20 de dezembro de 2025
Politica

Glauber Braga já dá como certa cassação; leia a última entrevista do deputado antes da votação

BRASÍLIA – O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) já dá como certa sua cassação. Antes de a sessão de votação no plenário da Câmara começar, o parlamentar se refugiou nas galerias da Casa. Foi ali que deu a entrevista ao Estadão, apontando quem considera ser culpado por seu destino na Câmara.

Com a cassação, o deputado há 16 anos na Câmara ficará inelegível até 2035.

Deputado Glauber Braga sozinho nas galerias do plenário da Câmara antes da votação do processo de cassação.
Deputado Glauber Braga sozinho nas galerias do plenário da Câmara antes da votação do processo de cassação.

Em entrevista ao Estadão, Glauber diz que não se arrepende dos chutes que deu num ex-militante do Movimento Brasil Livre (MBL), motivo que levou a abertura do processo por quebra de decoro parlamentar, e acusou os ex-presidentes da Câmaras Arthur Lira (PP-AL) e Eduardo Cunha (Republicanos-RJ) e o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), de articularem pela sua queda. Glauber também se emocionou ao falar sobre a conversa com a deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP) e ao refletir sobre sua trajetória no Congresso.

Glauber visitou a galeria e passou minutos sozinho, refletindo sobre sua trajetória política na Câmara.
Glauber visitou a galeria e passou minutos sozinho, refletindo sobre sua trajetória política na Câmara.

Leia a entrevista:

O sr. já tinha em mente ocupar a cadeira do presidente, como fez ontem?

Eu ontem de manhã participei de duas reuniões aqui na Câmara. Recebi a notícia no carro. Quando eu cheguei na garagem já me deram a notícia e gravei um vídeo imediato que as pessoas querem saber. Então, eu não tive tempo de nada. Tive tempo só de receber a notícia e tomar a decisão que era possível naquele momento.

Houve alguma conversa com alguém antes?

Eu conversei com (a deputada federal e esposa) Samia (Bomfim PSOL-SP). Mas não como uma consulta, falei que seria uma hipótese, que de repente poderia. E estava combinado entre nós também que eventualmente eu poderia fazê-lo, porque na greve de fome eu acabei não falando com ela. Porque estava preocupado que ela iria me convencer do contrário. A gente tem um filho, né?

Esperava a reação que veio, de ser retirado à força?

Eu não sabia que ele ia agir com grau de violência que reagiu. E de forma tão desproporcional em relação ao que tinha feito com a extrema direita e com o povo. O senhor tomou a decisão de imediato ontem, ou o senhor tá planejou algo quando ocupou a mesa? Como foi? Eu subi ontem, né? Mas olha, foi bom ter subido aqui. Olha isso. Olha isso que está acontecendo, porra. Tudo fechado e os caras (seguranças), coitados, tendo que se posicionar ali para eu não subir. Uns gostam de mim, outros não. Mas tem quem tem carinho. Eu nunca faria com eles o que Hugo Motta fez, de mandar eles fazerem uma coisa e depois dizer que não foi ele. É covardia. Ele nunca vai ser respeitado por eles. Ele pode ser superior, mas respeitado, nunca vai ser. E olha a contradição da vida, apesar do que aconteceu, eu sou respeitado por eles.

Ao longo de toda a tramitação do processo, o senhor culpou Lira de responsabilidade pela tramitação. O sr. ainda sustenta essa acusação?

Eu bati de frente direta e indiretamente com os tutores dele. Os três principais são Lira, (o ex-presidente da Câmara Eduardo) Cunha e o presidente do PP, Ciro Nogueira. Eu bati muito de frente no caso Refit, então acabei batendo nele também.

O sr. se arrepende do seu ato contra o militante do MBL?

Com certeza não. Ele é um pobre iabo. Mas eu defendi minha mãe. Ela faleceu alguns dias depois daquilo, não vou ser hipócrita. As coisas me emocionam na vida, de imediato, é difícil esquecer o choro. É mãe e filho. Eu sou capaz de fazer muito mais do que um chute na bunda para defender minha família.

Se cassado, que caminho o sr. pretende seguir?

Eu sou um militante socialista. Como profissão, sou advogado, mas eu sou militando e estou deputado. Militante serei para a vida toda, deputado estou aqui agora, na tarefa.

O que vem à mente do sr. ao olhar o plenário da Câmara?

A questão é que esse caso ele leva ao caso seguinte. Você imagina a vereadora ligada aos movimentos sociais, um município pequeno do interior que é contra-majoritária. A aprovação do meu caso com todos os holofotes consolida que isso aconteça. Será uma eleição importante para o próximo ano. Como fica o voto que faz luta ideológica? Estou ouvindo a voz da Samia (Ela falava abaixo, no plenário).

A voz da Samia?

Sim. Minha irmã está aqui. Proibida de entrar, também. Meu pai não veio. Eu avisei a ele antes de postar o vídeo. Ele tem 80 anos.

Alguma fala de algum militante hoje o sensibilizou?

Eu me emocionei muito com a conversa que tive com Erundina. Ela me disse que é minha mãe, que tem um carinho enorme. É difícil.

São quantos anos aqui na Câmara?

Desde 2009. Passou rápido. As coisas foram mudando muito. Eu tinha um apoio mais regionalizado. Foi se convertendo num voto de opinião, de posições políticas.

Tem alguma memória que o senhor leva daqui?

O carinho que eu tenho pelos trabalhadores aqui. Acabei de subir agora, lembrei da relação que tive com eles. Isso acontece o tempo tudo, é muito forte.

Com quem o senhor conversou ao longo do dia?

Eu converso com as pessoas que dão sustentação para mim. Conversei com pessoas de confiança, minha companheira, minha irmã, meu pai, minha segunda mãe, que é a Erundina que está aqui também, falei muito com ela hoje por telefone.

 

 

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