Um comércio que se popularizou nos últimos cinco anos, apesar de ser irregular, foram os cigarros eletrônicos. O produto, que não tem regulamentação e tem sua comercialização proibida no Brasil, se tornou um risco de saúde pública, principalmente no público mais jovem, que costumam ser os maiores consumidores. Sem procedência e sem saber com quais substâncias é feito, a Receita Federal vem trabalhando forte para apreender a droga e evitar seu comércio. Nos últimos cinco anos, as apreensões dispararam. Em 2023, mais de 1,1 milhão de unidades foram apreendidas. Na Bahia, de acordo com o órgão, o número de apreensões no ano passado foi de 868 unidades, no valor de mais de R$ 110 mil.
Atualmente no Brasil, segundo levantamento de 2023 do instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC), o número de consumidores já ultrapassa os 2,9 milhões. A equipe da Tribuna da Bahia entrevistou o presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), Edson Vismona, que explicou um pouco sobre a popularização dos cigarros eletrônicos no país e o aumento de consumidores. “O aumento significativo no consumo desse produto pode ser atribuído a diversos fatores, como a busca por alternativas ao cigarro tradicional, o crescimento do interesse de jovens, a percepção de menor impacto à saúde, acrescido pela facilidade de comercialização, seja em bancas de jornais, bares e meios digitais. Hoje é muito fácil ver as pessoas com esses dispositivos e a demanda atrai a oferta”, pontuou o presidente do FNCP.
Edson ainda destacou que um ponto preocupante que deve ser levado em consideração é que todos os cigarros eletrônicos consumidos no Brasil são contrabandeados. “O fumante que gostaria de migrar do cigarro convencional para o eletrônico não tem opção, só vai encontrar produto contrabandeado sem procedência, fiscalização ou controle sanitário. Isso destaca a necessidade de uma discussão mais ampla sobre regulamentação. A proibição pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) claramente não está sendo eficaz, apenas criou o monopólio do crime, um mercado exclusivo para a operação criminosa, sem qualquer segurança para o consumidor”, enfatizou Vismona.
O presidente do FNCP ainda ressaltou que o aumento do consumo tem impactado tanto na saúde pública, como na segurança pública. Segundo ele, a falta de regulamentação e fiscalização faz com que os produtos não tenham controle sanitário. Não sabendo o que está sendo consumido, qual a quantidades, além da possibilidade de haver inserção de elementos químicos que causam sérios danos e na questão da segurança, a alta lucratividade do contrabando de cigarros eletrônicos gera o financiamento de atividades criminosas, ampliando os riscos para a sociedade, além da questão da falta de arrecadação nos cofres públicos.
Os populares “vapes”, como são conhecidos os cigarros eletrônicos, são dispositivos criados para simular a sensação de fumar um cigarro comum. Contudo, devido a seus modelos com essências (sabores), se tornou febre entre os adolescentes. Conversamos com Margareth Dalcolmo, pneumologista, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e membro titular da Academia Nacional de Medicina (ANM) sobre os malefícios que este tipo de cigarro traz ao usuário. “A indústria tabagista cria propositadamente estes dispositivos em formatos como pen drives ou batons, trazendo a ilusão de que isso seria socialmente mais aceito e que não faz mal à saúde. Mas o malefício nos pulmões dos mais jovens e até em crianças é mais rápido. Os danos provocados pelos vapers são iguais ou piores do que os cigarros comuns. Tendo em vista que não há controle adequado da concentração de nicotina na qual são compostos estes produtos. Então não há dúvida que para um pulmão, que não está completamente maduro, estes dispositivos criam danos como uma bronquite crônica ou um eventual enfisema pulmonar. Com isso, o que vai acontecer no futuro é que vamos diagnosticar doenças pulmonares obstrutivas crônicas em gente décadas antes daquelas que são habitualmente as mais frequentes”, explicou Margareth.
A pneumologista ainda concluiu que esse alto consumo de cigarros eletrônicos pode se tornar um problema grave de saúde. Pois a geração dos jovens, os maiores consumidores e que precisam ser naturalmente a geração mais saudável, tem apresentado sintomas que estamos habituados a ver em pessoas décadas de idade a frente.
Fonte: Tribuna da Bahia