Estadão vence 6º Prêmio IREE de Jornalismo com série sobre bets e política
BRASÍLIA — O Estadão venceu, na categoria principal, o 6º Prêmio IREE de Jornalismo, com a série “Bets fraudam Bolsa Família, modernizam jogo do bicho e viram força política”, do repórter Vinícius Valfré. É a sexta vez seguida que o jornal vence a premiação concedida pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa, sendo a quinta na categoria principal.
O trabalho premiado mostra a infiltração das bets na política, na economia e no futebol (veja os detalhes mais abaixo). A premiação concedida pelo instituto é considerada atualmente a principal do jornalismo brasileiro.
“As bets atingiram o brasileiro com a força e a abrangência de um tsunami – a vida das famílias, a economia do País, nossos hábitos de diversão. Impossível isso acontecer sem grande influência, sem estabelecer fortes relações com o poder. O IREE premia o jornalismo de excelência feito por Vinícius Valfré ao expor e explicar essas relações, premia a independência do Estadão em tratar dos temas que precisam ser falados, da forma que precisam ser falados”, afirmou o diretor de Redação do Estadão, Leonardo Mendes Júnior.

O Estadão também recebeu uma menção honrosa pela série “As conversas secretas dos celulares do golpe”, do repórter Aguirre Talento. As reportagens mostram diálogos do general da reserva do Exército Walter Braga Netto, vice-presidente na chapa do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022, com o coronel da reserva Flávio Peregrino sobre a trama golpista.
A menção honrosa a Aguirre também inclui a reportagem que mostrou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) hackeou o governo do Paraguai, publicada no UOL.
O Prêmio IREE de Jornalismo homenageará ainda o jornalista do Estadão Fausto Macedo, como a Personalidade de Destaque.
“Com o enorme respeito aos brilhantes colegas, não há maior repórter em atividade no Brasil do que o Fausto Macedo. O Fausto é repórter na essência: obcecado pelos fatos e todos os seus detalhes, rigoroso na apuração, preciso nos relatos, incansável e, ainda, um excelente professor para os vários jovens jornalistas que passam pelas mãos dele”, disse o diretor de Redação do Estadão.
Outro homenageado será Ricardo Kotscho, que receberá o Prêmio IREE de Jornalismo pelo conjunto de sua obra.
Na categoria Prêmio IREE – Política, a série de reportagens “Os tentáculos do Comando Vermelho”, de autoria de Rafael Soares, de O Globo, foi a vencedora.
A categoria Prêmio IREE – Economia e Negócios foi vencida pela série “Desafio fiscal de estados e municípios”, de Idiana Tomazelli, da Folha de S. Paulo.
Outras duas menções honrosas foram concedidas pelo IREE. Uma ao podcast “Dois mundos”, sobre a morte de um indígena de contato recente que acompanhou sua mulher para dar à luz em Manaus e acabou morto sob a custódia da polícia, de Vinicius Sassine, da Folha de S. Paulo, produzido com Raphael Concli, Daniel Castro, Gustavo Simon e Magê Flores.
E outra à reportagem sobre funcionários fantasmas do gabinete da Presidência da Câmara dos Deputados, de Lucas Marchesini e Raphael Di Cunto, da Folha de S. Paulo.
Reportagens mostram os riscos e a influência das bets na economia e na política
A série de oito reportagens do Estadão abordou a influência das bets na economia e na política, mostrando o poder e os riscos desse mercado bilionário para o País.
A reportagem “Bet que patrocina Flamengo ergue força política na Paraíba e se aproxima do Centrão em Brasília” mostrou como uma bet se mistura à administração no sertão da Paraíba por meio de partido do Centrão com planos de criação de grupo político para 2026.
A partir de levantamentos no Recife, a reportagem “Seis grupos controlam jogo do bicho em PE com ‘harmonia’ e migração para bets, apesar de inquérito” revelou como antigos grupos de jogo de bicho do Nordeste fazem o processo de migração para apostas esportivas online.
A reportagem também visitou a banca do bicho que levou à principal operação contra bets no Brasil e registrou como ela funcionava normalmente e de forma associada a uma das maiores casas de apostas liberadas pelo Ministério da Fazenda, em “Banca do ‘bicho’ que gerou operação contra bet gira R$ 1 milhão ao mês e faz apostas com site ilegal”.
Com restrições impostas pelo governo, bets passaram a recorrer a um mesmo juiz para conseguir liberações de operação. A reportagem “Bets usam juiz para manobrar Judiciário e escapar de controle do governo sobre casas de apostas” aponta o passo a passo da estratégia que acaba por liberar empresas que não cumprem requisitos por fora dos controles formais.
Também como parte da série, o Estadão tratou sobre a popularização das casas ilegais com a regularização do mercado de bets. A reportagem “‘Bets chinesas’ movimentam dinheiro por contas fraudadas e vítimas são ameaçadas por apostadores” abordou como golpistas usam dados de vítimas para movimentar recursos sem que elas saibam e simular operações que também deixam de pagar apostadores.
A reportagem “‘Bets chinesas’ usam ‘laranjas’ para entrar em lista oficial do governo e dar golpe com ‘tigrinho’” mostrou como empresas de fachada abertas por estrangeiros em nomes de “laranjas” brasileiros usam documentos de beneficiários de programas sociais para abrir firmas fraudulentas e registrá-las junto ao governo.
Um levantamento mostrou ainda que o Ministério da Fazenda recebeu cadastros de bets que tinham como “donos” beneficiários do Bolsa Família, na reportagem “Fazenda tem 18 pedidos para bets abertas por beneficiários de programas como o Bolsa Família”. O fenômeno evidenciou um tipo de fraude que possibilitou a operação de dezenas de apostas ilegais com movimentação de recursos desconhecida.
A reportagem revelou que uma bet driblou as condições exigidas para obter autorização de funcionamento e, mesmo sendo ligada ao jogo do bicho, ganhou o aval para operação. O trabalho “Ministério da Fazenda libera bet para empresa suspeita de integrar esquema de jogo do bicho” expôs falha nos mecanismos de controle do mercado regulado de apostas.
‘Estadão’ venceu edições anteriores do Prêmio IREE
Nos últimos quatro anos, o Estadão também venceu a categoria principal do Prêmio IREE.
- Edição de 2024
Na edição do ano passado, a maior premiação foi concedida à série de reportagens que contou como integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV) se infiltraram nos municípios para capturar contratos milionários com prefeituras do País e para influenciar as eleições.
- Edição de 2023
Em 2023, o jornal venceu a premiação com a série de reportagens que revelaram a operação montada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para trazer para o País joias que recebeu de presente do regime da Arábia Saudita.
- Edição de 2022
No Prêmio IREE de 2022, o Estadão ganhou a categoria principal com a série de reportagens sobre o esquema do gabinete paralelo no Ministério da Educação de Jair Bolsonaro, o que levou à prisão do ministro Milton Ribeiro,
- Edição de 2021
Em 2021, a série de reportagens sobre o orçamento secreto, revelado pelo Estadão, foi a grande vencedora da premiação. O mecanismo passou a ser proibido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
- Edição de 2020
Na primeira edição do prêmio em 2020, a revelação de um depósito de lixo da Petrobras no fundo do mar foi vencedora na categoria de reportagem de economia e outras duas séries de reportagem do Estadão receberam menção honrosa do IREE.
