1 de julho de 2025
Politica

Mauro Cid diz ao STF que Bolsonaro recebeu, leu e pediu alterações na minuta do golpe

BRASÍLIA E SÃO PAULO – O tenente-coronel Mauro Cid reafirmou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu, leu e pediu alterações em uma minuta golpista para anular o resultado das eleições.

Cid é o primeiro réu no processo de tentativa de golpe interrogado pelo STF nesta segunda-feira, 9. Ele está sendo ouvido antes por ter fechado acordo de delação.

Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro “enxugou” o documento, que inicialmente previa as prisões de diversas autoridades do Judiciário e do Congresso, como ministros do STF e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado.

“Ele de certa forma enxugou o documento. Basicamente retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor (Alexandre de Mores) ficaria como preso. O resto…“, afirmou Mauro Cid.

Moraes brincou: “O resto foi conseguindo um habeas corpus.”

Essa minuta com propostas golpistas teria sido levada a Bolsonaro pelo ex-assessor Filipe Martins, que cuidava de Assuntos Internacionais, segundo Mauro Cid.

“Eu não estava na sala no momento em que foram feitas as alterações. Depois quando ele (Filipe Martins) saiu, que ele sentou do meu lado, ali que eu vi o documento. Aí já estava com as correções. Ele estava com o computador para fazer essas alterações solicitadas pelo presidente”, narrou Cid.

É a primeira vez que o ex-assessor fica frente a frente com o ex-presidente Jair Bolsonaro e antigos aliados que foram implicados por ele no plano de golpe.

Logo no início do depoimento, Cid foi questionado por Moraes se a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, era verdadeira. O tenente-coronel não respondeu objetivamente, mas declarou ter conhecimento dos planos golpistas. “Eu presenciei grande parte dos fatos, mas não participei”.

O ex-ajudante de ordens do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro,  Tenente coronel Mauro Cid, delator,   presta depoimento ao ministro Alexandre de Moraes
O ex-ajudante de ordens do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro, Tenente coronel Mauro Cid, delator, presta depoimento ao ministro Alexandre de Moraes

Mauro Cid também negou ter sido pressionado ou coagido pelas autoridades competente ao prestar depoimentos no seu acordo de colaboração premiada.

Cid foi questionado por Moraes sobre os áudios publicados pela revista Veja nos quais o militar e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro se queixava dos procedimentos da Polícia Federal (PF) e do próprio magistrado na condução das investigações.

“Eles (os policiais) queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu. Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a ver”, disse Cid nos áudios vazados.

Ao responder à pergunta de Moraes nesta segunda-feira, Cid afirmou que os áudios foram vazados sem o seu consentimento e se tratavam de “um desabafo de um momento difícil que eu e minha família estávamos passando”. O tenente-coronel atestou diante de Bolsonaro e de outros delatados que “em nenhum momento houve pressão” da PF.

“O que houve é: eles tinham uma linha investigativa e eu tinha outra visão do que aconteceu dos fatos. Houve esse jogo de depoimentos e respostas e perguntas. E realmente um pouco da frustração do que eu estava contando não estar dentro da linha investigatória da Polícia Federal”, afirmou.

Segundo Cid, as acusações foram feitas em um contexto de vazamento de informações dos seus familiares, dificuldades financeiras e destruição da sua carreira militar. “O que gerou uma crise pessoal, até mesmo psicológica, muito grande. O que nos leva a certos desabafos com amigos, com pessoas próximas, nada de maneira oficial, de maneira acusatória”, disse.

“Nesses áudios realmente eu critico generais, critico políticos. Saio atirando para tudo quanto é lado. Uma maneira de desabafar aquele momento ruim que a família estava passando”, completou.

O vazamento dos áudios deflagrou um crise em torno do inquérito do golpe. Os aliados de Bolsonaro passaram a cobrar a anulação da delação sob o argumento de que as informações prestadas não seriam legítimas pois teriam sido obtidas mediante coação. Em resposta na época, Moraes convocou Cid no STF para prestar novo depoimento no qual esclareceu as declarações do áudio vazado.

A reafirmação de que a delação foi feita de maneira voluntária e com consentimento desmantela um dos principais argumentos dos aliados de Bolsonaro contra o acordo.

 

 

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