A direita dá um baile na esquerda na guerra por palavras como anistia e liberdade; veja vídeo
Uma guerra por palavras acontece na sociedade brasileira. E a direita tem vencido essa batalha importante da chamada disputa cultural. Como? Os representantes da direita buscam algumas palavras bacanas que eram do campo da esquerda e tomam para si. E, por outro lado, jogam palavras negativas que eram relacionadas à sua ideologia e enviam para o terreno inimigo.
Um exemplo é a palavra “anistia”. Foi um termo-chave da volta da democracia brasileira. No final dos anos 70, representava o retorno do exílio de gente como Leonel Brizola, de Betinho, o irmão de Henfil, conforme a música “O bêbado e a equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, cantada por Elis Regina. Hoje é o termo de quem pede a liberdade imediata dos vândalos do dia 8 de janeiro, que depredaram as sedes dos três poderes. Não há uma trilha sonora de gente talentosa para embalar o movimento atual, mas quem invoca o termo “anistia” hoje são os direitistas.

Outro exemplo: a palavra “censura”. É uma marca negativa do regime militar autoritário. Havia militares que censuravam letras de músicas de Chico Buarque, de Caetano Veloso, de tantos outros, seja por temas morais ou políticos. Que censuravam capítulos de novela, que chegavam a prender jornalistas por matérias que incomodavam o poder. No Estadão, no espaço das reportagens vetadas foram publicados poemas, como os versos de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões.
Agora a direita tenta esquecer o passado e aproveita a questão tanto da chamada regulação das Big Techs, quanto das ações do ministro do STF Alexandre de Moraes — de suspender perfis em redes sociais — para jogar o termo censura no outro campo político.
Por suas loas ao regime chinês, a primeira dama Rosângela da Silva, a Janja, acabou por se tornar outra anti-estrela dessa fúria censuradora. Hoje no Brasil, a palavra censura está no colo da esquerda. A direita, de quebra, se apropriou do termo “liberdade de expressão”. Quem diria. Dois coelhos numa cajadada só.
Podemos falar de muito mais termos aqui em disputa: competência, honestidade, solidariedade, empreendedorismo, democracia, pátria, família, Deus, honestidade, competência, verdade. Ou, por outro lado, corrupção, ineficiência, golpe, insensibilidade, desigualdade. Um grupo político sempre quer palavras boas para si. E se afastar de outras com má fama.
O que temos visto, nesse mundo de redes, é uma direita não liberal, que, mesmo sob a forte acusação de ter tramado um golpe de Estado, tem conseguido ganhar pontos nas chamadas “lutas simbólicas” – termo que, aliás, é do filósofo brasileiro Murilo Seabra.
Podemos dizer, portanto, que enquanto a esquerda confia na batalha jurídica, de prender os líderes do campo oposto, a direita segue em outra batalha, de conquistar os corações e as mentes por meio das palavras com mais poder de convencimento e de persuasão. E têm obtido pontos importantes nesse sentido, que podem se desdobrar em votos nas próximas eleições, a conferir.