Ex-chefe da Aeronáutica reafirma apoio da Marinha em trama golpista e ameaça de prisão a Bolsonaro
O ex-comandante da Aeronáutica Carlos Baptista Junior afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira, 21, que, em novembro de 2022, o almirante Almir Garnier, então chefe da Marinha, colocou suas tropas à disposição do ex-presidente Jair Bolsonaro para um intento golpista.
A posição, ainda segundo o relato, destoou da postura do próprio Baptista Junior e do general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que tentaram dissuadir o presidente da ideia de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
“O almirante Garnier não estava na mesma sintonia, na mesma postura que o general Freire Gomes. Em uma dessas reuniões, chegou a um ponto em que ele falou que as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente”, disse.

Em dezembro daquele ano, Bolsonaro apresentou uma minuta de golpe aos comandantes das Forças Armadas que propunha a realização de novas eleições e a prisão de autoridades do Judiciário. O documento foi apresentado pelo então ministro da Defesa, Paulo Sérgio de Oliveira. Baptista Junior e Freire Gomes disseram ter demonstrado contrariedade, enquanto Garnier manteve-se em silêncio.
Em depoimento ao STF, Baptista Junior também confirmou que o general Freire Gomes ameaçou prender Jair Bolsonaro, se fosse decretada Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para evitar a posse de Lula. O alerta foi feito em uma reunião no Palácio da Alvorada em novembro de 2022.
“General Freire Gomes é uma empresa polida. Não falou com agressividade, mas é isso que ele falou: ‘Se o senhor fizer isso, vou ter que te prender’. Foi algo assim”, disse Baptista Junior.
Na segunda-feira, 19, em depoimento ao STF também como testemunha, Freire Gomes disse que não deu voz de prisão ao ex-presidente.
Questionado pelo advogado de Almir Garnier sobre uma contradição nos depoimentos, respondeu: “Ele não deu voz de prisão ao presidente, não foi assim. Mas ele falou, por hipótese, que poderia prender o presidente”.
GLO para solucionar ‘crise institucional’
O ex-chefe da Aeronáutica relatou ainda que, nas conversas, Bolsonaro e auxiliares passaram a aventar a possibilidade de utilizar institutos como GLO, Estado de Defesa e Estado de Sítio a pretexto de solucionar uma “crise institucional”.
Entre os participantes da reunião que buscavam dar subsídios à ideia de estabelecer medidas de intervenção, estava o então ministro da Justiça, Anderson Torres.
Baptista Junior relatou que, nas primeiras reuniões realizadas junto ao presidente após o segundo turno das eleições, discutia-se GLO para lidar com possível convulsão social causada pela polarização política e mobilização de apoiadores de Bolsonaro. Mais tarde, segundo ele, ficou claro que o plano tinha como finalidade evitar a posse de Lula.