Bolsonaro escala ‘Superman da Jovem Pan’ como opção ao Senado por Minas e abre crise no PL local
A disputa para definir quem será o candidato de Jair Bolsonaro (PL) ao Senado por Minas Gerais se transformou em crise nos últimos dias. O comentarista político e advogado Marco Antônio Costa, ex-Jovem Pan, declarou em uma entrevista que teve o aval do ex-presidente para construir sua candidatura no Estado. Segundo ele, que é conhecido pelos bolsonaristas como “Superman da Jovem Pan”, integrantes do PL mineiro cotados para a vaga pertencem ao Centrão.
A declaração do comentarista não foi bem recebida no PL mineiro. Além da chegada de um forasteiro de São Paulo, o que desagradou as lideranças locais, a forma como o anúncio ocorreu foi considerada desrespeitosa.
“Vejo a bola quicando pra cair no pé de um cara que às vezes está dentro do PL mas é Centrão. Um cara que no primeiro pum que o Alexandre de Moraes soltar, vai meter o rabo entre as pernas e vai vazar, desaparecer, virar holograma que nem o Sergio Moro”, disse o comentarista político em entrevista ao canal Auriverde Brasil.
Segundo Costa, que se mudará para Lagoa Santa (MG), Bolsonaro deu o sinal verde para ele articular a candidatura neste momento, mas deixou claro que isso não garante o apoio definitivo no pleito do ano que vem. O ex-presidente também teria traçado um roteiro de quem o aliado deve procurar para ganhar força política em Minas. Procurado por meio de sua assessoria para comentar as informações de que deu aval a Costa, Bolsonaro não se manifestou.
Presidente do PL local, o deputado federal Domingos Sávio (PL-MG), que quer disputar o Senado, afirmou que a declaração do comentarista foi uma agressão gratuita ao partido e que a ampla maioria dos integrantes da sigla repudiaram a atitude do comentarista.
O dirigente partidário diz ter conversado com Bolsonaro após a declaração e garante que o ex-presidente não tem compromisso com Costa e não tomará nenhuma decisão sobre quem será o candidato sem ouvir as lideranças do PL em Minas Gerais.
“Esse moço chegar aqui usando indevidamente o nome do presidente Bolsonaro e ofendendo os demais nomes do partido é um péssimo início. Mostra, no nosso entendimento, um despreparo para representar Minas num cargo tão importante”, disse ele. O parlamentar comparou Costa à ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em 2018, a ex-presidente, que fez carreira política no Rio Grande do Sul, tentou se eleger senadora por Minas, mas foi derrotada.
A avaliação no diretório mineiro do PL é que há nomes competitivos para disputar a eleição — além de Domingos Sávio, querem a vaga o deputado federal Eros Biondini (PL), o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) e o vereador de Belo Horizonte, Vile Santos (PL).
Porém, a avaliação no entorno de Bolsonaro é outra. Sem o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), impedido de disputar o Senado por não ter idade suficiente, o entendimento é que faltam candidatos de peso em Minas. Por isso, cogitou-se a filiação do ex-ministro Paulo Guedes, como o próprio Bolsonaro chegou a dizer publicmente, e até a da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), como mostrou o Estadão, para reforçar a chapa no Estado.
Marco Antônio Costa seria a terceira tentativa nesse sentido. O Estadão procurou o comentarista, que não se manifestou até a publicação desta reportagem.
Deputados relatam que antes do anúncio público, Costa fez um périplo pelos gabinetes da bancada do PL na Câmara em busca de apoio em Minas Gerais. “Se ele desqualificou os nomes de Minas, por que ele foi buscar apoio deles no Congresso? Então ele quer representar o Centrão?”, ironizou Biondini.
Ele também pontuou que Bolsonaro sempre ressalta a importância da direita não se dividir. “Em Minas estamos todos alinhados e unidos num único objetivo e essa infeliz entrevista é tudo que o Bolsonaro não quer”, acrescentou.
“Qualquer pessoa que venha para Minas Gerais afirmando que foi chamada pelo próprio Bolsonaro porque no PL mineiro só existiria político de centro está mentindo deliberadamente”, disse Caporezzo, outro pré-candidato, que afirma ter certeza que Bolsonaro não endossou Marco Antônio Costa.
A voz destoante foi do vereador Ville. Apadrinhado pelo deputado estadual Bruno Engler (PL), ele disse que o comentarista será recebido de braços abertos e é um bom nome para “somar na luta contra os desmandos do Supremo”.
A eleição para o Senado é uma das prioridades bolsonaristas no pleito do ano que vem. O grupo liderado pelo ex-presidente quer eleger maioria para controlar a Casa e avançar com pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
A tese de Marco Antônio Costa é que, neste cenário, a disputa para senador precisa ter cunho não nacional em vez de discutir problemas regionais de cada Estado.