Além da defesa do Gripen e seu mísseis, a FAB desenvolve em um consórcio com a Mac Jee o projeto RATO-14X (da sigla em inglês Rocket Assisted Take-Off). Trata-se de um sistema de decolagem assistida por foguete para o 14-X, o míssil hipersônico que o País está desenvolvendo. Financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), o projeto tem como objetivo desenvolver um sistema de decolagem assistida por foguetes para veículos hipersônicos.

O míssil Meteor no Gripen pouco antes do disparo em Natal:  FAB cumpre etapa para a entrada o preparo da aeronave para missões de combate
O míssil Meteor no Gripen pouco antes do disparo em Natal: FAB cumpre etapa para a entrada o preparo da aeronave para missões de combate

Ele deverá servir para o 14-X S, cuja primeira etapa de desenvolvido – a demonstração em voo da combustão supersônica, fundamental para testar as condições de partida do motor hipersônico em voo – foi concluída há quatro anos. Trata-se do motor scramjet (hipersônico aspirado) testado durante a chamada Operação Cruzeiro. “O motor foi testado com sucesso, confirmando a viabilidade da tecnologia para futuras aplicações”, informou a FAB.

Ainda de acordo com a FAB, no teste de 2021, o 14-X S “foi acelerado a uma velocidade próxima a Mach 6 (seis vezes a velocidade do som), a mais de 30 km de altitude, por meio de um Veículo Acelerador Hipersônico (VAH)”. Ainda segundo a FAB, “após a realização do ensaio, o conjunto seguiu a trajetória prevista, atingindo o apogeu em 160 Km, percorrendo um total de 200 km de distância, até seu impacto numa área segura no Oceano Atlântico”.

Quando estiver concluído, a previsão é que o 14-X vai atingir a velocidade de Mach 10 ou cerca de 12 mil Km. A FAB informou ainda que, “após a conclusão do Projeto PropHiper (Projeto de Propulsão Hipersônica 14-X), ”a sociedade brasileira poderá usar a tecnologia hipersônica aspirada para desenvolver diversos novos produtos, mas o maior potencial e objetivo atual é desenvolver uma maneira mais eficiente, econômica e segura de acesso ao espaço”.

As quatro fases do projeto 14 - X de propulsão hipersônica da Força Aérea:  míssil hipersônico poderá atingir até 12 mil KM ou Mach 10
As quatro fases do projeto 14 – X de propulsão hipersônica da Força Aérea: míssil hipersônico poderá atingir até 12 mil KM ou Mach 10

De acordo com a Força Aérea, a utilização desta tecnologia em futuros lançadores de satélites marcaria “uma nova era espacial brasileira, uma vez que o motor scramjet se utiliza do oxigênio disponível na atmosfera ao contrário do que é feito atualmente onde o foguete precisa carregar o oxidante. Diversas empresas no mundo, em especial startups australianas e americanas, têm se lançado no mercado para desenvolver um produto similar que possa reduzir o custo e a complexidade para o acesso ao espaço”.

Mais do que o espaço, o 14-X ao lado do Gripen, do submarino convencional a propulsão nuclear Álvaro Alberto, o Mansup-ER e o míssil tático de cruzeiro do Exército podem garantir ao Brasil um mínimo de dissuasão, segundo o conceito antiacesso/negação de área. Pode parecer pouco. Mas não é. Trata-se de um mínimo urgente, como fica claro em relação à mudança de cenário geopolítico com um governo dos EUA cada vez mais disposto a tratar a América Latina como o fundo do seu quintal.

Cenário geopolítico

Os movimentos de Donald Trump parecem não ter limite moral. Ele se resume à lógica da exceção, de Carl Schmitt. Seus aliados podem tudo. O que significa a anistia prometida por Trump ao ex-presidente de Honduras Juan Orlando Hernández, condenado nos EUA a 45 anos de prisão por tráfico de drogas na véspera de uma eleição naquele país em que o americano ameaça a nação caso eleja alguém que não seja de seu gosto? Ou o fato de Trump se bater contra ditadores de esquerda, como Maduro, mas apoiar ditadores de direita, como Bukele?

Donald Trump concedeu anistia ao ex-presidente de Honduras condenado a 45 anos de prisão por tráfico de drogas
Donald Trump concedeu anistia ao ex-presidente de Honduras condenado a 45 anos de prisão por tráfico de drogas

O Brasil deve estar pronto diante de Washington, que renuncia à defesa da democracia como valor universal, ao desenvolvimento compartilhado e executa uma política que busca impor seus interesses de maneira brutal, quase imperial, como Vargas Llosa retratou acuradamente em Tiempos recios (Tempos Ásperos, Alfaguara, 354 pag.) ao tratar da farsa construída nos EUA para justificar o golpe na Guatemala, em 1954, que depôs, com a ajuda da CIA, o presidente Jacobo Árbenz, um progressista moderado pintado como um “perigoso comunista”.

Disse Llosa: “Foi uma grande torpeza dos Estados Unidos preparar o golpe militar contra Árbenz, colocando o coronel Castillo Armas como testa-de-ferro e cabeça da conspiração. O triunfo que obtiveram foi passageiro, inútil e contraproducente. fez recrudescer o antiamericanismo em toda América Latina e fortaleceu os partidos marxistas, trotskistas e fidelistas. E serviu para radicalizar e empurrar em direção ao comunismo o Movimento 26 de Julho de Fidel Castro. Esse tirou as conclusões mais óbvias do que se passou na Guatemala”.

Ainda segundo Llosa, “feitas todas as contas, a intervenção americana na Guatemala atrasou por dezenas de anos a democracia no continente e custou milhares de mortos, pois contribuiu a popularizar o mito da revolução armada e do socialismo em toda América Latina”.

 

 

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