Diretor de presídio em Mato Grosso convocou líder do CV para matar juiz em audiência, diz relatório
Diretores da Penitenciária Osvaldo Florentino Leite Ferreira, conhecida como ‘Ferrugem’, em Sinop (MT), são apontados como mandantes de uma conspiração para atentar contra a vida de um juiz, um promotor e um defensor público durante uma audiência realizada dentro da unidade prisional em 30 de outubro, 9h30 da manhã.
O plano teria como executor um integrante do Comando Vermelho, que afirmou ter sido ‘autorizado’ a entrar com um estilete na sala de audiência.

As informações constam de relatório do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e Socioeducativo do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, ao qual o Estadão teve acesso.
Sinop, a ‘Capital do Nortão’, com população de cerca de 225 mil habitantes, fica a 480 quilômetros de Cuiabá.
Segundo o documento, o detento Ismael da Costa dos Santos, apontado como líder da facção em Mato Grosso, afirmou em depoimento aos próprios alvos que a ação teria sido ‘encomendada’ pelo diretor do presídio, Adalberto Dias de Oliveira, e pelo subdiretor Antônio Carlos Negreiros dos Santos, descrito como seu braço direito na unidade.
A reportagem busca contato com os diretores do presídio. O espaço está aberto.
A ordem, segundo o relato, era para que Ismael avançasse contra o juiz Marcos Faleiros da Silva, o promotor de Justiça Luiz Gustavo Mendes de Maio e o defensor público Érico Ricardo da Silveira durante a sessão de depoimentos.

A motivação estaria relacionada às inspeções realizadas pelas autoridades no presídio para apurar denúncias de tortura e violência contra presos atribuídas a policiais penais da unidade.
‘Chucho’
Ismael afirmou que, em troca da execução do plano, recebeu a promessa de regalias dentro da unidade. Entre os benefícios citados estão a transferência para o chamado ‘Raio Evangélico’, onde os internos têm maior liberdade de circulação, e a garantia de vaga em trabalho externo, considerada rara na ‘Ferrugem’.
O detento teria sido autorizado a entrar na sala de audiência portando um estilete artesanal, conhecido como ‘chucho’. Ele afirmou, no entanto, que optou por não levar a arma no dia da oitiva.
‘Marca-passo’
Durante o depoimento, Ismael chamou a atenção do juiz que conduzia a audiência e do promotor ao demonstrar que estava sem algemas nos pés, conhecidas como ‘marca-passo’. Em seguida, levantou os braços e mostrou que as algemas nos pulsos estavam abertas. Ao girar os braços, as algemas caíram no chão.
De acordo com o relatório, o ‘marca-passo’ teria sido retirado de forma deliberada e as algemas de mão colocadas de maneira simulada, permitindo que o líder do Comando Vermelho se soltasse com facilidade para atentar contra o juiz, o promotor e o defensor. Segundo os diretores, o atentado iria ‘descredibilizar’ os relatos de tortura dos presos e desviar o foco das inspeções.
O relatório aponta ainda que não havia policiais penais nas proximidades da sala de audiência, apesar de o magistrado ter solicitado a presença dos agentes responsáveis pela escolta.
A ausência foi classificada como uma quebra evidente do protocolo de segurança.
Os indícios reunidos sugerem que os policiais penais teriam se ausentado de forma deliberada para permitir a ação do detento, segundo a avaliação do Grupo de Monitoramento e Fiscalização.
Em nota, o Ministério Público de Mato Grosso afirmou que ‘o promotor de Justiça Luiz Gustavo Mendes de Maio está bem e trabalhando normalmente’.
“Não houve qualquer ato executório de atentado contra ele e há uma investigação em andamento conduzida pela Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso, para apurar os fatos noticiados”, informou a Promotoria.
A reportagem busca contato com o juiz Marcos Faleiros da Silva e o defensor público Érico Ricardo da Silveira. O espaço está aberto.
