Lula chama ministros para conduzir dança das cadeiras de 2026 e tenta conter debandada eleitoral
BRASÍLIA – Daqui a quatro meses o governo perderá praticamente a metade de seus ministros em áreas estratégicas, como a articulação política e a economia, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não escolheu quem serão os substitutos.
Enquanto as atenções políticas se voltam para o cabo de guerra entre o Palácio do Planalto e o Congresso, além do anúncio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como candidato à sucessão de Lula, a dança das cadeiras é tratada longe dos holofotes.
A titular da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, por exemplo, deve deixar o cargo no início de abril para concorrer a novo mandato como deputada federal pelo Paraná. Ninguém sabe, no entanto, quem assumirá a sua cadeira.
Lula também tem planos para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tanto pode concorrer ao Senado por São Paulo como ao Palácio dos Bandeirantes, em 2026. Até agora, o mais cotado para chefiar a equipe econômica na ausência de Haddad é o secretário-executivo, Dario Durigan.

O presidente já começou a chamar os auxiliares para conversar sobre a campanha. Há uma semana ele pediu para o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, desistir de disputar a reeleição como deputado federal e continuar na Esplanada. No lugar de Marinho, o PT terá como candidato o atual presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges.
“Essa não foi uma decisão simples, não foi uma decisão fácil”, admitiu Marinho em vídeo postado nas redes sociais. “Ser candidato novamente era um desejo legítimo, construído junto com vocês. Mas, neste momento, o que está em jogo é maior do que um projeto pessoal. O mais importante é a continuidade do projeto nacional liderado pelo presidente Lula”.
A planilha do governo mostra uma debandada: dos atuais 38 ministros, 19 cogitam deixar os cargos no fim de março ou início de abril, como manda a lei, para disputar as eleições. Pode ser até mesmo um número maior. E, depois de tantos embates entre o Centrão e Lula, a maioria dos ministérios ficará agora nas mãos dos atuais secretários-executivos.
Na prática, são eles que muitas vezes tocam o dia a dia, mas sempre há assentos mais cobiçados, sobretudo na chamada “cozinha” do Planalto.
No caso de Gleisi, a equação é mais complicada porque ela está conduzindo as negociações entre o governo e o Congresso em um momento de muita tensão. Mas o governo conta com uma trégua na crise após o esvaziamento da Câmara e do Senado, em meados do ano que vem, quando parlamentares entram numa espécie de “recesso branco” para ir atrás de votos.
Apesar das dificuldades inerentes ao cargo de Gleisi, classificado até mesmo por aliados do Planalto como uma “batata quente”, há uma queda de braço por sua vaga nas fileiras do PT, partido que ela comandou por sete anos e meio.
Ao que tudo indica, no organograma do ministério não há sucessores para Gleisi. O secretário-executivo, Gustavo Ponce, deixou o posto no fim de novembro e passou o bastão para o diplomata Marcelo Costa, que era chefe de gabinete. Costa, porém, não tem perfil de articulador político. Com bom trânsito na Câmara, o secretário de Assuntos Parlamentares, André Ceciliano, carrega essa credencial, mas vai concorrer a uma vaga de deputado estadual no Rio.
Diante da crise com o Congresso, há quem diga que Lula pode até mesmo pedir a Gleisi para ficar. Não é, porém, uma hipótese provável porque a ministra puxa votos para o PT no Paraná, um Estado com forte presença bolsonarista.
“Ainda não conversei com o presidente sobre esse assunto”, desconversa Gleisi, sempre que é questionada a respeito de sua saída para fazer campanha.
Simone Tebet (MDB), do Planejamento, também deixará o cargo e pode ser substituída pelo assessor especial da Casa Civil, Bruno Moretti. A intenção da ministra é concorrer novamente ao Senado, mas, desde que apoiou Lula, no segundo turno da campanha de 2022, perdeu votos em seu reduto no Mato Grosso do Sul, Estado classificado como conservador.
Por causa desse imbróglio, a tendência é que Simone dispute a vaga ao Senado por São Paulo. O jogo do primeiro escalão também depende dos movimentos do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Embora Flávio Bolsonaro tenha surgido como desafiante de Lula com a benção do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro – que está preso por tentativa de golpe –, integrantes do governo veem sua candidatura como um “balão de ensaio”. Por esse raciocínio, o anúncio de Flávio não passa de uma estratégia, com o objetivo de guardar lugar para o verdadeiro herdeiro de Bolsonaro.
Se Tarcísio concorrer ao Planalto, Lula considera a possibilidade de lançar o vice Geraldo Alckmin (PSB) como candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Até o momento, Lula quer que Alckmin – ex-governador de São Paulo por quatro mandatos –continue a fazer dobradinha com ele, mas tudo pode mudar conforme o cenário político.
De qualquer forma, mesmo se permanecer na vice-presidência, Alckmin precisará sair do comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A vaga será preenchida pelo secretário-executivo, Márcio Elias Rosa.
A ala do MDB que apoia o presidente chegou a sugerir que Simone seja vice na chapa. O partido, porém, continua dividido. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), já avisou que a sigla não fechará com Lula em 2026.
Desafeto de Haddad e gerente do governo, o chefe da Casa Civil, Rui Costa, é outro que vai sair: será candidato ao Senado pela Bahia. Miriam Belchior, secretária-executiva da Casa Civil, ocupará o posto.
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, também quer que a ministra da Cultura, Margareth Menezes, concorra a deputada federal. Cantora de renome, Margareth foi convidada para se filiar ao PT e avalia a proposta para entrar no páreo, mas ainda não deu resposta definitiva.
“Vocês perceberam que ela já está com uma desenvoltura? Parece que ela está querendo ser candidata a alguma coisa”, disse Lula à plateia, no mês passado, durante cerimônia de lançamento do Plano Nacional de Cultura.
O ministro da Educação, Camilo Santana, é outro curinga do PT para 2026. Senador licenciado, Camilo vem recebendo apelos para entrar na briga pelo governo do Ceará, caso Ciro Gomes, recém-filiado ao PSDB, seja mesmo candidato.
Ciro está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto e o atual governador, Elmano de Freitas – sucessor de Camilo –, tem enfrentado problemas. Agora, o PT – que por um triz não perdeu a prefeitura de Fortaleza – teme ser despejado do Palácio da Abolição.
