Vitórias de Lula no Congresso dão previsibilidade econômica, mas não eliminam instabilidade política
O encerramento do ano legislativo trouxe ao governo Lula um resultado melhor do que o esperado no Congresso. A aprovação de um pacote relevante de medidas fiscais na última semana de votações não apenas reverteu derrotas anteriores como também aumentou a previsibilidade da política econômica para 2026. O governo sai fortalecido, com uma base mínima para executar o orçamento e sustentar o arcabouço fiscal no próximo ano.
O ponto central foi a aprovação do PLP 128, que reúne iniciativas essenciais para fechar as contas de 2026. Cortes lineares em benefícios tributários, mudanças no regime de lucro presumido e aumento de impostos sobre fintechs, apostas esportivas e juros sobre capital próprio formam um conjunto que, ainda que com efeitos graduais, deve gerar algo próximo dos R$ 20 bilhões necessários para cumprir a meta fiscal. Não era um resultado dado. Até poucas semanas atrás, o cenário mais provável era de frustração parcial dessas medidas, com impacto direto sobre a execução orçamentária no ano que vem.
Essas vitórias parlamentares se somam a um contexto político mais favorável ao Planalto desde a metade do ano, e especialmente neste último trimestre. Lula conseguiu recuperar parte da popularidade perdida em 2024 ancorado, sobretudo, em um ambiente de inflação mais baixa e em um discurso mais combativo, com perfil antissistema, direcionado não apenas à direita bolsonarista mas também ao próprio Congresso. A narrativa de que o governo enfrenta interesses poderosos para se colocar ao lado do povo tem encontrado ressonância em segmentos do eleitorado e norteado o discurso da esquerda para 2026.
Nesse contexto, a confirmação da candidatura de Flávio Bolsonaro teve um efeito inicialmente favorável ao presidente. Ao aumentar a percepção de fragilidade da oposição, a decisão elevou a perspectiva de vitória de Lula e ajudou a reduzir resistências no Centrão. O episódio do Ministério do Turismo é ilustrativo. Mesmo após o rompimento formal do União Brasil com o governo, Lula optou por acomodar a ala da legenda que segue votando com o Planalto, substituindo Celso Sabino por um nome alinhado a esse grupo, e avalizado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta.
Seria um erro, no entanto, interpretar a última semana do ano como um prenúncio de uma relação tranquila entre Executivo e Legislativo em 2026. A política econômica está mais consolidada e caminhará, ao menos por ora, em “piloto automático”, com menor pressão por novos gastos e foco na manutenção dos programas existentes. A instabilidade política, por outro lado, tende a aumentar, com um importante fator de imprevisibilidade: a escalada de operações policiais e investigações com forte repercussão em Brasília.
Casos como o do Banco Master e suas conexões com o BRB, as fraudes no INSS envolvendo descontos indevidos em aposentadorias e o avanço das apurações sobre desvios de emendas parlamentares já começam a reverberar dentro dos partidos e a alcançar instâncias mais altas, inclusive o Supremo Tribunal Federal. Há um esforço para barrar essas investigações, ou ao menos evitar que elas continuem a crescer sem controle. Mas a força das provas e os interesses cruzados de muitos desses atores podem tornar esses processos imprevisíveis, com consequências importantes em 2026.
A vantagem, por ora, está com Lula, que termina o ano em uma posição melhor do que os próprios petistas previam. Isso não elimina, porém, os riscos para o próximo ano. A economia pode estar mais ancorada, mas a política seguirá instável, pressionada por investigações sensíveis e uma relação com o Congresso que continuará marcada mais por tensão do que por estabilidade.
Com esse breve balanço das últimas semanas, agradeço a companhia das leitoras e leitores ao longo do ano. Desejo boas festas, na companhia de seus familiares e amigos queridos, e um 2026 de muita paz e realizações.
