30 de junho de 2025
Politica

A proeza do governo Lula é fazer o PIB e a desaprovação subirem ao mesmo tempo

O bom senso, a intuição, os meios de comunicação, a classe política e mesmo os manuais de ciência político-econômica costumavam ser categóricos na tese de que crescimento na economia, na renda, gera bem-estar na sociedade. A consequência imediata é a subida da popularidade do governante de plantão. Não tem funcionado mais. Maio, um mês com divulgação de alta do PIB e geração de empregos, foi também de subida de desaprovação do Lula, que atinge 53,7%, segundo pesquisa Latam Pulse, da AtlasIntel/Bloomberg, divulgada nesta sexta-feira. E, pior, de acordo com o levantamento, o presidente Lula perde em segundo turno para o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em uma eventual disputa, em 2026, à presidência da República por 45,1% a 48,9%.

Os apressados de sempre irão dizer que a culpa é da comunicação. Tudo bem, já que o profissional da comunicação é pago para ser o responsável. De fato, as notícias não são favoráveis. Elevação do déficit. Crise com o Congresso. Roubo de aposentados do INSS. Receio de que o governo em breve não terá mais recursos para pagar suas contas e por isso, desesperadamente, aumenta impostos que atingem a classe produtiva. Declarações sem propósito do presidente Lula, que num ataque de soberba resolveu brincar de Deus no Nordeste brasileiro.

Apesar do bom resultado da economia brasileira no início deste ano, o presidente Lula amarga seu pior índice de popularidade
Apesar do bom resultado da economia brasileira no início deste ano, o presidente Lula amarga seu pior índice de popularidade

Mas já houve outros momentos do Brasil, principalmente durante o segundo mandato do governo Lula, em que o crescimento econômico empurrado pelo boom das commodities parecia tornar o presidente imune a qualquer crise política. Mais que isso. Tudo o que Lula dissesse, mesmo que fosse um tremendo lugar-comum, era sempre elevado à condição de sabedoria milenar. Havia até os bajuladores que apontavam o “carisma magnético” do presidente como a principal causa da aprovação do governo. Agora há um certo 2014 feelings no ar, ano precedente da grande crise do governo Dilma, que sempre negou a gravidade do problema. Quem apontava os riscos, à época, era tachado de “pessimildo” ou coisa muito pior.

Os números de 2025 não são tão exuberantes como em 2010. A inflação de alimentos está aí a irritar a população. Mas é possível apontar algumas mudanças estruturais da sociedade brasileira que impedem o PIB de se transformar em aprovação. A começar, se você destrinchar os dados, verá que a pujança da economia está concentrada em um setor, o agropecuário. Uma área que, apesar da força, é vista com desconfiança pelo petismo e vice-versa. Ou seja, o País avança de maneira desigual dentro do grupo econômico comandado pela oposição. A indústria, por sua vez, segue paralisada.

Há também toda a ideologia da prosperidade, um dos traços do crescente segmento evangélico brasileiro, que considera o avanço econômico um mérito pessoal e não do governo. Há uma forte organização da direita à sociedade em não permitir que os eventuais trunfos econômicos sejam vistos como benesses do governo.

O petismo não consegue mais encaixar o discurso oficial de que, se há alguma sensação de avanço, é por decisões tomadas no Palácio do Planalto. Aliás, inclusive, quais seriam essas decisões já que o setor que “carrega” a aceleração econômica é muitas vezes visto como inimigo? Seus representantes, digamos, culturais, como cantores sertanejos, influencers do Centro-Oeste, ainda são vistos com desprezo por certa elite brasileira que ainda aperta 13 nas urnas. Não há mais espaço para acuar a oposição na retórica com termos como “pessimildo” e correlatos. A organização do outro lado da trincheira é muito maior.

A tese é que mais do que um problema de comunicação, ou mesmo os receios em relação ao futuro, há uma desconexão muito grande dos valores entre o governo e parte expressiva da sociedade, que conversa horizontalmente por meio das redes sociais, não se impactam mais com qualquer comunicação de cima para baixo. E isso vai para temas como segurança pública, religião, livre iniciativa, direito, minorias, meio-ambiente numa lista crescente. Mais do que preocupação com as crianças, a obsessão por controlar as redes tem a ver com a nostalgia de tempos que não voltam mais.

Nessas circunstâncias, a aprovação do governo se dá principalmente nos bolsões que recebem grande ajuda do Estado. Ou que é paga pelo Estado. A desaprovação no restante do País. A minoria indecisa que irá decidir as eleições, segundo a pesquisa Atlas, neste momento, tende a pender para Tarcísio, assim como foi com Bolsonaro em 2018 e Lula em 2022. Certamente escolherá o lado que menos irritá-lo até a chegada das eleições.

 

 

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