1 de dezembro de 2025
Politica

Família Bolsonaro tem novo racha uma semana após pregar união, e PL marca encontro por pacificação

BRASÍLIA — Passada uma semana da reunião em que a família Bolsonaro pregou união e o fim das brigas públicas, uma discordância sobre a formação de chapas no Ceará voltou a expor a cisão entre os membros. O Partido Liberal (PL) marcou outro encontro a portas fechadas para baixar a fervura.

A prisão definitiva de Jair Bolsonaro (PL), como o Estadão mostrou, abriu uma nova frente de batalha pela comunicação na direita, a proteção do legado do ex-presidente e o poder de influenciar tomadas de decisão nas eleições de 2026.

Evento de lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão ao governo do Ceará
Evento de lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão ao governo do Ceará

Condenado por tentativa de golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (SFT), Bolsonaro começou a cumprir a pena de 27 anos e três meses de prisão na semana passada. Ele está numa cela especial na Superintendência Regional da Polícia Federal, com acesso restrito a visitas e mediante autorização.

No domingo, numa viagem a Fortaleza para o lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo) ao governo do Estado, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro criticou o correligionário André Fernandes (PL-CE) pela aliança com o ex-presidenciável Ciro Gomes na disputa local.

“Eu adoro o André, mas fazer aliança com o homem (Ciro) que é contra o maior líder da direita? Isso não dá. Nós vamos trabalhar para eleger o Girão”, discursou Michelle na ocasião, num momento de constrangimento para o deputado federal.

Hoje filiado ao PSDB, Ciro vinha se reunindo com lideranças bolsonaristas do PL, União Brasil e Progressistas do Ceará e sinalizava a construção de uma aliança contra o PT nas eleições de 2026.

Após o evento, Fernandes disse a jornalistas que, “infelizmente, a própria esposa do ex-presidente chega aqui e diz que fizemos uma movimentação errada, (sendo que) o próprio Bolsonaro pediu para ligar para o Ciro Gomes no viva-voz“, em referência à articulação para o PL dar apoio ao ex-governador.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) saíram em defesa do colega, alegando que o acordo havia sido feito com anuência do pai.

Numa rede social, na tarde desta segunda-feira, 1º, Carlos compartilhou uma notícia em que o irmão dizia que Michelle havia “atropelado” Bolsonaro ao dar bronca em Fernandes e escreveu: “Meu irmão, @FlavioBolsonaro, está certo e temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças!”

Eduardo compartilhou a publicação de Carlos e acrescentou que Michelle havia sido “injusta e desrespeitosa” com Fernandes. “Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo, foi uma posição definida pelo meu pai. André não poderia ser criticado por obedecer o líder”, escreveu.

Apoiadores da decisão de Michelle costumam lembrar que foi o PDT de Ciro Gomes o responsável pela ação de investigação judicial eleitoral (Aije) que levou à condenação de Bolsonaro pela reunião feita com embaixadores em 2022.

Em junho de 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reconheceu a prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante o encontro no Palávio da Alvorada e declarou a inelegibilidade do ex-presidente por oito anos. Aliados de Michelle avaliam como inadmissível se aliar a Ciro em razão desse histórico.

O PL agora quer resolver o atrito numa reunião interna na sede nacional, em Brasília, nesta terça-feira, 2. O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, e o secretário-geral e senador Rogério Marinho (PL-RN) devem participar, além de Flávio e Michelle. “Amanhã o bicho vai pegar”, diz um integrante da cúpula da sigla.

O episódio endossa a divergência que vem ocorrendo dentro do Partido Liberal e na própria família sobre como impedir que a voz de Bolsonaro, com acesso restrito ao mundo externo, se enfraqueça e deixe de influenciar a disputa pelo Palácio do Planalto no ano que vem.

Numa reunião feita a portas fechadas e convocada às pressas na segunda-feira, 24, em razão da determinação de prisão preventiva de Bolsonaro que antecedera a definitiva, o partido discutiu como manter alinhada a tropa de choque em defesa do líder maior da direita.

Em seu discurso na ocasião, Michelle criticou os correligionários que atacam os colegas nas redes sociais, afirmou que a “roupa suja” deve ser lavada em casa, e pediu maior alinhamento em torno de Bolsonaro. O que foi debatido naquele encontro, entretanto, veio a ruir com a exposição das divergências feita em Fortaleza.

Já Flávio foi ungido o porta-voz oficial do pai. Sem Eduardo, autoexilado nos Estados Unidos, e mais próximo do ex-presidente do que o outro irmão Carlos, que mora no Rio de Janeiro, o senador ocupa um espaço privilegiado, com mandato, holofotes e acesso à PF para trazer e levar informações do mundo externo.

A decisão do PL de dar o posto de tamanha influência a Flávio contrasta com a avaliação que o irmão Eduardo faz do poder de todos os membros da família de representar a voz do ex-presidente.

Enquanto durar a prisão do Bolsonaro, sempre vai haver essa confusão de quem fala por ele, quem fala, quem não fala. Tanto o Flávio como o Carlos, a Michelle, são próximos do meu pai e vão ter acesso a ele. Eu acho importante que sigam tendo essa proximidade pelo ponto de vista principalmente emocional”, declarou Eduardo em entrevista ao Estadão na semana passada.

 

 

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