4 de dezembro de 2025
Politica

Dino vê ‘processo endêmico de corrupção’ em esquema que cita deputado por desvio de emendas

Na decisão em que autorizou a Operação Fake Road – investigação sobre supostas fraudes em licitações de obras do DNOCS -, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, apontou a existência de um ‘processo endêmico de corrupção e desvio’. O esquema teria sido financiado por emendas parlamentares patrocinadas pelo deputado federal Robério Monteiro (PDT-CE), segundo a Polícia Federal.

A reportagem do Estadão pediu manifestação do deputado Robério Monteiro. O espaço está aberto.

A mando do ministro, a PF apura suspeitas de superfaturamento em municípios cearenses onde o deputado mantém laços familiares, além de obras não executadas e contratos usados para desviar mais de R$ 22 milhões em recursos públicos.

Ministro do Supremo assinalou que 'as fraudes executadas foram inteiramente orquestradas'
Ministro do Supremo assinalou que ‘as fraudes executadas foram inteiramente orquestradas’

‘Ao que tudo indica, estamos diante de um cenário robusto de favorecimentos espúrios, potencialmente vinculado a um processo mais endêmico de corrupção e desvio’, assinalou o ministro no documento de 37 páginas, ao qual o Estadão teve acesso.

A Operação Fake Road foi deflagrada na sexta, 28. O parlamentar não foi alvo de buscas, mas seu nome é predominante na decisão de Flávio Dino.

O ministro indica ‘ausência de transparência concreta do uso das emendas parlamentares e na destinação de recursos públicos’. Para ele, o cenário é uma ‘peculiaridade’ do ‘famigerado orçamento secreto’, revelado pelo Estadão em 2021.

As investigações começaram após auditorias da Controladoria-Geral da União apontarem indícios de superfaturamento, execução parcial ou inexistente de serviços, medições fraudulentas e favorecimento de empresas contratadas.

A análise se concentrou em dois contratos públicos firmados em Itarema e Aracaú, ambas no litoral cearense, cidades administradas por familiares do deputado, e encontrou irregularidades em contratos de pavimentação do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) financiados com emendas destinadas por Robério.

Para a PF, esquema foi financiado com emendas parlamentares do deputado federal Robério Monteiro (PDT-CE)
Para a PF, esquema foi financiado com emendas parlamentares do deputado federal Robério Monteiro (PDT-CE)

A CGU identificou o superfaturamento de R$ 6.845.360,17 nos dois contratos firmados entre o poder público, na figura do DNOCS, e a empresa Construmaster, que teve mais de R$ 20 milhões em bens bloqueados por decisão de Dino.

‘Suplementarmente, é de se registrar a existência de indícios substanciais de que o deputado federal Robério Monteiro tenha participado, pelo menos, do processo de desvio, notadamente a partir dos indícios de beneficiamento político a partir do direcionamento dos recursos encaminhados via emenda de comissão’, sintetiza a decisão.

O ministro do Supremo, que critica reiteradamente a falta de transparência das emendas, assinala que ‘as fraudes executadas foram inteiramente orquestradas, justamente almejando angariar lucratividade espúria a partir da fraude contratual’.

‘O aparente cruzamento de demandas financeiras e de serviços escancara a forma pouco clara e transparente pela qual são destinadas e utilizadas as emendas parlamentares’, crava o ministro.

Anexado à decisão de Dino, o parecer da CGU calcula um superfaturamento de R$ 11.006.043,20, correspondente a 46,27% do valor medido em um dos contratos suspeitos.

No segundo contrato, investigados teriam embolsado R$ 2.501.097,77, cerca de 31% a mais do que o previsto.

‘Foram identificados pagamentos por serviços não executados, como pavimentação de vias inexistentes, placas de obras e projetos executivos não entregues’, detalha o ministro, que também criticou a ‘atuação insatisfatória’ do DNOCS ao aprovar os contratos ‘sem a devida verificação documental e técnica’.

A decisão ainda ressalta a forma ‘escrachada’ – nas palavras do ministro – de como o uso de fotos falsas era recorrente no expediente criminoso para comprovar a realização das obras.

“A utilização de imagens de outros locais ou manipuladas para simular a execução de serviços é uma grave irregularidade que compromete a transparência e a confiabilidade do processo de fiscalização. Mais do que isso: comprova, de maneira irretorquível, que a empresa contratada fraudou a execução do contrato ora analisado, dolosamente’, conclui o ministro.

COM A PALAVRA, O DEPUTADO ROBÉRIO MONTEIRO

O Estadão pediu manifestação do deputado. O espaço está aberto.

COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS

A reportagem pediu manifestação da Construmaster e do DNOCS. O espaço está aberto. (fausto.macedo@estadao.com; aguirre.talento@estadao.com)

 

 

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