4 de dezembro de 2025
Politica

‘ADPF da Blindagem’ validada por Gilmar pode respingar em Messias e impulsionar ações de retaliação

Aliviado com o anúncio do presidente do Senado Federal de, forçadamente, adiar a sabatina que pode levá-lo ao Supremo Tribunal Federal, o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, ganhou mais um motivo para se preocupar. A decisão do ministro Gilmar Mendes, que dificultou o impeachment de integrantes da Corte, é um tijolinho no difícil muro que o separa do cargo no Judiciário. Farejando o risco, Messias, representando a AGU, pediu a Gilmar Mendes que reconsidere a liminar.

A lógica é muito simples: se é mais difícil tirar um ministro do Supremo Tribunal Federal, a decisão de colocá-lo também se torna mais importante. Principalmente se for alguém que não se quer na Corte. Para Davi Alcolumbre, presidente do Senado e principal entrave à aprovação de Messias, este é o caso do ministro da AGU. Não pelo fato de haver qualquer problema pessoal com ele, mas pela preferência por um nome mais alinhado aos interesses do Congresso.

Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, autor da decisão monocrática que alterou rito de impeachment de integrantes da Corte
Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, autor da decisão monocrática que alterou rito de impeachment de integrantes da Corte

A grande preocupação com o tema, como já falei em mais de uma ocasião por aqui, se dá pelo fato de que o debate sobre as emendas parlamentares deve ser intenso na Corte nos próximos anos. Não apenas nas ações penais contra parlamentares que se lambuzaram com o orçamento secreto, como é o caso do julgamento de deputados do PL que se aproxima, mas também com uma discussão futura sobre o tamanho do volume de emendas e, principalmente, a impositividade do orçamento. Esta, a principal ferramenta para o Congresso manter o Executivo sob amarras, está em risco se o STF resolver discutir o tema. Melhor seria, portanto, que o debate se desenvolvesse com um nome mais alinhado ao Parlamento na Corte.

A decisão de Gilmar indica uma intenção do STF de tocar em certas feridas sem o risco de sofrer ameaças do Parlamento e isso tende a deixar o clima mais anuviado.

Não parará por aí. Também alimentará retaliações, com medidas legislativas que, no sentido inverso, buscam avançar sobre as prerrogativas do STF. Se o STF pode se blindar, o Legislativo também pode. Se a Corte pode ampliar seus Poderes, o Congresso também. E o discurso duro de Alcolumbre nesta quarta-feira, 3, demonstra o tamanho da irritação na Casa e a disposição de reagir.

Aliás, não é de hoje que parlamentares trabalham com esse intuito. A busca por garantir que seus membros sejam intocáveis é conhecida e cheia de exemplos. Os mais recentes são a tentativa de aprovar a PEC da Blindagem, que chegou a ser aprovada na Câmara, a manutenção do mandato de deputados que fugiram para o exterior, hoje presos, foragidos ou enrolados, mesmo se condenados já com trânsito em julgado, ou a ofensiva para tentar barrar o andamento da ação penal de um deles.

No Executivo isso se dá de outra forma. Escaldado pelas condenações do mensalão que atingiram em cheio figuras de seu círculo político e da Lava Jato, a que o levou a 580 dias na cadeia, com o aval inicial do STF, o presidente da República agora só indica seus mais próximos aliados para a Corte. Foi assim quando escolheu seu advogado, depois com seu ministro mais destacado e, agora, com seu advogado-geral da União. Como se tentasse criar uma bancada de confiança na Corte para se proteger.

No caso do STF, se a decisão da “ADPF da Blindagem” for mantida pela maioria dos demais ministros, há um agravante. A Corte, com a força de ser a último a interpretar a Constituição, dará a palavra final sobre o que vale ou não vale. Independentemente do desejo dos demais Poderes, o que é uma anomalia quando a Corte quer legislar. Que contribui para impedir que os ministros sejam alvos de processos políticos conduzidos para impor que suas decisões sejam de um jeito ou de outro, o que é positivo em tempos tão nebulosos, mas abrindo caminho para que não possuam controle efetivo nenhum. Aí mora um enorme perigo.

 

 

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