16 de agosto de 2025
Politica

Desembargador afastado do Tribunal de Mato Grosso do Sul tinha R$ 30 mil no porta-luvas da Cherokee

O desembargador Marcos José de Brito Rodrigues, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, tinha R$ 30 mil no porta-luvas do carro, um Jeep Cherokee, quando foi alvo de buscas em outubro na Operação Ultima Ratio. Ao todo, a PF apreendeu R$ 46 mil com o magistrado.

O Estadão busca contato com a defesa. O desembargador alegou nos autos que é vítima de “ilações” e “perseguição” da Polícia Federal.

Em relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal afirma que há “forte indício de se tratar de dinheiro produto de corrupção com a venda de decisões judiciais”.

“Nos dias atuais, dificilmente há justificativa para transitar com tal quantia em dinheiro”, argumenta o delegado federal Marcos André Araújo Damato, da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor) da PF em Mato Grosso do Sul.

A PF afirma ter provas “sólidas” da venda de decisões pelo magistrado em pelo menos sete processos. Cabe à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir se oferece ou não denúncia.

A defesa, por sua vez, alega que as buscas deveriam ser anuladas porque não há “contemporaneidade” na investigação. “Foram suscitadas apenas infundadas e desconexas dívidas quanto à atuação do acusado cm casos que remontam mais de dez anos”, defendem os advogados.

Marcos José de Brito Rodrigues está afastado das funções no Tribunal de Mato Grosso do Sul desde que foi alvo da Operação Ultima Ratio, em outubro de 2024.
Marcos José de Brito Rodrigues está afastado das funções no Tribunal de Mato Grosso do Sul desde que foi alvo da Operação Ultima Ratio, em outubro de 2024.

Conversas encontradas no celular do advogado Felix Jayme da Cunha abordam pagamentos a magistrados do Tribunal de Justiça do Estado, segundo a Polícia Federal. Um deles é chamado de “gordo”. Para a PF, trata-se de Marcos Brito.

“Que horas você vai depositar o do gordo? Aí já está me ligando aqui. Num fura hoje não, hein, Paulo?”, afirma o advogado em um dos áudios obtidos na investigação.

Em outro diálogo, o advogado afirma que “já levei ontem para o gordo, botei mais 5 mil para inteirar 15″. “Se o juiz negar, vamos recorrer e vai parar na mão do gordo”, acrescenta.

A defesa do desembargador alegou que “não seria crível que um julgador se corromperia por tal quantia”. Segundo a PF, os R$ 15 mil seriam uma parcela e não o total repassado ao magistrado em troca de suas decisões.

Em outra conversa, um advogado envia o número de um processo e pede a Marcos Brito que “olhe com carinho”. O desembargador então altera sua decisão. A defesa alega que nesse caso houve “mera adequação do julgamento”.

A Polícia Federal também descobriu que Marco Brito recebeu, “diversas vezes”, garrafas de whisky de outro advogado e decidiu a favor de clientes dele. O desembargador afirma que é “absurdo” imaginar que ele “se submeteria ao artifício de negociar sentença em troca de whisky”.

Além disso, segundo a PF, o desembargador favoreceu o ex-procurador de Justiça de Mato Grosso do Sul, Marcos Antônio Martins Sottoriva, em uma disputa fundiária sem nem ler o processo. Ele nega que a decisão tenha sido motivada pelo cargo do procurador.

O afastamento do magistrado foi renovado ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da Polícia Federal. Os desembargadores Alexandre Aguiar Bastos, Sideni Soncini Pimentel e Vladimir Abreu da Silva e o conselheiro Osmar Jeronymo, do Tribunal de Contas do Estado, também estão afastados por suspeita de corrupção.

 

 

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