22 de dezembro de 2025
Politica

Os equívocos de Lula e Milei sobre a Venezuela

Os presidentes Javier Milei, da Argentina, e Lula, do Brasil, apresentaram visões opostas sobre a Venezuela durante a 67ª Cúpula do Mercosul, em Foz do Iguaçu (PR), neste sábado, 20. Houve acertos e equívocos nas falas de ambos. O acerto, no caso de Milei, consistiu em um diagnóstico correto da situação política da Venezuela, e, no caso de Lula, em uma avaliação de riscos realista, ancorada em antecedentes históricos. Ambos erraram, porém, nos pontos em que se deixaram contaminar por seus respectivos vieses ideológicos.

O diagnóstico de Milei consistiu em lembrar que o regime venezuelano, sob “a ditadura cruel e desumana” de Nicolás Maduro, impõe ao país uma “crise política, humanitária e social devastadora” que “estende uma sombra escura sobre a nossa região”. O argentino acertou ao alertar que os outros países da região não estão imunes aos efeitos do autoritarismo chavista e que não é possível se manter indiferente ou inerte diante dos crimes cometidos pelo governo venezuelano. Ele exigiu a libertação de todos os presos políticos na Venezuela e saudou a líder opositora María Corina Machado, laureada com o Prêmio Nobel da Paz deste ano.

O equívoco de Lula foi omitir, em seu discurso (como de costume), o diagnóstico e o alerta feitos por Milei. O brasileiro não empenhou nem uma palavra sequer para denunciar o caráter repressivo do regime venezuelano e suas consequências para a região. Tampouco se dignou a mencionar Machado, cujo candidato, Edmundo González, teve a eleição presidencial na Venezuela surrupiada em fraude de Maduro.

Expor essas críticas, posicionar-se de forma clara contra os desmandos de Maduro, não impediria Lula de fazer o único acerto de seu discurso: alertar para os perigos de uma guerra decorrente de uma eventual tentativa dos Estados Unidos de depor Maduro pela força. “Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo”, disse Lula. Não é possível ter 100% de certeza de que uma coisa levaria à outra, mas o risco, de fato, existe. Além disso, por princípio e coerência histórica, o Brasil deve sempre se opor a intervenções armadas estrangeiras na América Latina.

Essa é uma coerência que Milei não se preocupou em ter, apesar da isca deixada por Lula em seu discurso ao traçar um paralelo entre ao conflito da Argentina com o Reino Unido pelas Ilhas Malvinas, em 1982, com as investidas americanas na Venezuela. Milei não mordeu o anzol. Pediu apoio aos “direitos soberanos” da Argentina sobre as Malvinas, mas, no que se refere à Venezuela, comemorou a pressão dos Estados Unidos, sob o comando do presidente Donald Trump, para “libertar o povo venezuelano”. Às vezes, é preciso ter cuidado com o que se pede. A Argentina não está longe o suficiente para não ter de se preocupar com as consequências imprevisíveis de um conflito armado na Venezuela.

Como se vê, Milei acertou onde Lula — em parte por ideologia, em parte por acreditar que a neutralidade lhe permitirá se apresentar como mediador das tensões entre Maduro e Trump — se omitiu. Lula, por sua vez, foi correto onde Milei — por ideologia, também, e por lealdade ao seu “amigo” americano — escorregou.

 

 

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