5 de dezembro de 2025
Politica

Jovem de direita é resultado de um Brasil evangélico e uma esquerda reacionária

Um importante levantamento realizado pela empresa de pesquisas de opinião Atlas Intel para a Bloomberg escancarou uma realidade que as vistas grossas não fizeram nunca questão de se aprofundar, que é a endireitização das gerações mais jovens brasileiras. Esse dado pode revelar um fracasso das gestões de esquerda que governaram o Brasil por 18 anos dos 25 do novo século, ou seja, 72% do tempo, desde que entramos no XXI, e que parece não ter conseguido criar uma linhagem que coadunasse com os seus valores. A pesquisa aponta para uma diferença alarmante de aprovação da atual gestão por corte etário, mostrando que entre os 16 e 24 anos, por exemplo, 62% consideram o governo Lula ruim ou péssimo ante 31% dos que possuem mais de 60 anos, exatamente o dobro de avaliação negativa, ratificando essa percepção.

A perda da capacidade de se indignar e a luta por uma preservação forçada de conquistas passadas, que já não mais dialogam com a realidade, mostram uma esquerda que se esqueceu do seu nascedouro. Remontando à Assembleia Nacional Constituinte, resultada da Revolução Francesa, aqueles que se sentavam à esquerda do presidente eram vistos como os revolucionários, que queriam derrubar a monarquia absolutista e que defendiam os lemas do iluminismo, a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Eram os jacobinos, os cordeliers, os montagnards, que buscavam enfrentar um status quo, que não mudava realidades e condenava a população a uma vida de castas, hierarquizada e sem mobilidade social.

Muitos jovens olham para as denominações protestantes como uma porta para um mundo de mobilidade e materialização dos desejos
Muitos jovens olham para as denominações protestantes como uma porta para um mundo de mobilidade e materialização dos desejos

Com a Revolução Industrial, o advento do capitalismo e a posterior derrubada do muro de Berlim, que simbolizou a vitória desse sistema na Guerra Fria, a esquerda brasileira, presa nas convicções do mundo sino-soviético, não conseguiu se desassociar da lógica dos super estados provedores e tem dificuldade em perceber que o desejo pelo consumo e pelos bens foi uma das maiores forças para que fossem derrotados. A liberdade de escolha, defendida pelo ocidente democrático, criou uma nova forma de relação no mundo, em uma nova ordem, em que indivíduos, corporações, associações, tornaram-se protagonistas como atores do plano internacional.

Neste novo contexto as relações capital-trabalho mudaram significativamente e têm passado por uma alteração ainda mais abrupta com a Revolução Tecnológica e o aprofundamento da Era do Conhecimento. É importante salientar que o conceito de sociedade tem por base o trabalho, que advém das primeiras experiências agrícolas no período neolítico, há 10 mil anos antes de Cristo. Nessa nova sociedade, não há mais espaço para regramentos duros, que tinham como lógica uma ordenação de relacionamento pós um longo período escravagista. Essa reflexão é apenas para salientar um dos pontos que mostram uma esquerda absolutamente parada no tempo, que não conseguiu, por exemplo, discutir de maneira aprofundada a Reforma Trabalhista, realizada durante o governo Temer.

No mundo dos aplicativos, das mensagens instantâneas e dos ganhos pela internet, fica quase impossível definir o que é jornada de trabalho, horas a serem cumpridas e outras tantas pautas, que não fazem mais sentido para os millenials e menos ainda para a geração Z. Quando um chefe manda uma mensagem pós hora de trabalho formal, pode ser considerado trabalho extra? Acessar o email do trabalho do celular, durante um jantar em família entra nessa categorização? Pode um entregador do Ifood também consertar carros e ter uma reparadora de ar-condicionado? São perguntas simples e do cotidiano que mudaram os hábitos dessa relação e que ficaram absolutamente esquecidas por uma esquerda presa na CLT varguista, que vai cumprir quase 100 anos de existência.

