23 de dezembro de 2025
Politica

25 de dezembro de 2025: um Natal de sombras ou luzes?

O dia 25 de dezembro, mais do que uma data religiosa ou comercial, é um marco simbólico para a reflexão. Ele nos convida — ainda que à força, em meio ao barulho de um mundo cada vez mais rápido e sem tempo — a parar e respirar. A olhar. A sentir. A questionar. Talvez seja por isso que o espírito dessa data combine tanto com a pergunta inquieta que atravessa a obra do autor uruguaio Eduardo Galeano, aquela poesia provocadora, escrita em forma de interrogação, que nos obriga a encarar quem somos e no que estamos nos transformando: ¿Cómo pudimos?

Vivemos tempos difíceis de negar. O mundo parece virado “num alho”, como se diz popularmente, mas a metáfora é quase tímida diante da realidade. Guerras que se arrastam ou explodem diante dos nossos olhos — Ucrânia, Palestina, e tantas outras menos visíveis — disputas geopolíticas que tratam vidas como peças de xadrez, governos que se radicalizam à esquerda e à direita, e uma polarização que transforma o outro em inimigo antes mesmo de ser humano.

A humanidade, nesse cenário, parece exibir com orgulho o que tem de pior: a capacidade de destruir, de desumanizar, de justificar o injustificável. Galeano sempre alertou para isso. Não com discursos moralistas, mas com perguntas incômodas. Perguntas que não oferecem respostas prontas, mas revelam contradições. Como podemos ser capazes de tanto horror e, ao mesmo tempo, de tanta ternura?

O século XXI não inventou a violência, mas aperfeiçoou sua velocidade. A guerra agora chega em tempo real, pelas telas, misturada a anúncios, memes e distrações. A dor do outro compete com o entretenimento. E talvez aí resida um dos nossos maiores riscos: a anestesia moral. Quando tudo vira ruído, nada mais nos atravessa ou incomoda.

Mas o mesmo Galeano que denunciava a barbárie nunca abandonou a esperança — não uma esperança ingênua, mas teimosa. Uma esperança que nasce da memória. Ele nos lembrava que, antes de nos organizarmos para dominar, aprendemos a sobreviver juntos. Que a história humana não começou com impérios, fronteiras ou exércitos, mas com mãos estendidas.

Na pré-história — essa palavra que muitas vezes usamos como sinônimo de atraso — o ser humano só permaneceu vivo porque soube cooperar. Dividiu a comida. Protegeu os mais frágeis. Aprendeu que ninguém sobrevive sozinho. A ajuda mútua não era virtude moral; era condição de existência. Talvez tenhamos evoluído tecnologicamente, mas regredido eticamente ao esquecer essa lição básica para a nossa sobrevivência.

Como lembra Galeano: “Pero uno bien puede preguntarse: ¿No habremos sido capaces de sobrevivir, cuando sobrevivir era imposible, porque supimos defendernos juntos y compartir la comida? Esta humanidad de ahora, esta civilización del sálvese quien pueda y cada cual a lo suyo, ¿habría durado algo más que un ratito en el mundo?” (in Espejos Una historia casi universal).

O Natal, despido de seus excessos comerciais, carrega exatamente esse símbolo: o nascimento frágil, a vida que depende do cuidado do outro, a ideia de que a salvação — seja religiosa ou humana — não vem da força, mas do (re)encontro. Não é coincidência que essa narrativa tenha atravessado séculos. Ela toca algo profundo na nossa memória coletiva.

Quando Galeano fala da humanidade capaz de criar beleza mesmo no caos, ele nos lembra que não somos apenas o que vemos nos noticiários. Somos também os que acolhem refugiados, os que salvam desconhecidos, os que se organizam em comunidades, os que insistem em ensinar, cuidar, curar, mesmo quando tudo parece perdido. Essas histórias raramente viram manchetes, mas sustentam o mundo verdadeiramente.

O desafio dos nossos tempos não é escolher entre ingenuidade e cinismo. É resistir à tentação de desistir do humano. É reconhecer a brutalidade sem naturalizá-la. É olhar para as guerras e dizer: isso não nos representa por inteiro. É admitir que os extremos gritam, mas não são a totalidade da voz humana.

Talvez a grande pergunta — aquela que ecoa na poesia de Galeano — seja: o que escolhemos alimentar em nós? O medo ou a solidariedade? O ódio ou a memória de que já fomos capazes de viver de outro modo?

Neste 25 de dezembro, enquanto o mundo insiste em nos dividir, talvez o gesto mais radical seja lembrar. Relembrar que a humanidade nasceu em roda, não em trincheiras. Que a sobrevivência sempre foi coletiva. Que ainda é e sempre será…

Se há esperança, ela não virá de líderes messiânicos nem de ideologias absolutas, mas da reconstrução paciente dos vínculos humanos, sempre “Educando Cidadãos.” Do reconhecimento do outro como parte da mesma travessia. Do resgate daquela antiga sabedoria pré-histórica que dizia, sem palavras: ou sobrevivemos juntos, ou não sobreviveremos.

Que o Natal, então, não seja apenas uma data no calendário, mas uma pausa para essa pergunta essencial — e um convite a responder com ações práticas propositivas, não apenas com palavras vazias. Feliz Natal e salve 2026!

 

 

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