19 de dezembro de 2025
Politica

Lula provoca Haddad e revive estilo ‘paz e amor’ em café com jornalistas; leia bastidores

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, visivelmente sem graça durante café da manhã com jornalistas, nesta quinta-feira, 18, no Salão Leste do Palácio do Planalto. Ao ser questionado se Haddad deixaria a equipe econômica, no ano que vem, para coordenar sua campanha à reeleição ou se ele seria candidato ao governo de São Paulo, o chefe do Executivo abriu um sorriso.

De pé em um púlpito com o brasão da Presidência da República, Lula ficou calado por quase um minuto. Olhou para Haddad, que estava sentado à mesa coberta com uma toalha adamascada branca, ao lado do ministro da Casa Civil, Rui Costa.

“Estou olhando para a cara dele porque quero ver o seu semblante”, afirmou o presidente. Haddad nada falou. Lula, então, não escondeu que gostaria de ver o chefe da equipe econômica como candidato à sucessão de Tarcísio de Freitas, em 2026, embora sem citar o nome do governador.

“É impossível você imaginar uma pessoa da envergadura do Haddad deixar o Ministério da Fazenda e voltar para casa. Nem eu nem a Ana Estela iríamos gostar”, disse o presidente, numa referência à mulher do ministro.

Ele também não adiantou quem será o substituto de Haddad. “Você acha que o técnico do time vai dizer quem é o jogador que ele vai colocar para substituir?”, desconversou. O mais cotado, a preço de hoje, é o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan. Mas já há uma disputa velada pela chave do cofre nas fileiras do PT. “Você acha que o técnico do time vai dizer quem é o jogador que ele vai colocar para substituir?”, indagou Lula.

Lula e Haddad: presidente quer o ministro concorrendo à sucessão de Tarcísio, em 2026
Lula e Haddad: presidente quer o ministro concorrendo à sucessão de Tarcísio, em 2026

Até agora, Haddad resiste a entrar no páreo, mas no PT ninguém duvida de que ele será convencido “sobre livre e espontânea pressão”. São Paulo é o maior colégio eleitoral do País e o presidente não tem palanque forte no Estado.

Lula chegou ao café preparado para responder perguntas difíceis, no dia em que a Polícia Federal deflagrou a quinta fase da Operação Sem Desconto, que investiga o desvio de recursos no pagamento de aposentadorias do INSS. Um dos principais alvos da operação foi o senador Weverton Rocha (PDT-MA), vice-líder do governo. A ação também prendeu o secretário-executivo do Ministério da Previdência, Adroaldo da Cunha Portal, demitido nesta quinta-feira.

Perguntado sobre suspeitas envolvendo o entorno de seu filho Fábio Luiz e seu irmão José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, dirigente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos, Lula pareceu ter uma resposta pronta.

“Se tiver filho meu metido nisso, será investigado”, declarou. Foi a frase mais forte de toda a entrevista, que reuniu 68 jornalistas.

Vestido com um terno azul marinho bem cortado, que disse ter pago R$ 700, Lula chegou ao Salão Leste bem-humorado, sob o argumento de que termina o ano “muito feliz” com as realizações do governo, a menor inflação acumulada em quatro anos e o menor desemprego da história.

Diante de seu lugar na mesa havia um caderno espiral com capa vermelha, mas Lula não se sentou durante a entrevista. Antes de começar, tomou apenas um café preto.

“Minha felicidade vem do bom resultado obtido pelo time que coloquei em campo. Todo mundo aqui foi treinado para bater pênalti e nós não erramos nem pênalti”, disse.

Além de Haddad e Costa, o presidente estava acompanhado pelos ministros Mauro Vieira (Relações Internacionais) e Marina Silva (Meio Ambiente) e também pelo secretário executivo da Secretaria de Comunicação Social, Tiago César dos Santos.

No Salão Leste, Lula reviveu o melhor estilo “nunca na história deste País” – agora substituído por “nunca desde a proclamação da República” – e a verve “paz e amor”.

Depois de uma apresentação praticamente igual à que tinha feito aos integrantes da equipe, na reunião ministerial do dia anterior, o presidente afirmou que poderia responder a qualquer pergunta. “Se eu não souber, pergunto aos meus universitários”, brincou, numa referência aos ministros ali presentes.

Em uma hora e meia de entrevista, Lula mandou vários recados não apenas para o Congresso e seus possíveis adversários nas eleições como para líderes mundiais. Disse que se tornou amigo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, falou sobre a crise na Venezuela sob Nicolás Maduro e ironizou o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, que cometeu uma gafe ao criticar Belém, sede da Conferência do Clima (COP-30) da ONU.

O primeiro-ministro da Alemanha veio para o Brasil e ficou pensando no chucrute

Luiz Inácio Lula da Silva

“O primeiro-ministro da Alemanha veio para o Brasil e ficou pensando no chucrute”, fustigou.

Embora tenha dito que vai vetar o projeto de lei que reduz as penas do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros condenados por tentativa de golpe – aprovado pelo Senado –, Lula foi só afagos ao Congresso.

Com um tom de quem está disposto a buscar apoio para a disputa de 2026, falou como se não houvesse crise em sua relação com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Admitiu apenas uma divergência com Alcolumbre por causa da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF), mas, do jeito como expôs a situação, não parecia nada muito grave. Não é o que o Centrão diz.

“Sou amigo do Motta e do Alcolumbre”, afirmou o presidente, que não quis comentar o lançamento da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Palácio do Planalto. Defendeu, porém, uma espécie de plebiscito para que eleitores julguem as ações de seu terceiro mandato em comparação às do antecessor. Citou, ainda, a necessidade de comparar o que ele fez com o que fizeram os governadores de São Paulo, Minas, Goiás e Paraná. Mas não mencionou os nomes de Tarcísio, Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Ratinho Júnior, que aparecem como seus possíveis desafiantes no campo da direita, em 2026.

Ao longo da entrevista, Lula mostrou várias vezes confiança de que ganhará o quarto mandato com o discurso do “nós contra eles”. “Meus adversários vão er rar o pê nalti igual ao Flamengo”, previu, recorrendo, como de hábito, a uma metáfora futebolística.

Pouco antes de se despedir, o presidente admitiu ter saudade do tempo em que seus adversários eram do PSDB. Mais uma vez, olhou para Haddad e sorriu. No PT, o ministro da Fazenda é até hoje considerado o mais tucano dos petistas.

 

 

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