22 de dezembro de 2025
Politica

Agente de IA controlará sua conta bancária em 10 anos, diz futurólogo

O futurólogo australiano Brett King, especialista em tecnologia e inovação, acompanha de perto o avanço da inteligência artificial (IA) no setor bancário e fala com segurança da disrupção que o modelo causará. Em entrevista à Coluna do Estadão, King diz que em dez anos cada cliente terá uma IA personalizada na conta bancária, e interagir com a ferramenta será tão comum quanto fazer um Pix.

King veio ao Brasil na última semana a convite da Caixa, para dar uma palestra a 900 chefes do banco, no evento “Somos a Caixa que transforma”, que contou com o presidente Lula (PT). Um dos “pilares estratégicos” eleitos pela companhia entre 2025 e 2030 é “promover jornadas digitais e infraestrutura em linha com os melhores pares do mercado”.

“Dentro de dez anos, a IA autônoma será um recurso muito forte do setor bancário. A maioria das operações internas do sistema bancário vai ser guiada pela IA. Funções como pagamentos, investimentos, acesso a crédito e economia doméstica certamente estarão disponíveis para qualquer pessoa com um celular”, diz King, que foi consultor de políticas de fintechs no governo de Barack Obama, nos EUA, e teve um livro citado pelo presidente chinês, Xi Jinping.

‘Oi, Alfred, pode pagar minha conta?’

Ao tirar o celular do bolso durante a entrevista, o especialista ilustra esse futuro:

“Talvez eu chame minha IA de Alfred. Eu pego o celular e digo: ‘Oi, Alfred, você pode pagar minha conta de luz neste mês, por favor?’. Então ele vai perguntar: ‘Você quer que eu cuide disso todo mês?’. E pronto, não tenho que me preocupar mais com isso”.

Na visão de Brett King, as soluções bancárias serão cada vez mais personalizadas, em vez da atual oferta de produtos tradicionais a todos os clientes.

‘95% da geração Alfa não usa dinheiro ou cartão’

O futurólogo prevê ainda que os cartões de plástico para operações de crédito e débito desaparecerão em 20 anos, e o dinheiro em espécie, em 35. O comportamento dos mais jovens dá a pista dessa mudança.

“85% da geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) usa o pagamento por aproximação no celular, em vez de cartões ou cédulas. Na geração Alpha (nascidos a partir de 2010), o porcentual sobe para 95% sem dinheiro e sem cartão”.

‘IA substituirá capitalismo por neofeudalismo’

A despeito das previsões de facilidades tecnológicas com o avanço da IA, King usa o mesmo tom de segurança para abordar os efeitos negativos que virão a reboque, a exemplo do desemprego e da desigualdade social.

“Vamos ser claros. O objetivo da IA é remover o trabalho humano do mercado para alcançar a maior eficiência possível em uma empresa. Com esse cenário, o capitalismo não funciona mais, porque o único mecanismo que temos hoje para distribuir riqueza é dar emprego. Senão, damos um benefício social”, diz. E acrescenta:

“O resultado vai ser uma estrutura de duas linhas de riqueza. Pessoas que controlam a IA serão os novos reis feudais. Nos EUA, discutem quem vai ser o primeiro trilionário. Chamamos isso de neofeudalismo”.

Base de clientes dá vantagem à Caixa

King diz que a Caixa Econômica Federal, por sua atuação no pagamento de benefícios sociais e financiamentos, tem uma enorme base de dados de clientes. Para o especialista, trata-se de um ativo valioso no desenvolvimento de modelos de automação com IA para o sistema bancário.

“A Caixa possui uma enorme escala de clientes. Outro banco no Brasil com essa condição é o Nubank. Companhias estrangeiras como J.P. Morgan ou Bank of America não têm essa riqueza de dados para construir um modelo de automação que pare em pé. Os bancos precisam se tornar digitais para permanecer relevantes. Não por causa de outros bancos, mas porque o comportamento do cliente mudou”.

Brett King, futurólogo australiano
Brett King, futurólogo australiano

 

 

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