Rejeição a Flávio e ao sobrenome Bolsonaro desencadeia campanha pró Tarcísio
O tímido lançamento do senador Flávio Bolsonaro à Presidência, por ele próprio, numa mera notinha, deixa dúvidas se é para valer ou não, racha a direita e é comemorado pelo lulismo. Tudo somado, o principal efeito foi o oposto do desejado pela família: deflagrar uma campanha de setores políticos, econômicos e financeiros a favor de Tarcísio Gomes de Freitas. O não a Flávio é o sim a Tarcísio contra Lula.
Como levar a sério um lançamento feito pelo próprio interessado, numa nota desenxabida de poucas linhas, no fim tarde de uma sexta-feira, o dia mais morno, ou morto, na política? A primeira impressão foi natural: isso não é sério, foi só para conter a onda pró Michelle Bolsonaro, enquanto é tempo. Ou seja, um movimento preventivo.
E como reagiu a direita? Como sempre, rachada. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, nem sequer foi informado diretamente pelo “capitão Bolsonaro”, não demonstrou animação, muito menos soltou fogos, usou apenas um tom conformado: “Flávio me disse que o nosso capitão confirmou sua pré-candidatura. Então, se Bolsonaro falou, está falado!”. Soa assim: “Ah, tá bem, tanto faz”.

O Centrão, como sempre, não tem pressa nem bate de frente com o bolsonarismo, apenas observa os ventos, confere a temperatura e espera as condições ideais para definir em que barco pular e que rumo tomar. Neste momento, não parece ser nem o barco nem o rumo do bolsonarismo, seja com Flávio ou não. O PSD, por exemplo, topa a aventura?
E o lulismo, no Planalto e por toda parte, considera Flávio o adversário ideal. Divide a direita e carrega a alta rejeição ao pai, preso e inelegível, e seus próprios “esqueletos no armário”, como se diz em Brasília: “rachadinhas”, loja de chocolate, contrato de uma casa milionária assinado num cartório bem escondidinho. Se bem que, nessa seara, Lula não leva nenhuma vantagem…
A partir da dúvida, do racha da direita e da comemoração na esquerda, compreende-se a reação do mercado, rápida, poderosa e clara: Flávio Bolsonaro, não! Ou melhor, nenhum Bolsonaro! Quem, então? Tarcísio, que vem sendo moldado para garantir os votos bolsonaristas e ampliá-los com os do centro, particularmente da centro-direita, que fizeram a diferença pró Lula em 2022.
Tarcísio teme trocar o certo pelo não sabido, ou seja, a reeleição ao Bandeirantes pela disputa ao Planalto, e se tem a base paulista e aliados como o mundo financeiro e econômico, a classe média conservadora e o difuso universo anti-PT, precisa combinar com os adversários, ou “os russos”: justamente os Bolsonaro e o eleitor que não aceita nem Lula nem Bolsonaro.
Seja Flávio só balão de ensaio ou não, seu pai nunca deu sinal de apoio a Tarcísio. E não é com Guilherme Derrite na Segurança, Renato Feder na Educação e Valéria Bolsonaro na Secretaria das Mulheres que ele vai atrair, decisivamente, o centro e o voto órfão tucano.
Lula continua jogando parado e todos os movimentos vêm do lado oposto. Bom ou ruim para o petista, hoje o favorito nas pesquisas? Bom para se preservar. Ruim porque quem chama a atenção, provoca emoções e instiga o debate é a direita. Campanha é isso.
