Outros tempos
Hoje em dia não se faz ligação sem antes perguntar – pelo Whatsapp – se a pessoa está disponível. Dependendo do caso, quem liga sem avisar pode até ser taxado de mal-educado. Criou-se um protocolo tácito. A exceção à regra são as infernais ligações de telemarketing, na maioria das próprias operadoras de celular. Uma chatice!
Outro comportamento que mudou, especialmente aqui nos trópicos, foi a pontualidade. Com o advento das reuniões online, o brasileiro ficou pontual. Não existem mais aqueles clássicos dez minutinhos de atraso tão comuns no passado. A coisa ficou séria!
Nesses dias enviei uma mensagem para um colega perguntando se ele estaria disponível pra falar. Eram 9h52 da manhã e ele respondeu: “Te ligo em 8 minutos, estou num call.” Ora, onde já se viu, no Brasil, alguém dizer que vai ligar em oito minutos? Isso tá mais pontual que trem na Alemanha…
O tempo vai passando, as tecnologias avançando e, com elas, os nossos hábitos e estilo de vida. Essa evolução chama muito a atenção de pessoas que, assim como eu, viveram boa parte da vida no mundo analógico – sem internet ou celular. Para nós, que já éramos adultos na virada do milênio, a comparação constante entre o mundo analógico e o digital é inexorável.
Aconteceu novamente neste final de semana, quando levamos 13 pré-adolescentes para praia. Era aniversário de 12 anos do nosso caçula, que queria acampar com os amigos. Depois de armadas as barracas no jardim, chegou o momento de decidir quem dormiria com quem. Como não houve consenso, sugeri um sorteio e logo fui escrevendo os nomes em tirinhas de papel. Foi quando uma das crianças saltou e disse: “Não precisa disso, tio! Vamos sortear na roleta. Eu tenho um aplicativo no meu celular.” Em dois minutos o problema estava resolvido — e o tio aqui ficou com cara de tacho…
Além da piscina, rolou também “polícia e ladrão” –brincadeira tradicional na minha época. O detalhe é que o condomínio é imenso — mais de 350 casas. Eles sairam em grupos e desapareceram na imensidão. Fiquei intrigado: como vão se achar? Porém, logo veio a resposta elementar: com o celular. Sim, através do celular eles se comunicavam e definiam as estratégias de como prender ou fugir do grupo rival.
Reuniões online com pontualidade britânica, aplicativos que fazem tudo, “polícia e ladrão” com GPS – são alguns dos sinais dos tempos. Definitivamente, outros tempos.
