3 de dezembro de 2025
Politica

Empresa que acompanhou licitação com ministro deve ganhar novo contrato com INSS, de R$ 378 milhões

BRASÍLIA – A empresa que ganhou uma licitação de R$ 117,7 milhões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no mesmo dia em que o seu sócio esteve no Ministério da Previdência, em 2023, está prestes a ampliar a presença na autarquia com um novo contrato, de R$ 378 milhões.

A pernambucana Provider, do recifense João Luiz Dias Perez, ofereceu o menor preço no pregão eletrônico aberto para seleção de uma firma para outra das três centrais de teleatendimento a beneficiários do INSS por meio do 135.

A sede do INSS, em Brasília
A sede do INSS, em Brasília

A reunião virtual para a disputa de preços foi realizada em 4 de novembro, com 21 concorrentes. A Provider aparece como homologada no certame desde 17 de novembro, mas ainda não assinou o contrato com o INSS.

Procurada pela reportagem, a autarquia informou que “o processo encontra-se em andamento” dentro do órgão e “aguardando manifestação técnica, jurídica e administrativa”.

O INSS é presidido pelo procurador federal Gilberto Waller Júnior, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir a autarquia depois da primeira fase da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal. A antiga direção foi afastada por suspeitas de envolvimento no esquema de descontos associativos ilegais.

O INSS tem três centrais de teleatendimento, em Salvador (BA), Recife (PE) e Caruaru (PE). A nova licitação, em andamento, é para operar a central de Recife (PE) até 2031. A Provider já tem o contrato para prestar o serviço em Caruaru (PE) até 2027.

Foi durante essa licitação para a Central de Caruaru, em 22 de junho de 2023, que o dono da empresa passou o dia dentro do Ministério da Previdência, ao qual o INSS é ligado. A informação foi revelada pelo Estadão.

Dias Perez chegou ao prédio às 10h14 e ficou no local até 17h32, segundo os registros da portaria. A sessão para envio dos lances pelas empresas interessadas no contrato havia sido aberta às 10 horas.

O ministro da Previdência, Wolney Queiroz
O ministro da Previdência, Wolney Queiroz

A agenda oficial das autoridade públicas registra um único compromisso do empresário naquele dia: uma reunião realizada entre 12 horas e 13 horas com Wolney Queiroz, na época secretário-executivo da pasta e, desde maio deste ano, chefe do ministério. No período de duração da agenda o pregão ainda estava em disputa, com empresas ofertando lances.

O ministério não soube explicar o porquê de o empresário ter ficado tanto tempo dentro dos espaços do governo no mesmo dia do pregão. À reportagem, João Perez disse que não precisava dar satisfações. Procurado novamente nesta terça-feira, 2, ele não retornou a tentativa de contato.

O perfil profissional de João Perez, da Provider, no LinkedIn
O perfil profissional de João Perez, da Provider, no LinkedIn

A partir das informações reunidas pelo Estadão, Wolney Queiroz determinou uma apuração interna sobre a “eventual presença” do empresário nas dependências do ministério no dia licitação.

Em nota, o ministério afirmou que a reunião de Wolney com o empresário foi marcada para tratar de serviços prestados pela empresa. A Provider já tinha o contrato de Caruaru, assinado em 2017 e prorrogado com aditivos até meados de 2023. Disse ainda que a licitação era protegida de influências externas.

Dessa reunião também participou o advogado Osório Chalegre de Oliveira, um aliado político de Wolney Queiroz que foi integrante da equipe de José Queiroz (PDT), pai do ministro, na prefeitura de Caruaru.

Na época, Chalegre não tinha cargo no governo, o que só ganhou um ano depois. Conterrâneo do ministro, hoje ele é o secretário-executivo adjunto da pasta.

Segundo o ministério, o aliado dos Queiroz participou da reunião no ministério na condição de “colaborador eventual” por causa de sua experiência na área.

Wolney é ministro da Previdência desde a demissão do então titular da pasta, Carlos Lupi, em maio, em decorrência da pressão por providências governamentais contra os descontos associativos ilegais.

 

 

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