‘O menino de ouro’ da Presidência da República mirou no general
O parentesco, em maior ou menor grau, é uma característica no Exército brasileiro. O tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, delator no processo que investiga a tentativa de golpe do 8 de janeiro, até se envolver na trama que pretendia manter o então presidente Jair Bolsonaro no cargo, era conhecido como “o menino de ouro”. Filho de um ex-integrante do Alto Comando, o general Mauro Cesar Lourena Cid, tinha tudo para fazer uma carreira brilhante no Exército.

Com essa credencial e a amizade do pai com Bolsonaro, pois ambos tinham sido colegas na Academia Brasileira das Agulhas Negras (Aman), Cid foi nomeado chefe dos ajudantes de ordens do presidente. A função lhe rendeu uma proximidade sem igual com o chefe a quem acompanhava dia e noite e passou a agradar ainda mais quando começou a filmar suas atividades no celular. A nova tarefa era bastante criticada pelos colegas que a consideravam inapropriada para o cargo que ocupava.
Ele nunca se incomodou e seguiu aumentando a camaradagem com o chefe. Bolsonaro, segundo assessores próximos, esperava de qualquer um, menos de Cid, que decidisse partir para uma delação premiada. Mas “Cid pai”, como é conhecido, estava envolvido no caso da venda das joias sauditas que o presidente ganhou em viagens. À época, ele, chefe da Apex em Miami, ajudou o amigo presidente a vender os objetos. Envolvido em outro processo, Lourena Cid e sua família passaram a pressionar o filho a concordar em delatar o chefe. Em troca, o pai teria um tratamento mais leve.
No depoimento desta segunda-feira, 9, pela primeira vez, Cid se encontrou com o ex-chefe. Foi tudo muito rápido. Mas suas respostas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes mostraram sutilmente que seu principal alvo não foi Bolsonaro – a quem acusou de ler e fazer modificações em uma minuta com detalhes sobre o golpe – mas o general reformado Braga Netto que já está preso. Não uma, mas várias vezes, Cid citou vários papéis do general nas ações que pretendiam derrubar a democracia no Brasil.