Esse reacionarismo da esquerda cria um paralelo em outro campo com a dificuldade de atualização da Igreja Católica. Preso nos seus dogmas, o catolicismo tem envelhecido e sido pouco atrativo para os jovens. Conceitos como voto de pobreza, a relação com o pecado e as confissões, afastaram muitos jovens que olham para as denominações protestantes com um olhar de esperança para um mundo de mobilidade e busca por materialização dos desejos. O jovem não quer esperar a recompensa no céu, quer aproveitar as benesses do mundo de hoje, e nesse sentido, as igrejas neopentecostais, baseadas na teoria da prosperidade, apontam um caminho mais agradável para uma geração que busca o imediato.

O sucesso de Pablo Marçal na eleição paulistana e o perfil dos seus votos revelam essa realidade. A proliferação de pastores youtubers e igrejas como a Bola de Neve, Hillsong e a Lagoinha, com estética moderna, mensagens de fácil entendimento, mostram essa conexão de fé e idade. O crescimento vertiginoso de evangélicos no Brasil, nos últimos 35 anos, mostra uma geração que já nasceu sob uma ótica de profissão de fé completamente nova e que tende a ser dominante no País. Uma pesquisa da RealTime Big Data aponta para que entre os que se consideram evangélicos, 75% dizem serem atuantes ou praticantes, enquanto apenas 33% dos católicos respondem da mesma maneira. Considerando que o Brasil tem, de acordo com o IBGE, 57% de católicos e 27% de evangélicos, temos 21% de evangélicos praticantes contra 19% de católicos na mesma situação.

Igrejas neopentecostais, baseadas na teoria da prosperidade, apontam um caminho mais agradável para uma geração que busca o imediato. O sucesso de Pablo Marçal na eleição paulistana e o perfil dos seus votos revelam essa realidade.
Igrejas neopentecostais, baseadas na teoria da prosperidade, apontam um caminho mais agradável para uma geração que busca o imediato. O sucesso de Pablo Marçal na eleição paulistana e o perfil dos seus votos revelam essa realidade.

Essa combinação entre uma nova população evangélica, que busca a liberdade econômica e não se importa tanto com temas progressistas, já que nasceu em um mundo onde muitas dessas pautas já não são mais tabus e uma esquerda que parou no tempo e não tem a capacidade de sair das pautas identitárias e falar sobre economia, prosperidade, empreendedorismo e mobilidade social real, trouxe para o Brasil uma geração de jovens que se assumem como de direita. Na sondagem comandada pela Atlas, 52% dos que pertencem à geração Z, se consideram de direita, bem como 51% dos millenials. São os grupos etários vindouros a partir do início da década de 80 e que começaram a ter percepção social no início dos 90.

Enquanto a direita apresenta seus Nikolas, Gayers, filhos de Bolsonaro, Cletinhos e etc, a esquerda vive sob a sombra de Lula, apontando para candidaturas de sexagenários e septuagenários, como Benedita da Silva, no Rio, Marta Suplicy, em São Paulo e Jaques Wagner, na Bahia. Uma esquerda cansada, que tem medo de se renovar e que parece temer e rejeitar novas safras, até quando aparecem perfis que poderiam trazer frescor para o movimento, como João Campos, prefeito do Recife, ou até moderados de centro, como Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.

Com a direita dando voz aos indignados com o sistema, a esquerda precisa urgentemente buscar um divã. Os dados revelam que para uma próxima eleição pode até ser possível uma vitória, mas que a médio prazo o caminho deve ser muito difícil. A perda dos votos nas cidades grandes já é um presságio para um futuro que tende a ser desolador. Em 2022, Lula perdeu para Bolsonaro em 16 das 27 capitais brasileiras, dando indícios desse prognóstico. Jean-Jacques Rousseau falava que “o homem nasce livre, mas por toda a parte encontra-se acorrentado.” Para a esquerda brasileira, resta romper as correntes e buscar recuperar o discurso da liberdade, para que ainda consiga ser guardiã do tríplice lema do iluminismo.

 

 

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