30 de junho de 2025
Politica

Governo Lula é lento e analógico em uma sociedade cada vez mais ansiosa pela solução dos problemas

Mesmo diante do anúncio de medidas populares e com alguns números positivos na economia – tal como desemprego em baixa e melhora na renda média do trabalhador – o governo Lula continua colhendo resultados ruins nas pesquisas que medem a popularidade da gestão. E, embora a inflação persistente, sobretudo nos alimentos, seja apontada como fator preponderante, há um elemento bem mais interno e que contribui para que a recuperação dos índices não aconteça a contento: o governo é lento e parece sempre atrasado nas discussões dos principais temas em debate no País.

Hoje tudo corre mais rápido. A ansiedade está nas alturas e as redes sociais fazem um problema explodir quase instantaneamente nas telas da maioria dos brasileiros. Do aumento da violência em seu bairro aos casos de uma nova doença, a conectividade transforma tudo em surtos coletivos e a reunião virtual de todos para discutir um assunto faz com que ele cresça de forma muito mais veloz do que quando era preciso que o assunto se espalhasse nas rodinhas de conversa do trabalho ou no almoço de domingo. Os problemas agora precisam ser enfrentados de forma imediata. E os dados da realidade nem sempre se adequam ao sentimento que as redes proporcionam.

Enquanto isso, a lentidão no governo é flagrante e presente nas principais crises enfrentadas. Seja na hora de reagir a uma polêmica, de demitir um ministro ou se posicionar diante de uma ação do Parlamento. E os motivos vão da excessiva centralização das decisões até mesmo ao fato de o presidente da República ser uma figura hoje menos acessível, que sequer utiliza celular e que não está de fato presente no ambiente digital, onde as discussões ganham corpo.

A reação ao escândalo do INSS torna essa percepção muito nítida. Primeiro, o governo demorou a entender a gravidade do escândalo. Depois, viu a oposição, por meio de um deputado federal em primeiro mandato, tomar as rédeas da discussão e apresentar ao cidadão a primeira versão dos fatos. Quando percebeu o tamanho da repercussão, o governo escalou ministros e parlamentares aliados para uma reação. Mas a versão inicial já tinha colado. Da mesma forma que se viu no episódio da fiscalização do Pix, com o mesmo parlamentar.

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante cerimônia de entrega do Projeto de Emenda a Constituição (PEC)  da segurança pública
O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante cerimônia de entrega do Projeto de Emenda a Constituição (PEC) da segurança pública

Diante do caso, ficou exposta também a demora em tomar uma decisão sobre o então ministro Carlos Lupi, envolvido na crise por ter ficado sabendo dos descontos sem ter feito nada para impedi-los. Aí neste caso reside outro problema do governo. A indecisão marcante. A mesma que atrasou inúmeras vezes uma possível reforma ministerial. Como se Lula de 2025, diferente daquele dos dois primeiros mandatos, tivesse medo de dar o próximo passo. Aí, neste caso, explica-se pela sensação de estar em uma corda-bamba, com um Congresso muito mais hostil e empoderado pelo Orçamento e com a popularidade baixa em um País dividido.

Viu-se indecisão ainda maior nos episódios das demissões de Nísia Trindade, na Saúde, Cida Gonçalves, na pasta das Mulheres, e mesmo Juscelino Filho, retirado das Comunicações após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção com emendas. Em todos esses casos, assim como no de Lupi, as decisões foram demoradas e não houve de fato mudança, mas mera maquiagem ministerial. No caso de Nísia, com seu padrinho político Alexandre Padilha ocupando o lugar. No de Cida Gonçalves, com Márcia Lopes, de perfil semelhante e do mesmo grupo, ganhando o lugar. No de Juscelino, com o ex-ministro indicando seu sucessor, Frederico de Siqueira Filho. E no de Carlos Lupi, com o número 2 na pasta e seu fiel escudeiro Wolney Queiroz assumindo o posto.

Diante da indecisão, se o governo não demora, ele recua. E a principal explicação está no fato de que há hoje uma gestão extremamente centralizada, com Lula desautorizando qualquer ministro a ter ideias e comunicá-las sem passar antes pela Casa Civil, ocupada por Rui Costa. O ex-governador da Bahia é linha-dura e quer discutir cada questão nos mínimos detalhes.

A ele soma-se a figura da primeira-dama Janja, que filtra o acesso direto ao presidente, seja através das tradicionais reuniões fora do expediente, seja sendo ela a responsável por comunicá-lo do que se passa nas redes sociais.

Agora surgiu mais um ponto dessa centralização: o ministro das Comunicações, marqueteiro de Lula, Sidônio Palmeira, por quem é preciso passar qualquer tipo de informação divulgada pelo governo e por seus membros, por mais urgente que seja.

Tal centralização complicava inclusive a articulação política. Por isso Alexandre Padilha tinha dificuldade de prometer qualquer coisa ao Parlamento sem a certeza de que, mais adiante, alguém cortaria o combinado. E sem isso é impossível um bom resultado no Congresso. A entrada de Gleisi Hoffman, que sempre teve mais abertura com Lula, buscou essa relação mais próxima com o presidente, de modo a fazer, ao menos na relação com os parlamentares, o processo ser mais ágil. O restante da sociedade, porém, continua esperando essa linha direta com o presidente. Enquanto isso, colhe as versões que a oposição produz muito mais rapidamente.

 

 

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