A lição de Mujica que Lula e Bolsonaro precisariam ouvir: poder público não é para ostentação
[[{“value”:”
A morte de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, deixa recados silenciosos para líderes brasileiros, que precisariam ser ouvidos, por exemplo, pelo presidente Lula e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Mujica soube desapegar-se do cargo quando deixou a presidência, em 2015, e respeitou a alternância de poder.
Analistas políticos apontam que, ao apostar em um diálogo harmonioso entre esquerda e direita, ele contribuiu para o país escapar da polarização radical.
“Chegamos a um ponto em que tivemos pouquíssimas figuras que representavam essa expressão mais harmoniosa do viés político. Mujica é uma dessas figuras raras que o pensamento de esquerda produziu. Ou seja, o combate era pelas ideias, não pela força do poder político e muito menos das armas”, diz Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Legado regional de Mujica
Para Guilherme Casarões, professor de política internacional da FGV-EAESP, o estilo “muito particular” de Mujica foi importante para mitigar a polarização em seu país. “Como presidente, ele teve um papel de colocar o Uruguai no rumo da estabilidade, consolidando o país, talvez o único da América do Sul, que não é vítima dessas alternâncias bruscas de poder que vimos em outros lugares.”
“O recado que Mujica deixa é que o papel principal do poder público é garantir o bem-estar da população, essa é a tarefa número um, e não ostentar o cargo que possui. Essa foi a grande marca dele”, complementa Ramirez, da Fesp.
Condenação de regimes autoritários
Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, Mujica ascendeu à política após anos de atuação na guerrilha armada Tupamaros. Chegou a ser preso durante a ditadura militar uruguaia e se tornou símbolo da esquerda latino-americana. Já no fim da vida, condenou os regimes ditatoriais de esquerda de Nicolás Maduro na Venezuela e Daniel Ortega na Nicarágua.
Relação de Mujica com o Brasil
Mujica morreu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos, em decorrência de complicações de um câncer de esôfago. Ele era amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Grande amigo do Brasil, o ex-Presidente Mujica foi um entusiasta do Mercosul, da Unasul e da Celac, um dos principais artífices da integração da América do Sul e da América Latina e, sobretudo, um dos mais importantes humanistas de nossa época”, pronunciou-se o governo brasileiro, por meio de nota divulgada pelo Itamaraty.

“}]]