Redes sociais de Motta viram ‘muro das lamentações’ da direita e da esquerda, com chuva de críticas
O perfil do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), nas redes sociais virou o muro das lamentações. Nas postagens, diferentes contas usam o espaço para cobrar o deputado e pedir que ele se posicione em alguma das pautas caras a apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).
Levantamento feito pela agência de análise de dados Bites, a pedido do Estadão, mostra que o nível de cobrança chegou ao auge nos últimos 30 dias, quando o número dos comentários de internautas nas publicações de Motta alcançou 270 mil, cinco vezes mais do que o de curtidas, no mesmo período.

As cobranças vêm da direita, que pressiona Motta pela anistia a Bolsonaro e a outros envolvidos na trama golpista, e da esquerda, que o chama de “inimigo do povo”.
“Uma coisa que indica como as redes de Hugo Motta viraram mural de lamentação é o fato de que a relação de comentários por curtida só vem aumentando”, avalia André Eler, diretor-adjunto da Bites.
No X, de onde vem a maior parte das postagens, 59,9 mil diferentes autores fizeram publicações em resposta a Motta, gerando 11,2 milhões de visualizações. Análise da Bites mostra que há 17,6 mil menções no X e 8,8 mil no Facebook e Instagram pedindo a anistia. Este é o tema principal da direita.
Do lado da esquerda, o mote “Congresso inimigo do povo” foi mencionado 21 mil vezes no X e 9,3 mil no Facebook e Instagram.
O dia 9 de dezembro foi o pior para Hugo Motta. O volume de críticas subiu a um nível nunca antes visto, chegando a registrar 20 comentários para cada curtida.
Naquele dia, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) repetiu atitude tomada em agosto por apoiadores de Bolsonaro (PL) e ocupou a cadeira do presidente da Câmara. Glauber protestava contra a ameaça de ter o mandato cassado e também contra a decisão de Motta de pautar o projeto de lei que reduz a pena de Bolsonaro e de outros envolvidos na trama golpista do 8 de Janeiro.
Na tentativa de assumir o controle da Casa, Motta restringiu o acesso ao plenário e removeu Glauber à força. Horas depois, ele se pronunciou, fez críticas à conduta do deputado do PSOL e disse que o plenário da Casa era “soberano”.
Motta publicou o pronunciamento no Instagram e foi alvo de massivas críticas. A postagem teve 57,5 mil comentários, número 23 vezes maior às 2,5 mil curtidas obtidas. O presidente da Câmara foi xingado e chamado, entre outras coisas, de “inimigo do povo”.
No fim de novembro, o Estadão mostrou que o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), propôs uma forte campanha contra Motta nas redes sociais, o que estremeceu a relação entre os dois.
O presidente da Câmara manifestou inconformismo com a saraivada de ataques que vem recebendo. Em conversas com aliados, ele chegou a se emocionar ao dizer que nunca esperava passar por tanta turbulência no comando da Câmara, cargo que ocupa há apenas dez meses.
Em café da manhã com jornalistas, neste fim de ano, Motta amenizou as críticas. “As manifestações que têm acontecido são o sinal de que a nossa democracia segue mais viva, e eu respeito muito quem tem posicionamento contrário e críticas ao Congresso”, afirmou.
Apesar de minimizar a ofensiva contra ele, Motta fez um contraponto. “Dizer que o Congresso não tem atuado em favor da sociedade não é verdade. O Congresso tem trabalhado, tem ouvido as demandas da sociedade”, destacou o presidente da Câmara. “Às vezes, eu acho que o Congresso é incompreendido por muitos posicionamentos. Mas eu entendo as críticas. Vivemos em uma democracia e temos tentado, com essas críticas, acertar, entender o que estamos falhando e corrigir a rota”, concluiu.
